Ursula von der Leyen, a alemã que dirige a Comissão Europeia, provavelmente o órgão da União mais relevante na gestão diária da organização, embora não seja um cargo para o qual os seus titulares são eleitos pelos europeus, disse que a forma como a China continuar a interagir com o Presidente da Rússia "será determinante" no futuro da cooperação com a China.
Numa altura em que vários lideres estão na China, como é o caso do espanhol Pedro Sanchéz, ou em vias de partir para a capital chinesa, como Ursula Leyen e o Presidente francês, Emmanuel Macron, depois de o alemão Olaf Scholz lá ter estado recentemente, a chefe da Comissão Europeia, num tom que lhe tem sido comum, optou por declarações claramente agressivas para o Presidente Xi Jinping.
Esta postura de Leyen é, segundo alguns analistas, inadequada quando, entre os países membros da União Europeia, se procura definir um caminho alternativo para acabar com a guerra na Ucrânia e para o qual o papel da China é fundamental.
Como se pode ler nalguns media europeus, as palavras de Ursula von der Leyen não encaixam naquilo que poderá ser um plano viável para levar a China a mudar de direcção no que respeito ao objectivo de Bruxelas em isolar Moscovo no panorama internacional e não facilita o empenho de Pequim na busca de uma solução negociada para a guerra.
Nas suas declarações, a alemã sublinhou mesmo que as relações futuras entre Pequim e Bruxelas vão depender da forma como a China se portar face aos russos, apontando como urgente a mudança da atitude europeia face aos chineses, que entende ter de ser mais "corajosa", ou seja, como a própria acaba de ser ao desafiar a China com ameaças de mudança de agulha nas relações entre o bloco europeu e o gigante oriental.
A líder europeia acusou mesmo o Governo de Xi Jinping de estar a ser "mais repressivo internamente e mais assertivo no resto do mundo", defendendo que os europeus devem ser mais rigorosos na detecção dos riscos inerentes ao relacionamento bilateral, embora admitindo que um rompimento de relações não nem viável nem desejado.
O que Ursula Leyen pretendeu dizer é que as relações da União Europeia com a China devem ser para manter, devido à interligação entre as duas economias, mas não a qualquer preço, deixando, mesmo que tenuamente, a porta aberta para uma postura mais agressiva com Pequim.
E deixou claro que Bruxelas está especialmente inquieta com as relações entre os Presidenttes russo, Vladimir Putin e chinês, Xi Jinping, que, recorde-se, tem por detrás uma vontade comum de mudar a actual ordem mundial baseada nas regras ocidentais, desde logo europeias e norte-americanas, para uma ordem global assente na cooperação e na multipolaridade, o que, a ter sucesso, seria um rude golpe nos interesses europeus.
Minsk quer cessar-fogo
Entretanto, o Presidente da Bielorrússia, o principal aliado da Rússia na Europa, surpreendeu esta sexta-feira o mundo ao lançar um apelo veemente a Moscovo e a Kiev para um cessar-fogo.
Alexander Lukashenko justificou estas palavras, numa conferência na capital bielorrussa, com a ideia de que a iminente contra-ofensiva ucraniana para empurrar os russos para as suas fronteiras, poderá levar a uma escalada no conflito que o deixará fora de controlo.
"Moscovo e Kiev têm de parar já com as hostilidades, porque se assim não for, as coisas podem ficar fora de controlo", disse o maior aliado de Putin, ao mesmo tempo que anunciava que vai propor que os dois lados parem já a guerra permanecendo onde estão, sem movimentar as suas unidades, para dar espaço a futuras negociações.
Na resposta a esta proporta, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, já veio afastar a possibilidade de tal suceder desta forma, porque Moscovo ainda não atingiu os seus objectivos e a única via actualmente para o fazer é através da operação militar especial.
Em causa está a muralha de aço existente entre as posições russa e ucraniana, com Moscovo a manifestar que não existe sequer a possibilidade de discutir a anexação das cinco províncias ucranianas desde 2014, Crimeia, e depois, em 2022, Lugansk, Donetsk (Donbass) e ainda Kherson e Zaporijia, enquanto Kiev diz que só para os combates quando expulsar todos os militares russos do seu território até ao último centímetro.
Com estas posições inamovíveis e aparentemente sem forma de suceder alguma versatilidade tectónica no eixo da diplomacia entre Kiev e Moscovo, o papel do Presidente da China, o mediador que até o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky quer ver em Kiev, surge cada vez mais relevante e decisivo pela capacidade económica e influência no Kremlin, embora a líder da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, pareça não ter essa circunstância em conta.
Contexto da guerra na Ucrânia
A 24 de Fevereiro de 2022 as forças russas iniciaram a invasão da Ucrânia por vários pontos, tendo o Presidente russo dito que se tratava de uma "operação militar especial", sublinhando que o objectivo não era (é) a ocupação do país vizinho, condição que evoluiu depois para a anexação de territórios no Donbass mas também as regiões de Kherson e Zaporijia, mas sim a sua desmilitarização e desnazificação e assegurar que Kiev não insiste na adesão à NATO, o que Moscovo considera parte das suas garantias vitais de segurança nacional.
O Kremlin critica há vários anos fortemente o avanço da NATO para junto das suas fronteiras, agregando os antigos membros do Pacto de Varsóvia, organização que também colapsou com a extinção da URSS, em 1991.
Moscovo visa ainda garantir o reconhecimento de Kiev da soberania russa da Península da Crimeia, invadida e integrada na Rússia, depois de um referendo, em 2014, e ainda a independência das duas repúblicas do Donbass, a de Donetsk e de Lugansk, de maioria russófila, que o Kremlin já reconheceu em Fevereiro, tendo acrescido a esta reivindicação as províncias de Kherson e Zaporijia, depois da realização de referendos que a comunidade internacional, quase em uníssono, não reconhece.
Do lado ucraniano, a visão é totalmente distinta e Putin é acusado de estar a querer reintegrar a Ucrânia na Rússia como forma de reconstruir o "império soviético", que se desmoronou em 1991, com o colapso da União Soviética.
Kiev insiste que a Ucrânia é una e indivisível e que não haverá cedências territoriais como forma de acordar a paz com Moscovo, sendo, para o Presidente Volodymyr Zelensky, essencial o continuado apoio militar da NATO para expulsar as forças invasoras.
A organização militar da Aliança Atlântica está a ser, entretanto, acusada por Moscovo de estar a desenrolar uma guerra com a Rússia por procuração passada ao Exército ucraniano, o que eleva, segundo o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergei Lavrov, o risco de se avançar para a III Guerra Mundial, com um confronto directo entre a Federação Russa e a NATO, que tanto o Presidente dos EUA, Joe Biden, como o Presidente Vladimir Putin, da Rússia, já admitiram que se isso acontecer é inevitável o recurso ao devastador arsenal nuclear dos dois lados desta barricada que levaria ao colapso da humanidade tal como a conhecemos.
Esta guerra na Ucrânia contou com a condenação generalizada da comunidade internacional, tendo a União Europeia e a NATO assumido a linha da frente da contestação à "operação especial" de Putin, que se materializou através de bombardeamentos das principais cidades, por meio de ataques aéreos, lançamento de misseis de cruzeiro e artilharia pesada, e com volumosas colunas militares a cercarem os grandes centros urbanos do país, mas que agora está concentrada no leste e sudeste da Ucrânia.
Na reacção, além da resistência ucraniana, Moscovo contou com o maior pacote de sanções aplicadas a um país, que está a causar danos avultados à sua economia, sendo disso exemplo a queda da sua moeda nacional, o rublo, que chegou a ser superior a 60%, embora já tenha, entretanto, recuperado.
Estas sanções, que já levaram as grandes marcas mundiais a deixar a Rússia, como as 850 lojas da McDonalds, a mais simbólica, abrangem ainda os seus desportistas, artistas, homens de negócios, a banca e grande parte das suas exportações, incluindo o sector energético, do gás natural e em parte do petróleo...
Milhares de mortos e feridos e mais de 9,5 milhões de refugiados internos e nos países vizinhos da Ucrânia são a parte visível deste desastre humanitário.
O histórico recente desta crise no leste europeu pode ser revisitado nos links colocados em baixo, nesta página.