Em várias ruas de Cabul no segundo dia de controlo dos rebeldes, os agentes de trânsito foram novamente vistos a controlar a circulação automóvel esta manhã, lojas reabriram e o pessoal dos hospitais e centros de saúde retomou as suas funções, noticiaram a EFE e a France-Presse (AFP).

Segundo a AFP, os homens trocaram as suas roupas ocidentais pelo 'shalwar kameez', o traje tradicional afegão, e a televisão estatal estava agora a transmitir principalmente programas islâmicos.

Desde que entraram em Cabul no domingo, após uma fulgurante ofensiva que em apenas 10 dias lhes permitiu assumir o controlo de quase todo o país, os taliban multiplicaram gestos de apaziguamento para com a população.

O movimento anunciou hoje uma "amnistia geral" para todos os funcionários públicos e apelou para todos voltarem aos seus "hábitos de vida em plena confiança".

Temendo que os funcionários do governo deposto fossem vistos como traidores aos olhos dos taliban, os líderes políticos do movimento rebelde asseguraram que todos "foram perdoados".

"A situação em Cabul está sob controlo. Algumas pessoas que se envolveram em delitos foram detidas", disse numa mensagem o porta-voz dos taliban, Zabihullah Mujahid, citado pela EFE.

Numa mensagem aos combatentes, o comandante taliban Sayyid Mawlawi Muhammad Yaqoub disse que "ninguém pode entrar na casa de ninguém" ou confiscar bens do governo.

"O recebimento dos artigos é uma questão para as autoridades competentes", disse Yaqoub, depois de meios de comunicação e jornalistas locais noticiarem buscas e apreensões de transeuntes e casas.

Vídeos divulgados pelos taliban mostraram um encontro de elementos do movimento com pessoal médico de um hospital, incluindo mulheres, a quem pediram para "levar todos aos seus trabalhos e fazer o seu trabalho normalmente", de acordo com os insurgentes.

Os taliban também afirmaram ter garantido a segurança das missões diplomáticas e humanitárias no país, com maior protecção do que a oferecida pelo governo do Presidente Ashraf Ghani, que fugiu do Afeganistão no domingo.

O canal noticioso afegão Tolo abriu o programa principal com uma apresentadora a entrevistar um membro dos taliban, reivindicando o papel das mulheres e os importantes ganhos de direitos alcançados nas últimas duas décadas.

Segundo a EFE, trata-se de algo impensável durante o anterior regime taliban (1996 a 2001), quando as mulheres estavam confinadas às suas casas.

No programa, a apresentadora afegã Beheshta Arghand entrevista Mawlawi Abdulhaq Hemad, da equipa de comunicação taliban, sobre a situação em Cabul e as buscas domiciliárias na cidade.

Mas há quem admita que "as pessoas têm medo do desconhecido", como disse um lojista em Cabul à AFP.

"Eles não incomodam ninguém, mas é claro que as pessoas têm medo", acrescentou.

Os taliban, que controlam a segurança do país e detêm a maior parte do território, não formaram oficialmente um governo nem nomearam líderes para o dirigir.

O ex-presidente afegão Hamid Karzai e o presidente do Alto Conselho para a Reconciliação Nacional, Abdullah Abdullah, disseram numa mensagem conjunta que estão em conversações com os líderes taliban para alcançar a paz e a segurança em todo o país.

Karzai e Abdullah, juntamente com o líder do partido Hizb-e-Islami e o antigo senhor da guerra Gulbuddin Hekmatyar, fazem parte de um conselho provisório formado para ajudar na transição de poder depois de Ghani ter deixado secretamente o país.