Esta reafirmação das palavras do general que liderou o golpe e se tornou Presidente de transição é relevante no contexto dos vários golpes militares que varreram a África Ocidental nos últimos anos, onde nenhum cumpriu a promessa de repor a ordem constitucional após um período de transição, normalmente de dois anos.

No Mali, por exemplo, os militares realizaram um golpe dentro do período de transição quando este se encaminhava para o prazo definido para lhe por fim, de forma a prolonga-lo por mais dois anos, sendo difícil de acredita que tal calendário será cumprido.

Mas o mesmo sucedeu na Guiné-Conacri, no Sudão e dificilmente terá outro caminho no caso do Burquina Faso (ver links em baixo nesta página).

Raymond Sima entende, numa entrevista à AFP, que os dois anos anunciados pelo general Brice Nguema são "um prazo razoável" de retorno à democracia com a devolução ao povo da capacidade de escolher os seus governantes.

"É boa ideia começar com um objectivo razoável de forma a completar este processo em 24 meses", disse o primeiro-ministro, que não esconde o desejo de voltar às eleições no fim deste prazo.

Vindo da oposição, e com 68 anos, Raymond Sima é visto no Gabão como uma figura que pode dar a cara por uma transição aceitável pelo povo, embora isso não seja o que pensam o até todos os que deram a cara na oposição ao ex-Presidente Ali Bongo, havendo quem defenda que se tratou de um golpe palaciano para manter o poder no seio da família Gongo Ondimba (ver links em baixo nesta página).

Desde o golpe que Brice Nguema, antigo comandante da guarda presidencial e primo de Bongo, está sob suspeita de ter dado a cara por um golpe palaciano, porque atrás de si, acusa a oposição gabonesa, estará a filha mais velha do ex-Presidente que decidiu agir de forma a evitar que o poder escapasse da família Ondimba através de um outro protagonista de um golpe militar, como quase esteve a suceder em 2019, quando um jovem tenente, Kelly Obiang, também da guarda presidencial, tentou tomar o poder.

Esta decisão está ainda a gerar mais dúvidas sobre a verdadeira natureza do golpe liderado por Brice Nguema, que é acusado pela oposição gabonesa de ser o homem de mão da filha de Bongo, Pascaline, que é quem vai, efectivamente, mandar no país, mantendo a família Ondimba aos comandos em Libreville.

Porém, este golpe de 30 de Junho pode, segundo analistas, gerar uma avalanche familiar interna, porque o filho de Ali, Nuredin Bongo, que era o preferido do pai para o substituir, não vai perdoar a antecipação da irmã mais velha, Pascaline.

Depois de libertar o primo, general Brice Nguema não deve fazer o mesmo a Nureddin, porque está acusado de corrupção e traição à pátria, um expediente eficaz para o manter atrás das grades, evitando as suas movimentações contra a irmã e o primo.

Se Ali Bongo vai aproveitar para partir para o exterior, provavelmente de encontro ao seu amigo, o Presidente francês, Emmanuel Macron, só se saberá nos próximos dias, mas esse deve ser o caminho porque o seu debilitado estado de saúde não deve permitir um esforço para retomar as rédeas do poder no Gabão.