Face à intransigência de Paris em retirar o seu embaixador da capital do Níger e as suas tropas estacionadas neste país do Sahel ao abrigo de acordos com os governos anteriores, fortes aliados da antiga potência colonial, Niamey apertou o cerco ao assinar um acordo de defesa mútua com os vizinhos Mali e Burquina Faso.
Esta retirada francesa, que se alarga à quase totalidade dos diplomatas ainda presentes em Niamey, surge agora, segundo alguns analistas, porque ficou claro que Paris já não tinha espaço de manobra para manter o braço-de-ferro com o novo Governo do Níger e que foi mantido na expectativa de uma intervenção militar externa que pudesse devolver o antigo Presidente Mohamed Bazoum à Presidência.
A junta limitar que governa o Níger, que nomeou o seu lider, general Abdourahamane Tchiani, Presidente de transição, tinha dado, em Agosto, 48 horas ao embaixador Sylvain Itte para deixar o país, tendo Paris recusado essa ordem por não reconhecer legitimidade ao novo poder em NIamey.
Paris depositava a esperança de manter controlo militar e influência neste país estratégico da velha "FranceAfrique" - a vasta geografia constituída pelas antigas colónias nesta região africana - na prometida intervenção militar das forças da Comunidade Económica do Estados da África Ocidental (CEDEAO) que acabou por não suceder. (Ver links em baixo nesta página)
E viu essa capacidade de intervenção substancialmente reduzida depois de se saber que os mercenários russos do Grupo Wagner tinham deslocado o grosso das suas forças do campo de batalha da Ucrânia para o Sahel posicionando-se claramente ao serviço deste tridente anti-França Mali/Burquina Faso/Níger.
Além disso, a França e a CEDEAO ficaram sem forma de convencer os países da região da razoabilidade de fazer avançar a força militar em "stand by" depois de estes três países terem assinado, na semana passada, um acordo de defesa mútua, que garante que um ataque a um deles será encarado como um ataque a todos.
Depois de serem obrigados a deixar o Níger, e já depois de terem sido expulsos do Mali e do Burquina Faso, onde, há décadas, detinham uma forte influência nas respectivas capitais, Paris está em clara perda na África Ocidental, até porque é evidente que também na Guiné-Conacri e no Chade já sopraram ventos mais amistosos para Paris.