A insuflar as velas deste navio carregado de combustível estão as expectativas escaldantes para o Verão no Hemisfério Norte onde as famílias das grandes economias, como os EUA, partem para férias, aumentando os voos e as viagens de carro em números estratosféricos.
O consumo de crude percebe-se facilmente quando sobem os números de voos, especialmente nas longas viagens internas ou mesmo intercontinentais, porque, por exemplo um Boeing 777-300 consome até 50 mil litros de combustível numa viagem de cerca de 8 horas, entre Luanda e Lisboa, mas já é menos perceptível o consumo gerado por viaturas.
Mas é este segmento das viagens de férias nos EUA que despoleta grande parte do aumento do consumo de petróleo durante este período do ano na maior economia do mundo.
Isto, porque são literalmente dezenas de milhões de famílias que partem em férias por centenas ou mesmo milhares de quilómetros nos seus carros de grande cilindrada e enorme sede por gasolina.
Apesar dos enormes solavancos gerados pelos conflitos em Gaza ou na Ucrânia, pelas subidas e descidas das taxas de juro nos EUA e na Europa, a matéria-prima que ainda é o grande contribuinte para as divisas em Angola tem-se mantido firme, em média, acima dos 80 USD há já largos meses, mesmo no último ano.
E apesar de um Outlook generalizado de aumento da produção, especialmente nos exportadores fora do cartel da OPEP+, como o Brasil, a Guiana ou os EUA, especialmente no seu sector do fracking, o barril tem sido sustentado por uma igualmente constante actualização por cima dos níveis de consumo no mundo.
Por exemplo, recentemente a Agência Internacional de Energia apontou num documento citado pela Reuters que até 2029 o consumo global vai passar dos actuais 103 milhões de barris por dia (mbpd) para os 106 mbpd.
E já este ano de 2024, apesar de menos que o previamente estimado, o consumo histórico tem crescido, sendo de 890 mil bpd no primeiro quadrimestre, referem ainda as agências.
E é assim que, ao início da tarde deste terça-feira, 18, o barril de Brent estava a caminho dos 85 USD, nos 84,50 USD, perto das 14:20, hora de Luanda, subindo ligeiramente, 0,26%...
O que é uma boa notícia para as contas angolanas
... apesar de ter abandonado a OPEP recentemente, Angola é um dos produtores e exportadores que mais dependem da matéria-prima em todo o mundo, devido à escassa diversificação económica.
E ter o Brent nos 84 USD, bastante acima do valor médio usado para elaborar o OGE 2024, 65 USD, permite diluir alguns dos efeitos devastadores da crise cambial e inflacionista, até porque o país enfrenta também o problema da persistente redução da produção diária.
Com OGE 2024 elaborado com um valor de referência médio para o barril de 65 USD, estes valores actuais permitem um relativo optimismo, mas aumentar a produção é o factor-chave, o que ficou mais fácil depois de Angola ter, em Dezembro passado, anunciado a saída de membro da OPEP, o que deixa um eventual acréscimo da produção fora dos limites impostos pelo cartel aos seus membros como forma de manter os mercados equilibrados entre oferta e procura.
O crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo.
O Presidente da República, João Lourenço, deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, actualmente perto dos de 1,12 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.
O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.
Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.
Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.
A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.