Nestas declarações publicadas pelos media russos, o chefe do Kremlin sublinhou que não hesitará por um segundo a usar "todo o arsenal" que o país dispõe para se defender, incluindo o mais avançado, como é o caso do míssil balístico supersónico de longo alcance, Sarmat, que a Rússia testou na semana passada e que pode, segundo a informação disponível, transportar 16 ogivas nucleares, cada uma delas com autonomia e velocidade hipersónica.
As palavras de Vladimir Putin, proferidas hoje num encontro com deputados, surgem horas depois de o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, ter estado em Moscovo para encetar uma arriscada missão diplomática de desescalada na guerra na Ucrânia, que já dura há 63 e que começou com a invasão do país pelas forças de Moscovo.
"Se alguém decidir intervir no conflito em curso a partir de fora e criar uma inaceitável situação de ameaça estratégica para a Rússia, devem ficar a saber que a nossa resposta para esse cenário será rápida e decisiva", embora não tenha explicitado.
Mas adiantou que se trata de "ferramentas" que o país tem do tipo que "ninguém se pode gabar, excepto a Rússia, mas que usaremos sem hesitação se a situação se verificar justificável".
Embora não tenha referido algum dos países da NATO que estão mais empenhados em fornecer armamento à Ucrânia, sequer o Reino Unido, que já veio dizer que Kiev pode usar o armamento enviado por Londres para atacar no interior da Rússia, Putin tem em mente, seguramente, o recente anúncio do reforço do armamento, em sofisticação e capacidade ofensiva, anunciado pela Alemanha, Reino Unido, EUA e Polónia, sendo que este país vizinho, é aquele que mais se tem arriscado a defender publicamente uma intervenção directa da NATO nesta guerra.
A evolução de um conflito convencional, como o que está a decorrer desde que a Rússia invadiu a Ucrânia a 24 de Fevereiro, para uma guerra nuclear devastadora já foi considerada possível pelos Presidente dos EUA, Joe Biden, e da Rússia, Putin, se ocorrer um episódio que coloque russos e norte-americanos em confronto directo.
E o ministro russo dos Negócios Estrangeiros, Sergei Lavrov, reafirmou-o na terça-feira, ao deixar claro que Moscovo tem bem definido o quadro em que o arsenal nuclear é usado sem hesitação e que esse cenário está agora mais perto que nunca, tendo esta referência ocorrido face ao avolumar do material militar que os países da NATO estão a fazer chegar às forças ucranianas, garantindo um prolongar sem limites da guerra.
Guerra esta que os responsáveis norte-americanos e europeus já admitiram querer usar para fragilizar a Rússia tanto do ponto de vista militar como a sua economia, como foi o caso do Secretário da Defesa dos EUA, Lloyd Austian, e a presidente da Comissão Europeia e o responsável pela diplomacia de Bruxelas, Ursula Leyen e Josep Borrel, com ambos a dizer que o desfecho deste conflito será definido no campo de batalha.
Uma das ideias chave de evolução e agudização do risco de um armagedão nuclear reside na convicção entre os governantes russos, como é o caso de Lavrov, que a NATO está a travar uma guerra com a Rússia, deliberadamente, por procuração, o que pode ser considerado como o passo último antes do confronto directo que evoluiria rapidamente para uma catástrofe global.
Entretanto, na frente de combate
Nas últimas horas desta quarta-feira, 27, ocorreu um episódio cuja importância no mapa deste conflito ainda não é totalmente claro, com várias explosões sentidas na Transnistria, uma faixa de território na Moldova, com perto de 500 mil habitantes, com fronteira com a Ucrânia, a sul, e que é um auto-proclamada república pró-russa, ocupada por tropas de Moscovo desde o colapso da União Soviética, em 1991.
Os analistas admitem que se trate de uma manobra artificial para levar a Rússia a reclamar esta "república" para o seu universo de influência ou justificar o avanço das suas forças para esta área no sul da Ucrânia. Mas pode igualmente ser o início de uma revolta interna para exigência políticas de natureza ainda desconhecida.
Na frente de batalha, as forças russas continuam a reforçar a sua estrutura ao longo da extensa linha da frente, perto de 500 quilómetros, com os reforços vindos da região de Kiev, que ocuparam no início da guerra, e com reforços provenientes da Rússia, estando, segundo alguns analistas, mais de 150 mil homens fortemente apoiados por meios aéreos e terrestres.
Do outro lado, estão perto de 90 mil ucranianos, as melhor preparadas e melhor equipadas unidades de combate leais a Kiev, que estão a receber de forma quase ininterrupta, excepto quando os russos conseguem destruir os carregamentos de armamento, nomeadamente misseis Stinger e Javelin, Made in USA, mas também artilharia de diversos calibres, oriundos do oeste da Ucrânia, que chegam ao país pelas fronteiras da Polónia e da Eslováquia, na sua maioria por caminho-de-ferro, cuja teia de nós e estações e pontes estão a ser meticulosamente destruídos por misseis de precisão de médio-alcance russos.
Para já ainda não começou a ofensiva russa terrestre, estando as forças de Moscovo a apostar essencialmente, apesar de pequenos avanços de aldeia em aldeia, nos disparos de artilharia e ataques com misseis de precisão nos objectivos militares ucranianos, visando especialmente as suas defesas anti-aéreas e os depósitos de armamento chegado dos países da NATO.
Os especialistas militares chamam a atenção para o facto de os ucranianos terem criado condições de defesa sólidas ao longo dos últimos anos, tratando-se como se trata de unidades de combate veteranas que estão a combater as milícias independentistas de Donetsk e Lugansk, nma guerra de baixa intensidade que já dura há oito anos e já fez mais de 14 mil mortos entre as populações locais maioritariamente russófilas.
O que quer dizer que a ofensiva terrestre russa só deverá começar quando as suas chefias militares entenderem que os bombardeamentos já danificaram estas defesas quanto baste para reduzir os riscos da infantaria que tem de avançar no terreno disputado palmo a palmo, como sucedeu na II Guerra Mundial, prevendo-se inúmeras baixas de um e do outro lado...
Contexto da guerra na Ucrânia
A 24 de Fevereiro as forças russas iniciaram a invasão da Ucrânia por vários pontos, tendo o Presidente russo dito que se tratava de uma "operação especial", sublinhando que o objectivo não é a ocupação do país vizinho mas sim a sua desmilitarização e assegurar que Kiev não insiste na adesão à NATO, o que Moscovo considera parte das suas garantias vitais de segurança nacional, criticando fortemente o avanço desta organização de defesa para junto das suas fronteiras, agregando os antigos membros do Pacto de Varsóvia, organização que também colapsou com a extinção da URSS, em 1991.
Moscovo visa ainda garantir o reconhecimento de Kiev da soberania russa da Península da Crimeia, invadida e integrada na Rússia, depois de um referendo, em 2014, e ainda a independência das duas repúblicas do Donbass, a de Donetsk e de Lugansk, de maioria russófila, que o Kremlin já reconheceu em Fevereiro.
Do lado ucraniano, a visão é totalmente distinta e Putin é acusado de estar a querer reintegrar a Ucrânia na Rússia como forma de reconstruir o "império soviético", que se desmoronou em 1991, com o colapso da União Soviética.
Kiev insiste que a Ucrânia é una e indivisível e que não haverá cedências territoriais como forma de acordar a paz com Moscovo, sendo, para o Presidente Volodymyr Zelensky, essencial o continuado apoio militar da NATO.
A organização militar da Aliança Atlântica está a ser, entretanto, acusada por Moscovo de estar a desenrolar uma guerra com a Rússia por procuração passada ao Exército ucraniano, o que eleva, segundo o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergei Lavrov, o risco de se avançar paara a III Guerra Mundial, com um confronto directo entre a Federação Russa e a NATO, que tanto o Presidente dos EUA, Joe Biden, como o Presidente Vladimir Putin, da Rússia, já admitiram que se isso acontecer é inevitável o recurso ao devastador arsenal nuclear dos dois lados desta barricada que levaria ao colapso da humanidade tal como a conhecemos.
Esta guerra na Ucrânia contou com a condenação generalizada da comunidade internacional, tendo a União Europeia e a NATO assumido a linha da frente da contestação à "operação especial" de Putin, que se materializou através de bombardeamentos das principais cidades, por meio de ataques aéreos, lançamento de misseis de cruzeiro e artilharia pesada, e com volumosas colunas militares a cercarem os grandes centros urbanos do país, mas que agora está concentrada no leste e sudeste da Ucrânia.
Na reacção, além da resistência ucraniana, Moscovo contou com o maior pacote de sanções aplicadas a um país, que está a causar danos avultados à sua economia, sendo disso exemplo a queda da sua moeda nacional, o rublo, que chegou a ser superior a 60%, embora já tenha, entretanto, recuperado.
Estas sanções, que já levaram as grandes marcas mundiais a deixar a Rússia, como as 850 lojas da McDonalds, a mais simbólica, abrangem ainda os seus desportistas, artistas, homens de negócios, a banca e grande parte das suas exportações, ficando apenas der fora o sector energético, gás natural e petróleo...
Milhares de mortos e feridos e mais de 4,5 milhões de refugiados nos países vizinhos da Ucrânia são a parte visível deste desastre humanitário.
O histórico recente desta crise no leste europeu pode ser revisitado nos links colocados em baixo, nesta página.