Se a autoria do ataque pertence a Israel ou, como garante Telavive, foi um ataque falhado da Jihad Islâmica, isso é, no imediato, irrelevante para os mercados petrolíferos em todo o mundo, mas, mais tarde, quando a verdade vier ao de cima, então sim, o Médio Oriente pode transformar-se num mar de chamas.

Se o ataque foi de Israel, como garantem os palestinianos, e os embaixadores árabes na ONU já vieram dizer não terem dúvidas disso, praticamente todos, dificilmente deixará de haver uma reacção musculada e em uníssono do mundo árabe, que esta esta quarta-feira reunido de emergência no Cairo, Egipto, e onde não é difícil de perceber que em cima da mesa está responder a essa pergunta.

Se foi o Hamas ou, como procura empenhadamente demonstrar e provar Israel, a Jihad Islâmica, a disparar o ou os roquetes que levaram morte e sofrimento numa dimensão inaudita ao único hospital cristão de Gaza, então, provavelmente, os ânimos irão serenar e desinflamar o Médio Oriente.

Para já, a subida de quase 3% no barril de Brent, que interessa a Angola porque é a principal referência para as ramas exportadas pelo país, mostra que prevalece, nestas primeiras horas, a tese inicial de que foi uma munição mal calculada disparada por um avião de guerra israelita, uma das milhares despejadas em Gaza desde o ataque do Hamas ao sul de Israel a 07 de Outubro, que provocou mais de 1.400 mortos entre os habitantes judeus da região.

E a subida no valor do barril, que estava, perto das 12:30, desta quarta-feira, 18, hora de Luanda, nos 92,21 USD, mais 2,57% que no fecho de terça-feira, só não foi mais expressiva porque, logo após a sua chegada a Telavive, numa deslocação eivada de risco para a sua própria segurança, o Presidente dos EUA, Joe Biden, que tem todo o interesse económico em manter a matéria-prima o mais barata possível, afirmou estar na posse de informação que demonstra que foi "a outra equipa", ou seja, os terroristas palestinianos, que dispararam contra o hospital.

É nesta corda-bamba que tem no chão sobre o qual balança o risco de alastramento de uma guerra, especialmente com as ameaças já feitas pelo Irão e pelo seu braço de guerra na região, o Hezbollah, no sul do Líbano, que o barril de crude procura o equilíbrio de forma a não se estatelar sobre um mar de chamas.

Todavia, como há muito se sabe, o Médio Oriente não é o chão mais firme para fazer projecções no tempo, nem sequer tentar adivinhar o dia seguinte, mas há geografias menos voláteis e nas quais se pode plantar mais certezas, como a economia chinesa, que está igualmente a ter um papel de relevo na valorização do petróleo.

Com efeito, os últimos dados divulgados oficialmente pela China, segundo Irina Slav, do site OilPrice, apontam para um crescimento da economia do gigante asiático mais rápido que o que era esperado pelos analistas no 3º trimestre, o que é sempre recebido com agrado pelos mercados porque mais crescimento em Pequim, mais crude importado por aquele que é o maior, de longe, comprador de energia do mundo.

E do lado dos EUA, a maior economia do mundo e o maior consumidor de petróleo, também chegam boas notícias para os países exportadores, especialmente os que possuem as economias mais petrodependentes, como é o caso de Angola, que anunciaram uma ruptura de 4 milhões de barris nas suas reservas quando os analistas esperavam uma redução de apenas 1 milhão.

Em Angola, as contas são simples de fazer

Para Angola, que é um dos produtores e exportadores que mais dependem da matéria-prima em todo o mundo, devido à escassa diversificação económica, manter o Brent acima dos 90 USD permite diluir os efeitos devastadores da crise cambial e inflacionista e gera superavit relevante face ao valor de 75 USD por barril com que foi elaborado o OGE 2023.

O petróleo representa hoje mais de 90% das suas exportações, corresponde até 35% do PIB e garante cerca de 60% dos gastos de funcionamento do Estado.

O Presidente da República, João Lourenço, deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de maner a produção nacional acima de 1,1 mbpd com os campos "Ndola Sul", "Agogo Fuel ou os projectos "Begónia", "Cameia" e "Golfinho", gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.

O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década.

Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.

Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.

A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.