Donald Trump já tinha deixado claro que a vitória eleitoral não é um dado adquirido, porque as duas tentativas de assassinato de que foi alvo, por esta altura, já lhe deviam ter dado o avanço necessário para poder ocupar algum do seu tempo a jogar golfe e tal não se conclui das sondagens sucessivas.
Mas Kamala Harris também não está à-vontade com os resultados visíveis nas sondagens, onde, apesar de uma ligeira vantagem global, se mantém um vasto espaço de incerteza, até porque na memória de todos está ainda o facto de a também democrata Hillary Cliton, em 2016, ter obtido mais 2,5 milhões de votos que Donald Trump e, ainda assim, ficou da parte de fora da Casa Branca a ver nela entrar o republicano.
Depois de uma derrota humilhante em 2020, Donald Trump colocou-se logo na corrida para 2024, onde pensava ter a passadeira vermelha estendida face a um adversário fraco, cansado e com problemas de saúde mental claros, que era o ainda Presidente Joe Biden, mas saiu-lhe no boletim de voto a actual vice-Presidente Kamala Harris.
As sondagens mostraram que os democratas estavam certos ao afastar Biden, porque Harris rapidamente passou para a dianteira nas sondagens, por escassa margem, mas, como se sabe, candeeiro que vai à frente ilumina duas vezes.
Só que isso não chega para sossegar a afro-indiana-americana, que está agora a usar o trunfo que os republicanos usaram contra o democrata Joe Biden: "Trump não serve para Presidente porque está cada vez mais instável psicologicamente. E isso mesmo é dito pelas pessoas que trabalham de perto com ele", alertou Kamala.
Para sublinhar este alerta de Kamala Harris, de 60 anos, sobre a "instabilidade mental" de Trump, deixando subentendido que a idade, 78 anos, já lhe pesa, como os republicanos faziam a Biden, de 81 anos, a CNN, o canal que menos esconde querer ver Trum longe da Casa Branca, publicou uma lista de declarações atrapalhadas do antigo Presidente.
Entre estas, a CNN destaca a afirmação onde Donald Trump ameaça, se for eleito, ordenar às forças armadas para lidar com os "inimigos internos" dos Estados Unidos, e não era sobre os imigrantes que falava, mas sim sobre os políticos democratas, que diz serem "lunáticos radicais de esquerda", como é costume dirigir-se à sua opositora, que podem tentar perverter a vontade dos americanos no dia das eleições.
Estas declarações não acontecem por acaso, mostrando uma radicalização do discurso, procurando galvanizar as hostes, e um golpe de asa que determine o desejado resultado a 05 de Novembro que, na verdade, pode estar já a ser desenhado, com o voto antecipado e que pode chegar aos 40 milhões de eleitores, estando já a suceder na Georgia, um dos seis estados que determinam o vencedor ao penderem para um ou outro lado com maior frequência.
O mesmo sucede no Nevada, Wisconsin, Pensilvânia, Michigan, Carolina do Norte e Arizona, sendo, quase sempre para estes estados que os candidatos guardam os seus maiores esforços, como parece ser agora o caso de Kamala Harris, que, vendo que as sondagens começam a ficar ao rubro nos "swuing states", procura o tal golpe de asa afastando-se do legado de Biden.
E é isso mesmo que os media norte-americanos estão a destacar esta quinta-feira, depois de uma entrevista abrasiva de Harris à Fox News, o canal que apoia abertamente Donald Trump, onde esta promete que a sua Presidência, em caso de vitória, "não vai ser a continuação" da Presidência de Biden.
Alias, esta é também o momento em que Trump tem aproveitado para enfatizar a forma pouco cordata como os democratas afastaram, segundo ele,"roubaram" a candidatura a Joe Biden, que levou o ainda Presidente a odiar a sua vice-Presidente: "Dá para acreditar que ele(Biden) gosta mais de mim que de Kamala!?".
Este afastamento de Biden surge depois de Kamala Harris, noutra entrevista, quando questionada sobre se haveria alguma coisa que mudaria nestes quatro anos de vice-Presidente de Joe Biden, esta respondeu que nada lhe ocorria.
O que parece não ter corrido bem, porque, especialmente, nos estado onde o voto não está nem garantido nem há uma fórmula conhecida que os garanta, segundo os analistas, vir a público dizer que nada mudará, parece que não foi uma boa ideia e está agora a tentar afastar-se desse erro estratégico afirmando que será uma Presidente diferente do actual.
"Deixem-me ser muito clara, a minha Presidência não será a continuação da de Joe Biden, e tratei comigo a minha experiência pessoal, profissional e ideias frescas, porque eu represento uma nova geração de lideranças", afirmou.
Isto, depois de nos últimos dias, a campanha de Trump ter apostado fortemente em divulgar nas redes sociais um vídeo onde Kamala Harris surge a rir, aparentemente, de forma descontrolada, repetindo a frase "nesta campanha está em causa alguma `coisa" muito importante!", levantando dúvidas se a candidata democrata teria consumido drogas ou ingerido bebidas alcoólicas.
A este vídeo dispersado estrategicamente nas redes sociais pelos artilheiros da campanha republicana, os democratas contra-atacaram colocando Harris a falar de uma "instabilidade mental" de Donald Trump, depois deste mentir despudoradamente sobre ser ele o "pai da fertilidade in vitro" nos Estados Unidos.
Como em todas as campanhas, nos últimos dias os candidatos apostam todas as fichas na radicalização dos discursos, deixado de lado as propostas políticas mais "main stream" para mobilizar indecisos e procurar galvanizar as suas hostes.
Adivinham-se duas semanas escaldantes na campanha.