O ataque a um campo desportivo na região ocupada por Israel nos Montes Golã, que fez 12 mortos e ameaça explodir numa guerra aberta entre Israel e o Hezbollah, contra o que seria de esperar, não está a fazer inverter o ritmo de queda nos mercados petrolíferos.
Mesmo que em causa esteja o alastramento da guerra - pode ver aqui - para o Médio Oriente, com o envolvimento do Irão, incendiando a região que produz mais de 35% do crude consumido no mundo, os mercados não estão a responder com uma subida do valor da matéria-prima.
O que está então a levar a esta inesperada reacção?
A vitória suspeita, pelo menos no ocidente, de Nicolás Maduro na Venezuela não tem esse poder, mesmo que se trate do país com as maiores reservas do mundo, 300 mil milhões de barris, porque, pragmaticamente, este era o desfecho mais certo para a novela eleitoral venezuelana.
A Reuters diz que os analistas dos mercados continuam a monitorar a situação no Médio Oriente, porque é sensato fazê-lo, especialmente depois de o Governo israelita ter anunciado que dará uma resposta devastadora ao ataque atribuído ao Hezollah.
Mas o facto de o movimento xiita próximo do Irão estar a negar a autoria do lançamento do roquete que matou as 12 crianças e jovens drusas nos Montes Golã, pode estra a gerar dúvidas sobre as razões por detrás do receio de um crescendo nas tensões.
Com os gráficos nos mercados a contrariarem a sensibilidade de muitos analistas quanto à continuada queda no valor do barril, a lupa vira-se para o suspeito do costume e... bingo... é a China que está a travar uma escalada nos gráficos apesar da escalada do conflito Israel/Hezbollah.
Do gigante asiático continuam a chegar dados de um enfraquecimento da sua robustez económica, com uma relevante quebra no volume das importações de fuel de 11 por cento na primeira metade de 2024.
E quando este país importa diariamente 11 milhões de barris, a perda de vitalidade da máquina queimadora de energia tem mais impacto nos mercados que o risco de um
Um dado que pode influir neste xadrez é se os EUA não aceitarem os resultados na Venezuela e voltem atrás na possibilidade de levantamento das sanções à Venezuela, o que permitiria injectar mais, pelo menos, um milhão de barris nos mercados.
Porém, todo este contexto pode mudar no momento em que, se tal vier a suceder, Israel lançar a sua ofensiva de larga escala no sul do Líbano para atacar as posições do Hezbollah, porque tanto o Governo libanês como o Iraniano já avisaram que o movimento xiita não ficará sozinho a combater as forças israelitas.
Para já, quem sofre é o barril que, no caso do Brent, a referência principal para as exportações angolanas, estava esta terça-feira, 29, perto das 10:10, hora de Luanda, a valer 79, 6 USD, uma perda de 0,28 %, configurando, estava a 04 de Julho nos 87,45 USD, a entrada em pleno na 4ª semana consecutiva de perdas..
Perante tanto tempo de perdas sucessivas, alguns analistas admitem já que por detrás destes números pode estar uma razão mais estrutural, faltando decifrá-la.
Para as contas de Angola
... que é um dos produtores e exportadores que mais dependem da matéria-prima em todo o mundo, devido à escassa diversificação económica, podem ser péssimas notícias.
Mas, para já, ter o Brent nos 79 USD, ainda bastante acima do valor médio usado para elaborar o OGE 2024, 65 USD, continua a permitir diluir alguns dos efeitos devastadores da crise cambial e inflacionista, até porque o país enfrenta também o problema da persistente redução da produção diária.
Com OGE 2024 elaborado com um valor de referência médio para o barril de 65 USD, estes valores actuais permitem um relativo optimismo, mas aumentar a produção é o factor-chave, o que ficou mais fácil depois de Angola ter, em Dezembro passado, anunciado a saída de membro da OPEP, o que deixa um eventual acréscimo da produção fora dos limites impostos pelo cartel aos seus membros como forma de manter os mercados equilibrados entre oferta e procura.
O crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo.
O Governo deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, actualmente perto dos de 1,12 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.
O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.
Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.
Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.
A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.