A ajudar a este impulso nos gráficos dos mercados internacionais está ainda a expectativa partilhada pela generalidade dos analistas de que o relatório que a OPEP vai divulgar ainda hoje confirme o bom momento da matéria-prima e a continuação da crescente procura motorizada pelo bom momento da economia global que está agora claramente na recta final da crise gerada pelo "confinamento" do planeta pelo Sars CoV-2.
E o "ida", um dos mais devastadores furacões que atingiram os EUA em muitos anos, apesar de já ter passado pela região há duas semanas, entupiu até hoje a esmagadora maioria das plataformas do Golfo do México, provocando um défice de fornecimento à maior economia do mundo e ao maior produtor planetário de petróleo na actualidade devido às restrições auto-impostas pela Arábia Saudita e pela Rússia no âmbito da OPEP+ como forma de equilibrar os mercados severamente fustigados pela pandemia desde Março de 2020.
Desta forma, tanto o WTI, em Nova Iorque, como o Brent, em Londres, as duas mais importantes referências globais, estão hoje a iniciar a semana em alta, com o Brent a subir, perto das 09:45 de Luanda, 0,97% face ao fecho de sexta-feira, para os 73,63 USD, enquanto o WTI se alcandorava claramente acima dos 70 USD, 70,40 USD, mais 0,98% que no encerramento da última sessão.
No imediato, estas, os efeitos do "ida" e o aumento consolidado da procura no rasto da diluição dos efeitos pandémicos, a diminuição dos stocks nos Estados Unidos e noutras grandes economias, e, apesar de alguns altos e baixos, a consolidação das importações por parte da China, a segunda maior economia mundial e o maior importador de petróleo, como resposta à recuperação do seu sector exportador, são as razões que estão a fazer brilhar a matéria-prima que faz mexer, ainda, o mundo, mas em pano de fundo mantem-se o mesmo de sempre, o sólido controlo da OPEP+ sobre a produção de forma a não inundar os mercados com excesso de crude.
E isso mesmo deverá ser confirmado ainda hoje, como apontam os analistas citados nos sites especializados e nas agências, com a divulgação do relatório da OPEP onde o "cartel" faz uma radiografia mensal ao mercado e projecta valores estimados para a procura no médio prazo.
Mas o elefante "invisível" na sala é ainda o Irão, cujas exportações ameaçam a qualquer momento criar problemas a este frágil "ecossistema" porque, por exemplo, o "ida" retirou do "pipeline" global pouco mais de 1,2 milhões de barris por dia (mbpd) mas se Teerão, além da reaproximação diplomática à Arábia Saudita, levar a bom porto as negociações em curso com os EUA, China, Rússia e União Europeia para a retoma total do acordo nuclear "embargado" pelo ex-Presidente dos EUA Donald Trump e agora em vias de ser reactivado pela Administração Biden, podem chegar de um momento para o outro mais 3 mbpd e até 5 mbpd que é a capacidade máxima actual do gigante persa.
Para já, segundo relatam os media internacionais, as negociações vão de vento em popa e espera-se a qualquer momento, mais semana menos semana, uma declaração conjunta a anunciar isso mesmo. Quando isso suceder, dificilmente a OPEP+ poderá evitar uma quebra nos preços sem mexer na produção e nos planos actuais de retoma gradual que se situa nos 400 mil bpd mensalmente e até 31 de Dezembro. Isto, se não houver alterações de monta pelo caminho...
Mas este cenário é como açúcar no café da economia angolana, que só tem no aumento do valor do barril uma defesa contra a degradação continuada do seu sector extractivo, que tem vindo a cair de forma severa desde 2014 - o ano do início da crise actual e que é uma das mais severas de sempre no País - apesar dos esforços do Executivo em gerar legislação mais amiga do investimento externo que permita aliviar a o declínio na produção que é hoje inferior a 1,2 mbpd, em rude contraste com os 1,8 mbpd dos idos de 2008/2009.
Sendo Angola um dos países na linha da frente das repercussões do sobe e desce dos mercados petrolíferos, devido à sua dependência das exportações de crude para o equilíbrio das suas contas - o petróleo ainda é responsável por mais de 94% das exportações e mais de 60 por cento dos gastos do Executivo e acima de 50% do PIB.
Angola e o futuro breve
Este cenário de recuperação permite algum optimismo nas contas nacionais mas ainda longe de um regresso ao patamar alcançado a partir de 2008, com o barril, como exemplo, a chegar aos 147 USD no Verão desse mesmo ano, permitindo um boom económico como nunca visto até ali.
A produção actual, em constante declínio, está abaixo dos 1,2 mbpd devido ao desinvestimento das "majors" a operar no offshore nacional, especialmente a partir de 2014, quando se verificou uma quebra abrupta do valor do barril, que passou de mais de 120 USD para menos de 30 dois anos depois, em 2016, bem como devido ao esgotamento/envelhecimento dos campos mais activos.
Apesar das mudanças substanciais na legislação referente ao sector e às alterações profundas nesta indústria decisiva para o País, a produção tem vindo a perder viço especialmente por causa da deterioração da infra-estrutura produtiva que desde 2014 viu os investimentos das "majors" descer, a fraca aposta na pesquisa por novas reservas e o envelhecimento de alguns dos mais importantes poços activos no offshore nacional.
Para já, com o barril acima dos 73 USD, o Executivo de João Lourenço conta com uma folga de mais de 34 USD em cima dos 39 USD que foi o valor usado como referência para a elaboração do OGE 2021, o que permite encarar com maior optimismo esta saída esperada da crise mundial, apesar dos fortes constrangimentos que a economia nacional enfrenta.
E, no âmbito do esforço do Governo para que o País não deixe de estar no radar dos investidores, aprovou em Conselho de Ministros um diploma de define regras e procedimentos para a atribuição de concessões petrolíferas em Regime de Oferta Permanente.
Isto vai permitir a promoção e negociação de blocos licitados não adjudicados e, segundo o comunicado deste CM, o documento legal permitirá permanentemente "a promoção e negociação de blocos licitados não adjudicados, de áreas livres em blocos concessionados e de concessões atribuídas à Concessionária Nacional, para potencializar e atrair investimentos nas actividades de exploração e produção de petróleo e gás natural, mediante o procedimento de concurso público".