O que vai o "Imperador Trump II", que regressa ao poder depois de falhar o segundo mandato em 2020, numa humilhante derrota para Joe Biden, fazer com tanto poder, não o disse, detalhadamente, ainda, mas já deu alguns sinais, e um deles é que não vai querer quem não pense como ele à sua volta.
Com 295 votos no Colégio Eleitoral, faltam 17 da Pensilvânia para fechar a contagem, já garantiu a vitória por larga margem, contra os 226 da sua opositora, que não chegou a sê-lo, apesar das sondagens estranhas terem chegado a dá-la como quase vencedora.
Donald Trump precisava apenas de 270 grandes eleitores do Colégio Eleitoral para garantir as chaves do "Palácio", já tem 295 e pode mesmo chegar aos 317, com os 17 da Pensilvânia que ainda não estão definidos.
A este resultado avassalador no Colégio Eleitoral, Trump também junta a vitória no voto popular, o que nos EUA, por causa do seu sistema eleitoral, é relevante, porque quem ganha o voto popular pode perder o Colégio Eleitoral, como sucedeu quando derrotou Hillary Clinton em 2016.
E, como se fosse pouco, Trump não terraplanou apenas a democrata Kamala Harris na luta pela Casa Branca, também limpou com maiorias confortáveis a Câmara dos Representantes e o Senado, as duas câmaras do Congresso, quando já tem uma maioria de juízes seus "amigos" no Supremo Tribunal.
Olhando para este quadro, o Imperador Trump II pode muito bem ter como grande desafio da sua Administração decidir o que fazer com tanto poder, desde logo quem vai querer a seu lado para o "coadjuvar" no Governo dos Estados Unidos da América.
Ainda não o disse, no seu primeiro discurso após ter sabido que seria o 47º Presidente dos EUA, mas deixou sinais. Vai querer garantir que no Departamento de Estado, a chefia a diplomacia, não esteja alguém muito preocupado com o resto do mundo.
Porque a sua prioridade é a política interna, a economia interna, atacar a inflação, expulsar imigrantes ilegais e "drill, baby drill", que é como quem diz não ter preocupações com as alterações climáticas e extrair o máximo de petróleo possível do solo e do mar norte-americanos.
E mesmo as medidas que já anunciou, e reconfirmou, com impacto no exterior, são pensadas por causa das suas preocupações caseiras, que é "fazer da América grande de novo", com a aplicação de gigantescas tarifas a tudo o que for importado da China e da Europa para desenvolver a produção interna.
Ou as guerras, a da Ucrânia, desde logo, mantendo a decisão de acabar com ela rapidamente, o que só poderá acontecer se desligar totalmente o fluxo de fornecimento de armas e dinheiro para Kiev, o que condenaria o regime ucraniano a uma situação de colapso na sua capacidade de combater. Mas tal ainda não foi detalhado ao pormenor.
E sobre as guerras no Médio Oriente, onde o seu maior aliado em todo o mundo, Israel, está envolvido, seja em Gaza, seja no Líbano, ou ainda com o Irão, directamente, também é sua intenção pôr-lhes um fim imediato.
Aqui, porém, não com a retirada do apoio a Israel mas sim aumentando-o de tal forma que os inimigos de Telavive render-se-ão rapidamente... ou serão derrotados sem apelo nem agravo... Pode ser o calcanhar de Aquiles do "Imperador Trump II".
A confiança que mostra não podia ser mais efusiva, desde logo na forma como reforçou a ideia de que todas as promessas eleitorais são para cumprir, e uma delas era para acontecer logo após as eleições, ainda na condição de Presidente eleito, que é acabar com a guerra na Ucrânia.
Como pode Donald Trump fazer isso? Na reunião para a qual foi já convidado pelo Presidente Joe Biden, o que é normal acontecer no quadro da preparação da transição de poder, como, de resto, Kamala Harris disse, no seu discurso de aceitação da derrota, que aconteceria com com bom senso democrático.
E, nesse encontro entre Presidente e Presidente eleito, Trump pode procurar convencer Biden de que o melhor é falar com Zelensky para que o Presidente ucraniano inicie o processo de mudança de tom no que toca a uma saída negociada do conflito com a Rússia.
Mas o contrário também pode acontecer. Ou seja, se Trump pode convencer Biden a abrir caminho para a sua reafirmada decisão de acabar com o conflito no leste europeu, também Biden pode exercer alguma diplomacia sobre algumas das suas prioridades relevantes para o país a que Trump não estará a pensar dar muita, ou nenhuma, importância.
E um dos melhores exemplos é a aposta que a Administração Biden fez em África, com destaque para Angola, onde, de resto, Joe Biden vai estar dentro de cerca de um mês, numa muito esperada visita que coloca Luanda no mapa das prioridades dos EUA... pelo menos até Janeiro.
E se Biden for convincente, não há nada que impeça Trump de dar continuidade ao plano de Washington para Angola, especialmente o que gira em torno do gigantesco projecto do Corredor do Lobito, inserido num vasto trajecto ferroviário que ligará o Atlântico ao Índico...
Para já, entre o Porto do Lobito e a RDC/Zâmbia, que tem como maior valor estratégico, mesmo que não assumido por nenhuma das partes, nem em Luanda nem em Washington, desvitalizar a influência chinesa no Congo, abrindo uma nova e altamente competitiva rota de saída para os tremendos recursos naturais congoleses para o Ocidente.
Recursos esses que, pela sua relevância estratégica, desde logo os fundamentais para as indústrias 2.0, como o coltão, o cobalto, o cobre ou as terras raras, não deixarão de merecer a atenção de Trump.
Tanto pela importância que estes têm, ou podem ter, para a sua muito insistida durante a campanha, que já reafirmou ser tudo para cumprir, procura de recuperar a indústria norte-americana, como no que representa para a sua "guerra" económica com a China, considerando que Pequim é hoje predominante na exploração dos recursos naturais na RDC.
Para as leituras, ou tentativas de adivinhar o que vai na cabeça de Trump, visto que algumas das suas promessas surgiram quando este não estava seguro de que, afinal, a sua vitória seria tão esmagadora, visto que as sondagens apontavam no sentido da disputa renhida, vai ser preciso esperar pelos anúncios dos nomes co que vai erguer a sua Administração.
Os analistas já começaram os seus normais exercícios de adivinhação, com a esmagadora maioria a apontar no sentido de que o "Imperador" não vai querer ninguém a seu lado que conteste minimamente as suas decisões, como aconteceu no seu primeiro mandato, entre 2016 e 2020.
Isso, para evitar as dores de cabeça que lhe provocaram o conselheiro para a Segurança Nacional, John Bolton, ou o seu secretário de Estado Mike Pompeo, com quem teve de travar batalhas mediáticas duras antes e depois de deixar a Casa Branca.
Há, todavia, elementos distintos entre esta chegada à Casa Banca e o cenário de 2017, porque é um Donald Trump com a experiência acumulada do 1º mandato que agora assume as rédeas da maior economia do mundo e o poder militar mais expressivo do Planeta.
Isso e, especialmente, ser um Presidente com muitíssimo mais poder nas mãos, porque em 2016 perdeu no voto popular com Hillary Clinton e agora ganhou com grande folga, há oito anos não tinha todo o Congresso consigo e hoje tem, e quando chegou pela primeira vez a Presidente dos EUA, tinha um Tribunal Supremo hostil à sua visão conservadora do mundo e agora a maioria dos juízes foram nomeados por si, sendo-lhe claramente, como já o demonstram, leais.
Resta esperar para saber se tanto poder vai gerar um "Imperador" sensato e com humildade e disponibilidade para ouvir os outros, ou será um "Trump II" belicoso e totalitário no exercício do poder, impondo a sua vontade sem olhar em redor...
Aparentemente, vai ser um Trump menos impositivo a reentrar na Casa Branca. É que, no mesmo e primeiro discurso pós-eleitoral, Trump disse que quer o país unido em torno do objectivo de criar prosperidade, segurança, e fortalecer a economia, atirando as divisões dos últimos quatro anos para trás das costas...
Num ou noutro cenário, uma coisa é certa: o mundo não será o mesmo a partir de 20 de Janeiro de 2025, quando Donald Trump, o todo poderoso, tomar posse.