Inicialmente, os BRICS foram criados pela China, Rússia, Índia e Brasil, em 2006, tendo a África do Sul aderido em 2010, e já este ano entraram o Egipto, a Etiópia, o Irão, a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos.
A nova configuração dá a esta organização uma dimensão económica largamente superior ao próprio G7 (36% do PIB global), que reúne os sete países mais industrializados do Ocidente Alargado, EUA, Japão, Canadá, França. Alemanha, Itália e Reino Unido, e é vista como a plataforma do Sul Global mais eficaz de combate à hegemonia global dos Estados Unidos e aliados ocidentais.
A relevância dos BRICS é de tal monta que alguns analistas admitem que a sua grandeza (45% do PIB mundial) é já uma demonstração viva de que a ordem mundial baseada nas regras ocidentais é já história e o mundo vive uma nova ordem multipolar e sem uma hegemonia definida, como sucedeu com os EUA desde o final da II Guerra Mundial, mesmo durante a existência do bloco soviético.
Para se acomodar a esta realidade, a cúpula dos BRICS acaba de decidir que os novos pedidos de adesão estão congelados temporariamente devido à necessidade de integrar e acomodar os novos membros que entraram em Janeiro deste ano.
Segundo Sergei Lavrov, o ministro russo dos Negócios Estrangeiros, em nota divulgada no site do seu Ministério (a Rússia preside este ano rotativamente à organização) explica que esta decisão foi imposta pela necessidade de consolidar o grupo que acaba de duplicar de dimensão.
Em 2018 o Presidente João Lourenço disse que Angola queria integrar os BRICS, embora o processo não tenha evoluído e, desde então, Luanda tenha divergido o seu foco para uma aproximação aos EUA.
Apesar do congelamento das novas adesões, os BRICS vão manter uma estreita ligação com os candidatos, criando uma nova "categoria de parcerias" e definir um novo processo de estatuto intermédio antes da adesão plena.
Também a definição da organização poderá sofrer alterações, embora a sigla BRICS, que resulta das primeiras letras dos nomes dos países membros originais, deva ser mantida por ser já uma "marca" reconhecida globalmente.
E uma das tarefas da presidência russa dos BRICS antes da Cimeira de Moscovo é identificar os novos candidatos à adesão, até porque já são mais de 30 os países que manifestaram esse desejo, o que tornaria o seu funcionamento disfuncional se não for precedido de um sólido mapa de preparação e edificação das suas comissões.
Os BRICS são ainda, e cada vez mais, a cara do Sul Global que alinha com a vontade do eixo Pequim-Moscovo-Nova Deli em derrubar a injusta ordem mundial baseada nas regras ditadas pelos EUA há mais de 80 anos e que é sustentada pelas organizações que lhe servem de pilares estruturais, como o Banco Mundial e o FMI, mas também a ONU.
Como notam alguns analistas, essa ordem mundial baseada nas regras ocidentais, que o próprio Presidente dos EUA, Joe Biden, aceita estar morta e enterrada, ainda não tem uma nova fórmula consolidada, mas sabe-se que entre os BRICS é exigido que esta venha a ser alicerçada na cooperação entre iguais e alinhada com um desenvolvimento global e harmonioso.
Para já, é cedo para se perceber se o que está para vir em substituição da ordem que vigorou da década de 1950 aos dias de hoje é, na prática, melhor ou pior que a que está em construção, mas há uma certeza que é inequívoca: essa teve 80 anos para provar a sua bondade e apenas gerou desigualdade.
Essa ordem mundial ergueu-se sobre um Ocidente Global, situado em exclusivo no Hemisfério Norte, a viver na abundância, muito à custa dos recursos naturais existentes do outro lado do mundo.
Isso, em contraste com um Sul Global, assente na realidade do Hemisfério Sul, onde mais de metade da Humanidade vive na pobreza e subdesenvolvimento, com centenas de milhões de pessoas a nascerem com fome e doentes e a morrerem doentes e com fome, sem esperança, apesar de abundantes recursos no subsolo dos seus subdesenvolvidos países, onde África aparece como melhor exemplo.