Apesar desta tranquilidade, as reclamações foram-se sucedendo, quase sempre de dificuldades de votar em algumas regiões, presença de forças militares nas proximidades das mesas, elementos armados a votar, desvio de urnas, de votos,mas nada de... anormal na sucessivas idas às urnas na Guiné-Bissau.

Onde, como sempre, há razões para temer o pior. Porque o momento da divulgação dos resultados é, até aqui foi sempre assim, sucedido de uma "rajada" de críticas aos processo entre os derrotados, acusações de fraude e promessas de recursos até que seja reposta a "verdade".

Mas neste processo eleitoral, apenas legislativo, que decorre da dissolução do Parlamento, em meados do ano passado, pelo Presidente Úmaro SIssoko Embaló, um general na reforma, existe uma razão extra para temer problemas: o Chefe de Estado já disse que, mesmo que ganhe as eleições com maioria absoluta, o líder do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verdade (PAIGC), Domingos Simões Pereira, não será nomeado primeiro-ministro.

No sistema semipresidencialista que vigora na Guiné-Bissau, é o presidente que nomeia o chefe do Executivo, entre as forças políticas mais votadas para a Assembleia Nacional, após a constituição de uma maioria clara, se esta não for conseguida por um único partido ou coligação eleitoral.

Na anterior legislatura, saída da votação de 2019 e interrompida em meados de 2022, o primeiro-ministro foi indicado apesar de ser líder do 4º partido mais votado, por desentendimentos vários entre os mais votados e o Presidente da República.

Nessas eleições, o PAIGC venceu com 47 mandatos, face aos 27 do Movimento para a Alternância Democrática (MADEM-G 15), 21 do Partido da Renovação Social (PRS) e 05 da Assembleia do Povo Unido- Partido Democrático da Guiné-Bissau (APU-PDGB).

Apelos à calma da CNE e da sociedade civil

Antecipando um eventual remoinho de contestação aos resultados, a Comissão Nacional de Eleições (CNE) já veio a público, nesta segunda-feira, day after à ida às urnas, e quando se espera que na quarta-feira comecem a ser divulgados resultados provisórios, pedir calma ao povo e aos concorrentes, exigindo responsabilidade aos actores políticos.

Como avança a Lusa, num comunicado de balanço lido pelo secretário-executivo adjunto Idrissa Djaló, a CNE apelou à "tolerância, serenidade e sentido de responsabilidade" de todos os actores envolvidos no processo eleitoral, nomeadamente partidos e coligações e comunicação social, e a que mantenham "uma conduta cívica exemplar" neste "momento crucial e delicado que o país vive".

A CNE considerou, segundo a Lusa, que as eleições decorreram "num clima de muita cordialidade, cooperação e solidariedade" e de forma "ordeira e pacífica".

Também as organizações da sociedade civil guineenses consideram a votação para as eleições legislativas como um processo globalmente com êxito e sem grandes incidentes.

Reunidas na célula de monitorização eleitoral, as organizações da sociedade civil felicitaram a Comissão Nacional de Eleições, o Ministério do Interior, os observadores internacionais e os parceiros de desenvolvimento do país pelos apoios e colaboração no trabalho de uma espécie de fiscalização interna do ato eleitoral.

A lei guineense não permite a observação eleitoral de agentes locais, mas nos últimos anos e com o apoio da comunidade internacional várias organizações da sociedade civil têm-se reunido em células para acompanhar e relatar as incidências dos processos eleitorais.

Para as eleições de hoje, a célula de monitorização eleitoral colocou no terreno 200 agentes que relataram "um bom desenrolar do ato da votação", disse Miguel de Barros, porta-voz da estrutura, na leitura da última declaração do dia à comunicação social.

"A análise destes relatórios permitiu-nos concluir que o processo iniciou-se bem, desenrolou-se bem e encerrou bem sem grandes incidentes", refere o comunicado.