Rapidamente as forças de segurança detiveram os jovens que empunhavam as bandeiras russas, até porque é evidente o risco de mimetismo com o que sucedeu nos vizinhos Níger, Mali e Burquina Faso, onde ocorreram golpes militares e uma deslocação para Moscovo das parcerias estratégicas com cortes severos das relações com o ocidente.
Entre os detidos estão, segundo os media nigerianos, cerca de uma dezenas de jovens estudantes, durante os protestos naquela cidade, tal como um pouco por todo o país mas com especial ênfase nas grandes cidades e capitais regionais, como é o caso de Kaduna.
As atenções dos media deslocaram-se de Lagos, onde é comum ocorreram as maiores manifestações contra os governos, actualmente o de Bola Tinubo, o Presidente que assumiu o poder há meses com a promessa de atacar com força os problemas que mais afligem a juventude nigeriana, para esta distante cidade de Kaduna devido ao episódio das bandeiras russas.
A corrupção, o desemprego, a inflação, a insegurança... são as "doenças" que mais levam milhares de pessoas às ruas, com destaque para a juventude, que não vê nem futuro nem esperança no actual cenário.
E o surgimento das bandeiras russas tem relevância porque foi precisamente assim que começaram as revoltas populares que levaram aos golpes militares em Niamey, Ouagadougou e Bamako, que acabaram por conduzir o Níger, o Burquina Faso e o Mali para a óbita de influência de Moscovo.
Embora não existam dados que permitam dar como tendo começado também na Nigéria um processo semelhante, sendo o mais provável que se trate de uma forma de criar confusão nos corredores do poder em Abuja, o facto é que também em Washington e Londres, seguramente, esta situação está a ser acompanhada.
Isto, porque, além do que se passou nos países do Sahel, também no Quénia (ver links em baixo) estão, como na Nigéria, em curso protestos que começam a ganhar dimensão estrutural, não sobre um facto em particular mas contra a governação geram destes países, onde a juventude demonstra ter atingido o limite do suportável face ao custo de vida insustentável, a corrupção que parece imparável e contra a falta de evidências de que os Governos estão a conseguir mudar o rumo.
Segundo as autoridades nigerianas, as detenções dos jovens com bandeiras russas empunhadas, deveu-se, segundo o chefe dos serviços secretos nigerianos, Peter Afunaya, durante um encontro com diplomatas ocidentais em Abuja no Ministérios dos Negócios Estrangeiros.
Alguns media notam que este encontro foi motivado pelas inquietações que o surgimento das bandeiras gerou nas embaixadas ocidentais em Abuja, havendo ainda a curiosa detenção de alguns jovens polacos, da Universidade de Varsóvia, que se encontram no estado de Kano no âmbito de uma visita de estudo, sendo que a sua detenção terá sido apenas porque estavam a passar no local dos protestos e aproveitaram para tirar fotografias.
Não existe ainda qualquer dado factual que ligue as detenções dos jovens estudantes e um professor polaco e o surgimento das bandeiras russas nas manifestações na Nigéria, um facto que, como recorda o site africanews, só era comum, até agora, nos países da África ocidental alvo de golpes militares, como o Níger, Mali, Burquina ou a Guiné-Conacri.
No entanto, este dado poderá ficar claro em breve porque o director da secreta nigeriana adiantou no mesmo encontro que além dos jovens que empunhavam as bandeiras russas, foram igualmente detidos os alfaiates onde forma feitas as bandeiras assim como "quem os financiou".
Numa das bandeiras, como pode ser visto em vídeos difundidos nas redes sociais, podia-se ler "Rússia vem ajudar-nos!". Moscovo, ainda segundo o africanews, negou qualquer envolvimento neste episódio.
O chefe de Estado-Maior das Forças Armadas da Nigéria, general Christopher Musa, já veio a público sublinhar que tal acto pode ser considerado "traição", o que e punido com a pena de morte no país.
Apesar deste ter sido o primeiro caso noticiado, o surgimento de bandeiras russas em protestos populares, especialmente nos estados do norte e nordeste da Nígéria, já tinha acontecido antes.