E quando as duas maiores economias do mundo e também os dois maiores consumidores de energia fóssil, as dos EUA e da China, se debatem com problemas sérios, disparam os alarmes nos mercados petrolíferos e o valor do barril ressente-se de imediato, mas, neste momento, existe a guerra na Ucrânia a equilibra-los, senão mesmo a ganhar ligeiramente ao promover a valorização ligeira da matéria-prima.
O dia de hoje permite enfatizar o peso da guerra na Ucrânia, gerada pela invasão da Rússia, que é um gigante mundial da produção de crude e de gás e que está sujeita a pesadas sanções económicas, no pendor para a valorização ténue do petróleo, embora a semana que agora finda tenha registado uma quebra no valor do barril, tanto no Brent, em Londres, que determina o preço médio das ramas exportadas por Angola, como no WTI, em Nova Iorque.
Na segunda-feira, 09, o barril valia 112,5 USD no início da sessão e fechou esse mesmo dia a perder quase 10 USD, consolidou no dia seguinte nos 101 USD mas iniciou uma forte recuperação já na quarta-feira, para os 108 dólares, na quinta, 12, esteve de nova na corda-bamba e só hoje, sexta-feira, 13, viu acabar o azar e estava, perto das 11:10, hora de Luanda, a subir para os 109 USD...
A Covid-19 na China, que obrigou o gigante asiático a confinar de novo milhões de pessoas nas suas maiores cidades, Xangai, com 26 milhões de habitantes, e Pequim, com 22 milhões, foram e são as mais afectadas, e inflação galopante nos EUA e na Europa, e ainda a ameaça de recessão, ou mesmo estagflação, que é aumento do desemprego coincidente com inflação elevada, o maior pesadelo dos Governos, nos Estados Unidos, estão a concorrer para tirar valor à principal matéria-prima exportada por Angola, sendo que esse declínio tem sido atenuado, com vigor, nalguns dias, pela envolvência da Rússia na guerra da Ucrânia, e a inerente ameaça de saída paulatina do seu petróleo e gás dos mercados, como já sucedeu nalguns países europeus, e nos EUA, que decretaram embargo total à energia exportada pela Rússia.
O petróleo russo pode, de um momento para o outro, ser embargado na União Europeia, no âmbito das sanções de Bruxelas a Moscovo, por causa da guerra no leste europeu, o que levaria a uma diminuição impactante da oferta, porque os países europeus seriam obrigados a encontrar fornecedores alternativos, tirando oferta global, sendo essa a razão principal para o impulso deste conflito na valorização do crude, permitindo equilibrar os mercados que, sem isso, estariam fortemente pressionados em baixa devido à Covid-19 na China e aos riscos colocados nas principais economias mundiais pela inflação e possível recessão nos EUA.
O aumento das taxas de juro pela FED norte-americana, já em curso, e a expectativa de que o mesmo suceda na Europa, a partir de Junho, é outro factor que contribui para as perdas do barril, nomeadamente porque isso está a levar a uma valorização importante do dólar norte-americano face às principais moedas nacionais em todo o mundo.
Isso reflecte-se no preço do barril porque tem o dólar como moeda de negócio quase generalizadamente e, sempre que este valoriza, limita os ganhos no sector petrolífero porque fica mais caro quando comprado por países que carecem de usar mais da sua moeda nacional para obter os dólares necessários ao negócio.
Outro factor a ter em conta neste negócio do crude é que o gás usado pelas poderosas economias europeias está cada vez mais caro devido ao conflito na Ucrânia e, quando assim sucede, algumas empresas, com perfil onde isso é permitido com facilidade, mudam para o petróleo como combustível principal aproveitando as ligeiras, por vezes, mínimas, vantagens financeiras do crude.
E isso é sempre visto com interesse redobrado pelo Governo angolano porque sendo Angola o país africano, segundo a Fitch Solutions, que mais lucra com a alta do barril nos mercados, é igualmente aquele que mais terá a perder com este em baixa, considerando que a matéria-prima representa 95% da globalidade das suas exportações, perto de 35% do PIB e cerca de 60 por cento das receitas fiscais, com as quais o estado se mantém em funcionamento.