Se se confirmar a escolha de Mark Rubio, senador republicano pela Florida, para liderar o Departamento de Estado e, dali, a diplomacia norte-americana, então confirmar-se-á igualmente que Donald Trump optou pela linha dura contra China, Irão e o aperto sobre Kiev para acabar com a guerra na Ucrânia.

A notícia é do jornal The New York Times, que avança esta terça-feira que o Presidente-eleito dos Estados Unidos escolheu Mark Rubio, o mais radical dos republicanos descendentes de cubanos que conquistaram relevância política nacional, e, desta forma, mostrar ao que vem para este segundo e último mandato.

E Trump vai também marcar os próximos quatro anos como 47º Presidente dos EUA focado em desligar a economia dos EUA da ficha eléctrica para a ligar aos combustíveis fósseis de novo, como o demonstra igualmente a sua escolha de Lee Zeldin, para a agência de Protecção Ambiental.

O representante republicano de Nova Iorque no Congresso é um defensor agressivo da desregulamentação ambiental para favorecer as empresas nacionais com tracção nos combustíveis fosseis e que apostaram em Trump para destruir as grilhetas legais criadas pelos democratas "radicais ambientalistas de esquerda".

Se a Rubio e a Zeldin se juntar o nome que escolheu como conselheiro para a segurança nacional, Mike Waltz, antigo coronel "boina verde" e um defensor vigoroso de lidar com a China como "o inimigo", então fica claro que Donald Trump vem mesmo para deslocar os EUA para, provavelmente, a sua versão mais agressiva em muitas décadas tanto internamente como para o exterior.

Se a estes nomes se acrescentar a sua decisão, já assumida publicamente, de que, ao contrário do seu primeiro mandato, entre 2016 e 2020, não vai querer na sua Administração ninguém que discorde das suas ideias, então fica ainda mais nítido que EUA vão ser estes até 2028: mais agressividade com China, Irão e Cuba, ignorar as alterações climáticas e recentrar o foco na economia interna.

O que quer dizer que além-fronteiras a guerra na Ucrânia salta da agenda das prioridades de Washington, os aliados europeus serão "obrigados" a abrir os cordões à bolsa se quiserem que os EUA se mantenham na NATO, é no Indo-Pacífico que a Casa Branca quer travar a expansão da China travando as "guerras" com Pequim que para isso forem necessárias...

Israel é para apoiar até "onde for preciso e com tudo o que for preciso" para derrotar o Irão, e o resto do mundo só pontualmente merecerá a atenção do 47º Presidente dos Estados Unidos da América, que vai estar focado em permanência na expulsão de imigrantes ilegais, taxar tudo o que vier de fora de forma a ajudar as empresas nacionais a prosperarem, criando mais emprego e fazendo baixar a inflação...

Trump pode ter ainda mais interesse que Biden no relacionamento com Luanda

Apesar de, à primeira vista, o recentrar das prioridades na economia nacional ser desfavorável à continuação da política externa da Administração Biden, que só sai de cena em definitivo a 20 de Janeiro de 2025, a Angola, quando Donald Trump chegar à Casa Branca, pode bem ser a excepção.

Isto, porque Trump vai encontrar o comboio já em marcha e pode concluir que, ao invés de o mandar parar, tem mais a ganhar se o apanhar em andamento, porque o investimento no Corredor do Lobito, como se sabe em Luanda e em Washington, é resultado de uma análise apurada do que melhor defende os interesses estratégicos dos EUA.

E, ainda por cima, como é evidente, a ligação ferroviária entre a costa atlântica angolana e a fronteira com a República Democrática do Congo (RDC) e com a Zâmbia, pode ser a arma secreta de Washington para combater a influência da China no continente africano.

Influência essa que tem consequências directas nos interesses económicos das grandes empresas norte-americanas das novas tecnologias, seja na aeronáutica, aeroespacial, no sector automóvel, ou das TIC"s (tecnologias de informação e comunicação).

Áreas onde, por exemplo, o novo melhor amigo de Trump, o bilionário Elon Musk, que o apoiou sem limites na campanha eleitoral, tem fortes interesses, desde logo no sector dos carros eléctricos (Tesla) e na aeroespacial (Space X), e que pode vir a revelar-se como o melhor advogado da "causa" angolana no fortalecimento das relações com os EUA.

Como pano de fundo a este mapa de interesses estratégicos está a forma como a influência chinesa cresceu nas últimas duas décadas na RDC, onde encontrou as condições ideais para alimentar as suas gigantescas necessidades de minérios estratégicos como o coltão, o cobalto, as terras raras...

Precisamente os mesmos recursos de que os EUA, e os seus aliados ocidentais, carecem como nunca e como se pode facilmente perceber tendo em consideração que só no que diz respeito ao coltão, mineral fundamental para a indústria 2.0, dos computadores, smartphones, comunicação e informação... a RDC possui cerca de 80% das reservas mundiais e estas estão, actualmente, sob controlo efectivo de Pequim...

E o ocidente não poderá competir com a China nestes sectores se não tiver acesso contínuo e abundante destes recursos, que incluem, além do coltão, o cobalto (insubstituível na aeronáutica e na indústria aeroespacial), e as terras raras, que, apesar da designação abrangente, consistem em perto de duas dezenas de elementos químicos fundamentais para uma vasta gama de indústrias tecnologicamente avançadas com, por exemplo, uso do laser, da optoelectrónica e da computação...

Ora, a questão que se coloca com a chegada de Donald Trump ao poder, quando crescem as dúvidas sobre se haverá ou não continuidade da opção estratégica de Joe Biden no que diz respeito a Angola, é se o 47º Presidente dos EUA estará em condições de revogar o que já foi erguido nesta ponte diplomática e geoestratégica entre Washington e Luanda?

A resposta é, para já, incerta, mas a economia tende a impor-se à política e a atingir a condição de interesse estratégico quando se junta à vontade dos políticos que gerem países...