Mas, se isso é verdade para esta segunda-feira, 23, augurando uma semana bem melhor que as da primeira metade deste mês de Setembro, provavelmente não o será para os próximos dias, ou semanas, com o bravejar das armas entre Israel e o Hezbollah, no Médio Oriente.

É como se os media especializados no sector energético, e no crude em particular, soubessem mais do que dizem, porque é sabido que o Médio Oriente responde por mais de 35% do petróleo consumido no mundo...

E qualquer perturbação no mapa essencial da sua distribuição, da extracção, à distribuição, até aos consumidores, o que o caso do Médio Oriente, em caso de guerra alargada envolvendo o Irão, é quase inevitável, porque está quase tudo dependente de dois estreitos, o de Ormuz, no Golfo Pérsico, e o de Bab al-Mandab, que liga o Mar Vermelho/Canal do Suez ao Golfo de Aden/Índico...

E seja qual for destes pontos em que se estiver a pensar, o Irão, de quem o Hezbollah depende grandemente, e também os Houthis, do Iémen, tem o poder de fechar de um dia para o outros, garantindo um imediato caos energético global.

E isso, o envolvimento do Irão numa guerra directa com Israel, está mesmo, mesmo muito perto de acontecer, havendo mesmo alguns analistas que defendem que esse é já o caso, com Israel a atacar em larga escala o Hezbollah, preparando uma incursão no sul do Líbano, o bastião do grupo xiita.

E não esquecer que em fundo a todo o imbróglio regional está a suspensa retaliação pelo Iraque directamente contra Israel pelo assassinato de Ismail Haniyeh, líder do Hamas, em Teerão, em Julho, cujas razões para esta estratégia estão ainda por perceber integralmente mas que será devido à geoestratégia global, incluindo a guerra na Ucrânia e as eleições nos EUA, a 05 de Novembro.

O que os mercados estão a dizer é que a questão dos cortes nas taxas de juro nos EUA, 0,5%, na semana passada, é mais relevante que o caos no Médio Oriente e até que as terríveis notícias que chegam da economia chinesa e também dos EUA... especialmente no que diz respeito ao emprego. E é, para já... mas tudo pode mudar de um momento para o outro.

Mesmo mais que as quebras na economia europeia, cuja produção industrial, que era sustentada pela energia russa barata e que agora, devido ás sanções por causa da guerra na Ucrânia, deixou de estar disponível, especialmente na Alemanha, França e norte industrial da Itália.

Seja como for, em Luanda pode-se agora respirar ligeiramente melhor, porque em Novembro, data de inserção dos novos preços nos contratos, o barril vai valer, embora existam distorções próprias deste negócio, 74,46 USD, mais 1,09% que no fecho de sexta-feira última, reportando aos valores registados perto das 14:00 de hoje, hora de Luanda.

Isto, quando, recorde-se, ainda há pouco mais de uma semana, o barril de Brent, a referência principal para as ramas exportadas por Angola, chegou a valer pouco mais de 68 USD.

Esta diferença é substantiva para as contas angolanas porque, afogado numa crise cambial quase sem paralelo na sua história, o país tem igualmente um problema de inflação galopante e um crescente compromisso com a dívida externa... sendo que o crude ainda é responsável por mais de 94% do total das suas exportações.

Para as contas de Angola

... que é um dos produtores e exportadores que mais dependem da matéria-prima em todo o mundo, devido à escassa diversificação económica, este cenário na geoestratégia do crude não é augúrio de tempos fáceis mas representa um alívio momentâneo.

Mas, para já, ter o Brent quase nos 75 USD, claramente acima do valor médio usado para elaborar o OGE 2024, 65 USD, garante alguma capacidade para diluir alguns dos efeitos devastadores da crise cambial e inflacionista, até porque o país enfrenta também o problema da persistente redução da produção diária.

Com OGE 2024 elaborado com um valor de referência médio para o barril de 65 USD, estes valores renovam parcialmente o optimismo dos últimos meses e, por isso, aumentar a produção é ainda mais o factor-chave.

O que ficou mais fácil depois de Angola ter, em Dezembro de 2023, anunciado a saída de membro da OPEP, o que deixa um eventual acréscimo da produção fora dos limites impostos pelo cartel aos seus membros como forma de manter os mercados equilibrados entre oferta e procura.

O crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo.

O Governo deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, actualmente perto dos de 1,12 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.

O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.

Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.

Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.

A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.