"Se as nações puderem perseguir as suas ambições imperiais sem consequências, isso significa que estamos a colocar em risco tudo o que as Nações Unidas defendem e pelo qual foram criadas", disse Joe Biden em frente aos lideres do mundo que se deslocaram a Nova Iorque para mais uma Assembleia-Geral da ONU.
Referindo-se claramente à Federação Russa, o único tópico a ocupar o se discurso com fulgor e tempo, Biden atirou um aviso a Moscovo: Um país não pode tomar pela força território de outra Nação".
"A Ucrânia tem os mesmos direitos de qualquer outro país soberano e nós vamos estar ao seu lado em solidariedade contra a agressão russa", sublinhou, acrescentando que se o que está a acontecer na Ucrânia não for travado, pode acontecer a qualquer outro país que tenha uma potência maior ao seu lado.
Procurando incentivar o resto do mundo para apoiar igualmente Kiev, Biden dirigiu-se especialmente aos que até aqui têm estado renitentes em condenar a Rússia ou se abstiveram nas moções levadas à AG da ONU para condenar a atitude do Kremlin.
Num contexto de forte retórica acusatória a Moscovo, o chefe da Casa Branca disse que a Federação Russa está a tentar apagar do mapa um vizinho, violando, na sua condição agravada de ser um membro permanente do Conselho de Segurança, todas as leis internacionais, e a Carta das Nações Unidas nos seus princípios mais básicos.
"A Rússia provocou uma guerra desnecessária", atirou.
E acrescentou: "Esta é uma guerra que visa extinguir a Ucrânia, de lhe tirar o direito a existir enquanto Estado e enquanto povo, simples quanto isso", deixando perceber que o apoio de Washington a Kiev não vai esmorecer depois de ainda hoje Putin ter anunciado um reforço na frente de ataque com mais 300 mil reservistas, como pode ler aqui, no Novo Jornal, Biden disse que aquilo que a Rússia está a fazer "tem de congelar o sangue de toda a gente, esteja onde estiver, viva onde viver, acredite no que acreditar".
Mas Biden também usou este tempo de antena global para se focar na China, e na disputa acesa de Pequim e Taiwan, sublinhando o líder norte-americano que os EUA "não procuram uma nova Guerra Fria" com Pequim.
Sobre o universo de disputa com a China, o líder dos EUA garantiu que não busca uma guerra convencional com a China, que se compromete enquanto líder razoável a procurar consensos, não vai perguntar a nenhum país se prefere os EUA ou a China, e que escolha entre ambos, mas notou que os Estados Unidos "serão sempre defensores da liberdade e da liberdade de expressão, por um mundo livre, aberto e próspero".
Sobre Taiwan reiterou que não busca uma alteração ao actual status quo por nenhum dos lados, mantendo o reconhecimento de uma só China mas apoiando Taiwan no seu direito à liberdade.
Contexto da guerra na Ucrânia
A 24 de Fevereiro as forças russas iniciaram a invasão da Ucrânia por vários pontos, tendo o Presidente russo dito que se tratava de uma "operação militar especial", sublinhando que o objectivo não é a ocupação do país vizinho, condição que evoluiu depois para a anexação de territórios no Donbass mas também as regiões de Kherson e Zaporijia, mas sim a sua desmilitarização e desnazificação e assegurar que Kiev não insiste na adesão à NATO, o que Moscovo considera parte das suas garantias vitais de segurança nacional.
O Kremlin critica há vários anos fortemente o avanço da NATO para junto das suas fronteiras, agregando os antigos membros do Pacto de Varsóvia, organização que também colapsou com a extinção da URSS, em 1991.
Moscovo visa ainda garantir o reconhecimento de Kiev da soberania russa da Península da Crimeia, invadida e integrada na Rússia, depois de um referendo, em 2014, e ainda a independência das duas repúblicas do Donbass, a de Donetsk e de Lugansk, de maioria russófila, que o Kremlin já reconheceu em Fevereiro.
Do lado ucraniano, a visão é totalmente distinta e Putin é acusado de estar a querer reintegrar a Ucrânia na Rússia como forma de reconstruir o "império soviético", que se desmoronou em 1991, com o colapso da União Soviética.
Kiev insiste que a Ucrânia é una e indivisível e que não haverá cedências territoriais como forma de acordar a paz com Moscovo, sendo, para o Presidente Volodymyr Zelensky, essencial o continuado apoio militar da NATO para expulsar as forças invasoras.
A organização militar da Aliança Atlântica está a ser, entretanto, acusada por Moscovo de estar a desenrolar uma guerra com a Rússia por procuração passada ao Exército ucraniano, o que eleva, segundo o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergei Lavrov, o risco de se avançar para a III Guerra Mundial, com um confronto directo entre a Federação Russa e a NATO, que tanto o Presidente dos EUA, Joe Biden, como o Presidente Vladimir Putin, da Rússia, já admitiram que se isso acontecer é inevitável o recurso ao devastador arsenal nuclear dos dois lados desta barricada que levaria ao colapso da humanidade tal como a conhecemos.
Esta guerra na Ucrânia contou com a condenação generalizada da comunidade internacional, tendo a União Europeia e a NATO assumido a linha da frente da contestação à "operação especial" de Putin, que se materializou através de bombardeamentos das principais cidades, por meio de ataques aéreos, lançamento de misseis de cruzeiro e artilharia pesada, e com volumosas colunas militares a cercarem os grandes centros urbanos do país, mas que agora está concentrada no leste e sudeste da Ucrânia.
Na reacção, além da resistência ucraniana, Moscovo contou com o maior pacote de sanções aplicadas a um país, que está a causar danos avultados à sua economia, sendo disso exemplo a queda da sua moeda nacional, o rublo, que chegou a ser superior a 60%, embora já tenha, entretanto, recuperado.
Estas sanções, que já levaram as grandes marcas mundiais a deixar a Rússia, como as 850 lojas da McDonalds, a mais simbólica, abrangem ainda os seus desportistas, artistas, homens de negócios, a banca e grande parte das suas exportações, ficando apenas de fora o sector energético, do gás natural e em pate do petróleo...
Milhares de mortos e feridos e mais de 5,5 milhões de refugiados nos países vizinhos da Ucrânia são a parte visível deste desastre humanitário.
O histórico recente desta crise no leste europeu pode ser revisitado nos links colocados em baixo, nesta página.