Desde o início da semana passada que tudo parecia estar a caminhar sobre rodas para o aperto de mão mais desejado em muitas décadas pela economia planetária, entre Trump e o seu homólogo chinês, Xi Jinping.
Este aperto de mão deverá garantir a assinatura de um acordo para acabar com os ataques mútuos que foram iniciados por Washington, através da aplicação de tarifas em produtos importados da China, seguindo-se a resposta de Pequim.
Mais de 300 mil milhões de dólares em produtos Made in China importados pelos EUA carregam tarifas extra que vão de 15 a 20%, sendo que cerca de 100 mil milhões USD de bens Made in USA para a economia chinesa são taxados na mesma proporção.
Tudo isto, porque Trump prometeu em campanha eleitoral acabar com o "roubo" da China aos EUA que o próprio estima em 500 mil milhões USD devido a apoios ilegais do Estado às empresas privadas que exportam para os EUA. Ou ainda a questão do "roubo" de tecnologia norte-americana pelos chineses...
Este cenário resultou num claro abrandamento da economia mundial e, concomitantemente, numa diminuição da procura por petróleo, que, por sua vez, conduziu à esperada perda de valor da matéria-prima, com impactos negativos na economia mundial mas com especial vigor nas economias, como a de Angola, dependentes da exportação de crude.
Mas, nos últimos dias, tudo parecia estar a caminhar no sentido de limpar a economia mundial deste imbróglio, com boas perspectivas de um acordo, mas...
No Sábado, Trump, numa atitude que os analistas consideram desnecessária, veio dizer, sem nada que, aparentemente, o justificasse, que os EUA "só assinam um acordo com a China se esse for claramente no interesse dos EUA", embora antes tenha sublinhado que tudo estava a "correr muito bem".
Tão bem que tinha mesmo sido anunciado que os EUA poderiam levantar as sanções quase na totalidade por troca do aumento substancial das importações de produtos agrícolas norte-americanos pela China.
Mas, com o relançamento de dúvidas sobre o desfecho destas negociações, protagonizado por estas declarações inusitadas de Donald Trump, os mercados optaram por uma atitude defensiva e, na segunda-feira, o barril voltou a perder valor, embora de forma pouco acentuada, mantendo-se na casa dos 62 USD.
Porém, já hoje, o Brent, por exemplo, cujo barril vendido em Londres determina o valor médio das exportações angolanas, está a mostrar uma resiliência inesperada, com uma subida ligeira de 0,55%, para 62,52 USD, cerca das 14:00.
Certo, certo é que se Donald Trump não descodificar as suas intenções nas próximas horas, ou dias,, nomeadamente no que concerne ao anúncio da sua vontade em dar início ao processo de levantamento das sanções impostas à China, e que agora veio dizer que não será bem assim, o perigo de uma nova derrocada no valor do barril de crude pode materializar-se.
A dimensão gigantesca do que está em jogo pode muito bem ser exemplificada com o facto de as outras grandes economias mundiais, como, por exemplo, a alemã ou a japonesa, estarem claramente a mostrar perda de capacidade de resistência ao prolongamento desta contenda entre Washington e Pequim, mostrando sucessivos sinais de perda de vigor, chegando mesmo a indiciar sinais de recessões.
OPEP, e agora?
Isto, porque as duas economias em questão, a chinesa e a norte-americana não são apenas as duas maiores potências planetárias, são aquelas que mais influenciam as restantes e são determinantes para o futuro dos países que dependem das suas exportações de petróleo, que, sendo Angola um bom exemplo, pela crise robusta que atravessa, não é o único. Também o são a Nigéria ou a Arábia Saudita, a Rússia, a Venezuela, o Irão ou o Iraque.
A Organização de Países Exportadores de Petróleo (OPEP) reúne 14 membros, na generalidade dependentes da venda de crude, tendo, desde 2017, agregado em função de interesses similares, países como a Rússia e o Cazaquistão, ou ainda o México, com cortes na produção para manter o equilíbrio entre a oferta e a procura, evitando assim perdas de valor acentuadas.
Primeiro, em Janeiro de 2017, 1,8 milhões de barris por dia (mbpd) e, agora, desde o início deste ano, 1,2 mbpd, no âmbito do acordo ad hoc entre a OPEP e os seus aliados não-membros que deu lugar à denominada OPEP+, foi possível retirar o barril de crude de valores abaixo de 30 USD no Brent londrino - em Fevereiro de 2016 -, mas mantendo-se, mesmo assim, longe dos 100 de onde caiu em meados de 2014, dando origem à actual crise angolana e além-fronteiras no universo dos países produtores.
Para lidar com esta nova realidade, a OPEP+ vai voltar a reunir em Viena de Áustria no mês de Dezembro, onde estará como ponto principal em cima da mesa a provável extensão dos cortes para lá de Março de 2020, que actualmente estão nos 1,2 mbpd.
O prolongamento é visto como mais que provável pela generalidade dos analistas, mas o aprofundamento destes, sendo uma possibilidade, é encarada como remota.
No entanto, este controlo sobre a produção é uma questão premente entre os países produtores, OPEP e OPEP+, porque, nas últimas duas semanas, entre o Irão e os Emirados Árabes Unidos foram anunciados reservas de pelo menos mais 60 mil milhões de barris, o que, sem este tipo de "garrote", poderia gerar uma derrocada nos preços.
E os esforços da OPEP+ são ainda justificados porque novas descobertas são estimadas para breve. Isto, porque estão agora a ser revelados os resultados da retoma dos investimentos em pesquisa feitos pelas multinacionais do sector, que tinham posto esses mesmos investimentos em stand by entre 2014 e 2017/18 devido ao baixo valor do barril.