Para resolver este problema, que é como é visto em Washington e em Telavive, o Governo de Benjamin Netanyahu cortou o sinal da Al Jazeera no seu espaço, alegando que a censura era a única forma de anular a propaganda que este canal desenvolve em prol dos palestinianos, especialmente devido aos seus repórteres em Gaza que cobrem as consequências das bombas da aviação israelita sobre a população civil.

Esta cobertura jornalística, onde se percebe o enfoque editorial do canal do Qatar, expondo a profunda assimetria na capacidade letal e de destruição entre as Forças de Defesa de Israel (IDF) e os combatentes do Hamas, com imagens continuadas de vítimas a chegarem aos hospitais de Gaza, especialmente crianças já mortas ou em estado muito grave, que tem sensibilizado milões em todo o mundo mas provocado reacções duras de Israel e dos EUA, a quem a crueza das imagens fere a argumentação e a justificação para os ataques..

Essas posições de Telavive sobre aquilo a que chama "propaganda do Hamas", apesar de não haver registo de falsificação de imagens, têm levado a que, depois, também outros canais, nomeadamente ocidentais, com sede em países aliados de Israel, como a norte-americana CNN, a britânica BBC ou a France24, entre outros, sejam levados a também usar essas mesmas imagens, porque se não o fizeram, os seus espectadores podem a elas ter acesso com a rapidez de um "click" no telecomando da televisão, sintonizando a Al Jazeera no seu serviço em inglês.

Este canal é financiado em exclusivo pelo Governo daquele pais do Golfo, rico em petróleo e gás natural, e onde o Hamas tem uma das suas ramificações políticas mais importantes, o que ajuda Israel a apontá-lo como parcial na cobertura da guerra e ferramenta ao serviço dos interesses dos "terroristas do Hamas".

Se a posição de Israel tem sido claramente ignorada nos media, porque esse comportamento não é inédito sobre os canais de génese árabe, agora a questão subiu de tom com a entrada em cena da Administração norte-americana, com o secretário de Estado, Antony Bliken, a vir a terreiro pedir ao Qatar que "baixe o volume" da cobertura do conflito, que é como quem diz, que modere a quantidade de imagens gráficas, expondo o sofrimento das crianças palestinianas.

Ao mesmo tempo, o chefe da diplomacia dos Estados Unidos pediu ainda ao Governo do Qatar, liderado pelo Sheikh Tamim Al Thani, para mudar a forma como apoia o Hamas, especialmente claro na forma como se comporta, no ver de Blinken, o seu canal internacional, independentemente de, por exemplo, toda a imprensa, com raras excepções, norte-americana seja pronunciadamente pró-israelita e reduza ao mínimo o olhar sobre o conflito do lado palestiniano.

Segundo as agências internacionais, Antony Blinken abordou este tema num encontro com a comunidade judaica dos EUA, à qual ele próprio pertence, sublinhando a agência norte-americana AXIOS que o governante esteve em Doha, no Qatar no contexto do seu périplo recente pelo Médio Oriente com o foco no conflito em Gaza.

E foi nessa passagem pelo Qatar que, explicou Blinken, citado pela Axios, abordou o assunto com o Governo qatari a quem aconselhou a mudar a sua política de relações com o Hamas, começando por mudar a linha editorial da Al Jazeera quanto a este assunto.

Apesar deste empenho de Blinken, a Al Jazeera não parece ter sofrido qualquer pressão do Governo do Qatar, proprietário do canal, mantendo um fio noticioso continuo sobre a guerra em Gaza, com dezenas de repórteres no terreno, tanto em Gaza como em Israel e nos EUA, 24 horas por dia.