O reforço do dólar face às restantes principais moedas, como o euro ou o iene japonês, tem como efeito imediato a necessidade dos países precisarem de mais moeda nacional para pagar as importações de crude, geralmente pagas em USD, o que faz baixar o preço da matéria-prima nos mercados.

Não é, porém, apenas por isso que o barril de Brent estava a valer hoje, perto das 11:00, hora de Luanda, 104,6 USD, um tombo de quase 10 dólares face ao máximo de segunda-feira, enquanto o WTI, em Nova Iorque, valia, à mesma hora, 101,9 USD, observando uma queda semelhante, embora as duas referências já estivessem em acelerada queda nas últimas horas da sessão de segunda-feira.

Estão ainda subjacentes a estas perdas mais dois motivos de força maior, o regresso dos confinamentos em massa na China, especialmente em Xangai e Pequim, aprisionando na dúvida o maior importador global de crude do mundo e a 2ª maior economia planetária, bem como o receio de uma recessão nos EUA, a maior economia mundial, por causa dos efeitos da guerra na Ucrânia, que levou a recordes de décadas na inflação, atingindo especialmente os combustíveis e os alimentos, sendo que também a Europa corre esse risco.

E esse medo de uma inflação descontrolada levou a Reserva Federal norte-americana a iniciar uma planeada subida de juros, tendo na quarta-feira da semana passada subido em 50 pontos base, em conformidade com as espectativas dos analistas, sendo a maior escalada em mais de duas décadas, sendo o objectivo até final do ano atingir os 3%, o que representa uma guerra total à inflação que já está acima dos 8%, fasquia que não era atingida desde finais da década de 1980.

Com este cenário global a apresentar riscos a que o mundo já estava a desabituar-se com o aligeiramento dos efeitos pandémicos da Covid-19, os dados da economia chinesa, avança a Reuters, ressentem-se dessa deterioração e isso impacta com agressividade imediatamente nas suas importações de crude no rasto das perdas do lado das exportações, que também estão a observar baixas importantes no ritmo do seu crescimento, embora este permaneça claramente acima dos piores momentos da pandemia do Sars CoV-2.

Com estas quebras na solidez do sector petrolífero a repetirem-se, alguns analistas prevêem já que o crude entre num ciclo de "montanha russa" que tem como maior impulsionador o conflito no leste europeu que já dura desde 24 de Fevereiro, quando as forças de Moscovo invadiram a vizinha Ucrânia.

Um desses efeitos ocorreu com o anúncio, na passada semana, por parte da presidente da Comissão Europeia de um substancial avanço das sanções à Rússia que, desta feita, no 6º pacote, teria como maior alvo as importações de petróleo pelo bloco europeu, fazendo disparar o valor do barril nos mercados.

Essa subida foi, entretanto, diluída, pelo avolumar da resistência a essa severidade sancionatória por parte de alguns países europeus indisponíveis para pagar o preço da proibição de importações de petróleo russo por falta de alternativas viáveis, estando, para já, esse avanço mais agressivo nas sanções em stand by.

As crescentes dificuldades europeias para sancionar Moscovo neste sector específico não surgem apenas de países que não querem ou não podem abdicar do crude Made in Russia, como a Hungria, a Eslováquia, a Áustria ou mesmo a República Checa, todos eles com graus distintos de argumentos, mas também porque alguns Estados europeus, como a Grécia, Chipre ou Malta não podem abdicar de ver os seus navios ao serviço do transporte de petróleo russo, especialmente para os portos europeus, como Ursula von der Leyen também queria.

Mas há uma terceira via que está a inquietar mais que tudo os analistas, que é a possibilidade que algumas fontes admitem estar a ser analisada em Moscovo que é cortar o gás para toda a União Europeia, o que seria catastrófico para todos os países mas especialmente para a Alemanha, o motor da economia europeia, porque se o crude é difícil de substituir fornecedores, para o gás isso é praticamente impossível, e levaria ao colapso de milhares de empresas e milhões de postos de trabalho no continente europeu, com impacto fulgurante e dramático na economia planetária de tal forma que é praticamente impossível de antecipar a sua dimensão.

Estas perdas do barril nos mercados impactam de imediato na economia angolana, porque sendo Angola o país africano, segundo a Fitch Solutions, que mais lucra com a alta do barril nos mercados, é igualmente aquele que mais terá a perder, considerando que a matéria-prima representa 95% da globalidade das suas exportações, perto de 35% do PIB e cerca de 60 por cento das receitas fiscais, com as quais o estado se mantém em funcionamento.