Depois de perdas avultadas entre segunda-feira e quarta-feira, passando de mais de 83 USD para os 74.40 USD, mais 0,72 % que no fecho de quarta-feira, a que estava esta manhã, perto das 10:45, hora de Luanda, a ser vendido, os mercados petrolíferos puderam respirar com relativo alívio.
A contrariar este alívio dos dias anteriores está o facto de se sentir ainda uma forte volatilidade, com um permanente sobe e desce, mesmo que sempre no verde.
Isto, porque foi injectado "oxigénio" no banco suíço, um dos maiores do mundo, com perto de 550 mil milhões de activos, através de um empréstimo de cerca de 55 mil milhões USD em francos suíços, pelo Banco Nacional helvético, aliviando receios de um colapso catastrófico.
A ajudar a esta reviravolta esteve ainda a Goldman Sachs que, para travar a derrocada, divulgou um relatório onde avança que a China vai crescer mais do que o esperado, o que tem sempre como resultado um impulso no valor do barril de crude porque se trata do maior importador do mundo e toda a sua estrutura económica mais relevante assenta na transformação e produção fabril e tecnologia, grandes consumidores de energia.
E foi neste contexto que o mundo acordou esta quinta-feira, 15, com os gráficos dos mercados do petróleo no verde.
Recorde-se que por detrás deste cenário de minicrise, que ainda não está totalmente ultrapassado, esteve o colapso, no passado fim de semana, de dois pequenos bancos criptodependentes, o Signature e o Silvergate, e o bem mais relevante Silicon Valley Bank, com forte dependência no universo das startups e que foi vítima das subidas extraordinárias das taxas de juro pela Reserva Federal dos EUA, que conduziu a uma perda substantiva do valor dos seus investimentos em obrigações.
Após este momento de pânico nos Estados Unidos, o medo atravessou o Atlântico e instalou-se em Zurique, na Suíça, cidade sede do Credit Suissse, depois de o maior accionista o Banco Nacional da Arábia Saudita, maior accionista, com perto de 9%, se ter recusado a injectar mais dinheiro para suprimir défices de tesouraria, abrindo as portas ao pandemónio que se seguiu.
Mas não foi só o sistema financeiro a vir em socorro da banca, também os protagonistas do universo do negócio do petróleo recorreram aos seus arsenais de persuasão para aliviar o nó da corda que estava, e ainda está, no pescoço do sector petrolífero.
Enquanto a OPEP divulgava um relatório onde abre perspectivas positivas para o consumo de energia ao longo de 2023, com mais 2,32 milhões de barris por dia (mbpd), a Agência Internacional de Energia foi mais longe, e, num documento semelhante, precisou que este ano o consumo global de petróleo vai ultrapassar os 102 mbpd.
Estes números são importantes, na prática e simbolicamente, porque apontam para um patamar de procura acima do que existia antes deste ciclo sucessivo de crises, com a pandemia da Covid-19, em Fevereiro de 2020, e com a guerra na Ucrânia, em Fevereiro de 2022.
Este "rebound" nos mercados é um alívio também para Angola porque o crude ainda representa mais de 90% das suas exportações, mais de 30% do seu PIB e até 60% das suas receitas fiscais.
O momento mantém-se preocupante porque, além da diminuição continuada da produção nacional, soma-se agora uma perda acentuada de valor do barril, que ainda estava esta manhã, 15, abaixo do valor de referência usado pelo Executivo na elaboração do OGE 2023.
O Governo de João Lourenço, que elaborou o seu OGE para 2023 com um preço de referência para o barril nos 75 USD, tem ainda como motivo de preocupação a divulgação recente de um relatório da consultora Fitch Solutions onde se antecipa uma redução da produção de petróleo na ordem dos 20% na próxima década.
Isso, fruto do desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair.