Enquanto maior economia do mundo, como sempre acontece, os Estados Unidos da América ainda são preponderantes no reflexo do sobe e desce da sua pujança financeira sobre os mercados da energia globais, e o anúncio de novos aumentos nas taxas de juro sobrepuseram-se a alguns dados que costumam ter o efeito contrário.

Quando a China, a segunda maior economia global e o maior importador de crude do mundo, anuncia dados positivos para a sua produção industrial, como em sido o caso, especialmente desde que deixou de lado as fortes restrições à mobilidade devido aos confinamentos anti-Covid, o barril sobe, e isso tem estado a acontecer...

Mas nem mesmo assim foram evitadas as perdas registadas nos gráficos do Brent, em Londres, que serve de principal referência para as ramas exportadas por Angola, com o barril a atingir na quinta-feira os 82,34 USD, perto das 12:00, hora de Luanda, contrastando com os quase 87 da passada segunda-feira.

Alias, as ameaças sobre a economia global, com vários países a mostrarem sérias dificuldades em debelar a historicamente alta inflação, dos EUA à União Europeia, e com recessões em curso, como Suécia e Alemanha, embora ligeiras, ou a ameaçar, como nos Estados Unidos, estão a transformar as perspectivas positivas da OPEP e da AIE para 2023.

Tanto o cartel da OPEP como a agência de energia, apontaram recentemente para aumentos da procura, e, segundo algumas casas financeiras internacionais, como a Goldman Sachs, a o barril vai chegar aos 100 USD/barril nos próximos meses... mas a resiliência da inflação pode fazer desmoronar este castelo de cartas criado nas últimas semanas.

A reduzir a potência da queda estão os dados positivos da China, com expectativas de aumento da procura devido ao relançar da sua actividade comercial e industrial.

Mas, como nota a Reuters, ainda são as palavras do presidente da Reserva Federal dos EUA, Jerome Powel, pronunciadas no início da semana, apontado para um aumento das taxas de juro superior ao que era esperado pelso analistas, como forma de combater a inflação, que estão a conduzir o sector petrolífero por o actual caminho estreito e íngreme.

Mas, até ver, para Angola, com o barril a aguentar-se acima da fasquia dos 80 USD, este ainda é um bom momento.

Este cenário é especialmente importante para Angola porque, apesar da diminuição continuada da produção nacional, ainda depende em grande medida do seu sector energético, considerando que o crude representa mais de 90% das suas exportações, perto de 30% do PIB (tem vindo a descer nos últimos anos o peso do sector) e mais de 50% das receitas fiscais do Estado, sendo certo que o sector do gás natural já é uma importante fonte de receitas, superando mesmo o diamantífero.

Aliás, o Governo de João Lourenço, que elaborou o seu OGE para 2023 com um preço de referência para o barril nos 75 USD, tem ainda como motivo de preocupação a divulgação em Novembro de 2022 de um relatório da consultora Fitch Solutions, onde se antecipa uma redução da produção de petróleo na ordem dos 20% na próxima década, com origem no desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair.