Basta abrir uma televisão num qualquer canal de notícias e as imagens de extensos mantos de neve nos Estados Unidos e rios congelados na Europa garantem que milhões de pessoas lutam para se aquecerem, o que é o mesmo que dizer mais petróleo e gás queimados.

Curiosamente, na maior economia do mundo, e ainda o maior consumidor de crude global, os EUA, estão com duas frentes dramaticamente distintas em relação ao clima, com fogos imparáveis na Califórnia e gelo sem fim no centro-norte, o que pode também influir nos preços da energia fóssil no futuro.

Isto, porque tanto o frio como os fogos mais devastadores em décadas naquele país são, sem margem para dúvida, resultado das alterações climáticas, que Donald Trump nega serem reais e, por isso, aposta tudo em "drill, baby drill", que é o mesmo que dizer que o Presidente-eleito dos EUA pode ser forçado a pensar de novo nessa aposta de permitir uma escalada na produção petrolífera nacional, mesmos sendo já os EUA o maior produtor mundial.

E foi neste cenário, onde também desponta a questão das novas sanções euro-americanas às exportações de crude e gás russo e iraniano, que o barril de Brent, a principal referência para as amas exportadas por Angola, atingiu esta manhã de sexta-feira, 10, valores que não se viam desde meados de Outubro do ano passado.

Assim, cerca das 11:30, hora de Luanda, o barril de Brent atingiu os 78,70 USD, uma subida de 2,30% face ao fecho anterior, uma tremenda boa notícia para o Governo angolano, que vive momentos de enorme aperto como o demonstram as recentes notícias de recurso a novos créditos de emergência.

E este registo não surge do acaso, esta semana chega ao fim cumprindo três semanas consecutivas de subidas relevantes, atingindo mesmo 7,5% neste período, no que diz respeito ao Brent, tendo mesmo chgado aos 8.5 no WTI de Nova Iorque.

Os analistas admitem mesmo que esta subida não vai ficar por aqui, pelo menos nestes primeiros meses do ano, porque o Inverno no Hemisfério Norte parece ter montado acampamento na Europa e na América do Norte, o que impulsiona de forma robusta o consumo de combustíveis fosseis para aquecimento.

Como Luanda olha para este cenário global?

O actual cenário internacional tende a manter os preços acima do valor médio estimado no OGE 2025, que é de 70 USD.

Preços estes que ainda estão a grande distância dos que foram atingidos no pico do ano de 2024, que aconteceu em Abril, quando chegou perto dos 92 USD por barril, ou mesmo, mais recentemente, em Outubro, onde esteve nos 80 USD, quando as contas nacionais respiravam mais à-vontade.

Essa a razão pela qual Angola é um dos países mais atentos a estas oscilações, devido à sua conhecida dependência das receitas petrolíferas, e a importância que estas têm para lidar com a grave crise económica que atravessa, especialmente nas dimensões inflacionista e cambial.

No entanto, porque o OGE nacional elaborado para 2025 com um valor médio estimado de 70 USD, o actual preço do Brent ainda deixa as contas nacionais a balancear porque qualquer desequilíbrio pode afectar negativamente a capacidade de responder aos desafios crescentes com a dívida, a inflação ou a crise cambial..

Isto, porque o crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo.

O Governo deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, actualmente perto dos de 1,1 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.

O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.

Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.

Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.

A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.