A ZAP já tinha anunciado que iria proceder a um despedimento colectivo depois de constatar que não se vislumbrava no horizonte qualquer solução para a retoma do seu canal ZAP Viva, que está suspenso por decisão do Governo desde Abril, apesar das "necessárias diligências para a retoma da emissão em território nacional".
Antes deste despedimento em massa, vários funcionários já haviam sido despedidos, nomeadamente os da área de actualidade.
Em comunicado divulgado em Setembro na sua página oficial, a operadora, que pertence ao universo empresarial da filha do ex-Presidente José Eduardo dos Santos (JES), anunciava ter-se visto "forçada" a proceder a medidas de reajustamento, incluindo na área dos recursos humanos, com redução substancial de pessoal afecto à ZAP Viva.
"Isto significa que a ZAP dará início a um processo gradual de restruturação e desvinculação de um conjunto de elementos da força laboral, garantindo escrupulosamente todos os direitos dos colaboradores afectos em consonância com a legislação angolana em vigor", lia-se no comunicado, onde era prometido que, "com o objectivo de minimizar o impacto nas famílias afectadas e conduzir com dignidade e respeito cada processo de desvinculação", iria colocar ao serviço dos afectados por esta medida um programa de apoio social e assistência profissional.
O Novo Jornal já tinha noticiado que o Governo não admitia a retoma dos canais suspensos em Abril para breve.
O início do problema da ZAP Viva
O Ministério das Telecomunicações, Tecnologias de Informação e Comunicação Social (MINTTICS) suspendeu a actividade da ZAP Viva, medida que abrangeu ainda a Record TV África e a VIDA TV, "a partir das zero horas do dia 21 de Abril" do ano passado.
Em comunicado, o Ministério da Comunicação Social, após "acções de averiguação e de regularização" constatou que estas empresas incorriam num conjunto de irregularidades referentes aos seus trabalhadores e à emissão do sinal.
Na nota enviada às redacções, o Ministério das Telecomunicações, Tecnologias de Informação e Comunicação Social justificou então a medida anunciada que estava a conduzir um processo interno de organização e regularização das empresas de comunicação social, e, através do Instituto Nacional das Comunicações-INACOM, a realizar uma avaliação dos prazos de renovação dos direitos de utilização individual das frequências, tendo constatado que dos 243 jornais registados, apenas 34 se encontram em exercício e das 459 revistas registadas, apenas 17 se encontram em exercício.
No comunicado, o ministério declarava na ocasião, a 21 de Abril deste ano, sobre as empresas provedoras de televisão por assinatura, nomeadamente a TV CABO, a DSTV ANGOLA, a FINSTAR - detentora da ZAP TV, que estavam devidamente legalizados, mas que distribuíam os canais ZAP VIVA, VIDA TV E REDE RECORD sem o registo para o exercício da actividade de televisão em Angola.
O MINTTICS determinou assim o fim da actividade de televisão das empresas Rede Record de Televisão Angola Limitada/ Record TV África, a suspensão da veiculação dos canais ZAP VIVA e VIDA TV; a suspensão dos registos provisórios dos jornais, revistas, páginas web (site) de notícias e estações de rádio sem actividade efectiva nos últimos dois anos.
O MINTTICS assegurava que a sua actuação decorre da actividade administrativa e do funcionamento normal, o que irá permitir ajustar o processo de atribuição do título de registo definitivo do exercício da actividade às empresas de comunicação social.
A resposta da ZAP
Nesse mesmo dia, a ZAP respondia à decisão do Governo afirmando que o "erro cometido" na suspensão da ZAP VIVA deveria ser corrigido em breve porque há três anos que seguia todas as orientações da Direcção Nacional de Informação e Comunicação Institucional (DNICI) com o "objectivo de dar total cumprimento aos procedimentos legais e regulamentares aplicáveis à sua actividade".
Já hoje a empresa veio sublinhar que desenvolve esforços no sentido de adequar a sua situação às exigências legais mas que isso tem sido impossível de conseguir, o que resultou na necessidade de proceder ao agora conhecido despedimento.
A ZAP, como o Novo Jornal noticiava na ocasião, quando já estava com a emissão do seu canal suspensa, afirmava que disponibilizou documentação bastante aos órgãos competentes para que seja evidente que "a ZAP se limitou a seguir as orientações emanadas do órgão responsável pela regulação".
Recorde-se que a igualmente suspensa VIDA TV, de Tchizé dos Santos, já tinha, em Julho, anunciado o despedimento de dezenas de colaboradores por causa do interregno prolongado das suas emissões.
A Finstar - detida em 70% pela SOCIP, de Isabel dos Santos, e em 30% pela Teliz, empresa da NOS para o processo de internacionalização - mantém-se em funcionamento. A operadora angolana desenvolve a sua actividade através ZAP média e ZAP cinemas, ambas especializadas em desenvolvimento de projectos e de actividades nas áreas de entretenimento, telecomunicações e de tecnologias afins, produção e distribuição dos respectivos conteúdos, entre outras acções.
Mais uma machadada para Isabel dos Santos
A queda de Isabel dos Santos começou depois de o seu pai ter deixado o poder, em 2017, com a sua exoneração do cargo de PCA da Sonangol. Seguiram-se várias acusações, nomeadamente do seu sucessor na petrolífera nacional, Carlos Saturnino.
O presidente do conselho de administração da petrolífera nacional que se seguiu a Isabel dos Santos acusou a empresária de ter feito uma série de transferências e pagamentos já depois da sua exoneração do cargo pelo Presidente da República, João Lourenço.
Na altura, Isabel dos Santos atribuiu tudo a uma "campanha de difamação".
Depois das declarações de Saturnino, a Procuradoria-Geral da República (PGR) anunciou que tinha instaurado um inquérito para investigar a denúncia.
Chegaram depois vários sinais da perda de influência de Isabel dos Santos, nomeadamente o afastamento da Atlantic Ventures, uma das suas empresas, da construção do Porto da Barra do Dande, em 2018, obra que tinha sido adjudicada pelo~seu pai, o ex-Presidente JEJ, por 1.500 milhões de dólares.
No final do ano de 2019, o Tribunal Provincial de Luanda decretou o arresto preventivo das contas bancárias pessoais da empresária, do marido, Sindika Dokolo, e do presidente do Banco de Fomento de Angola (BFA), Mário Leite da Silva, para além de congelar as contas de várias empresas nas quais Isabel dos Santos detinha participações, nomeadamente nos bancos BIC e BFA, e nas empresas UNITEL, ZAP, FINSTAR, Cimangola, CONDIS, Continente Angola e SODIBA.
A isso juntou-se, logo no início de 2020, a "bomba" dos Luanda Leaks, um processo que envolveu centenas de milhares de ficheiros disponibilizados pelo hacker Rui Pinto a um consórcio internacional de jornalistas contendo alegadas provas irrefutáveis contra ela. O Novo Jornal seguiu a par e passo este tumultuoso período e isso pode ser revisitado no rodapé do site.
Em Outubro de 2020, nova machadada na vida da "princesa" de Angola, com uma perda familiar: a morte do marido, o empresário e coleccionador de arte Sindika Dokolo, pai dos seus filhos, com quem Isabel dos Santos esteve casada mais de duas décadas.