O primeiro-ministro Benjamin Netayhau vai subir ao púlpito do Congresso dos EUA para convencer o mundo da justiça da invasão daquele território palestiniano apesar das evidências assumidas pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) e pelo Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), da ONU, da actuação criminosa das suas Forças de Defesa em Gaza.

Washington mantém há meses um aparente esforço diplomático para travar a mortandade em Gaza, com pelo menos sete "tours" do secretário de Estado Antony Blinken, que é quem move os cordelinhos diplomáticos norte-americanos, ao Médio Oriente, mas a realidade no terreno mostra que se trata de uma farsa para lidar com os crescentes protestos populares e evitar danos eleitorais para o Partido Democrata.

Apesar das ameaças de cortes no fornecimento de armas a Israel, a Casa Branca mantém um fluxo ininterrupto de armamento para Telavive, incluindo novos esquadrões de F-35, os mais sofisticados aviões Made in USA e os respectivos misseis e bombas com que morrem e morreram milhares de palestinianos nestes quase nove meses de guerra.

E, simbolicamente, o primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyhau, o responsável maior pela forma como estão a ser chacinados milhares de pessoas, mais de 20 mil crianças entre os 39.200 mortos em Gaza, fala ao Congresso esta quarta-feira pela 4ª vez, um recorde de sempre, suplantando mesmo as 3 vezes que ali falou Winston Churchill, o líder britânico que enfrentou os nazi alemães na II Guerra Mundial.

Ainda assim, o apoio oficial que Israel mantém inalterado entre os seus aliados ocidentais, especialmente dos EUA, o Reino Unido, a Alemanha e a França, contrasta claramente com a crescente oposição a esse apoio entre as populações destes países, como o demonstram as sucessivas sondagens.

Como é que os governos destes países agem contra a vontade dos seus povos, é algo que só poderá ser explicado e digerido no futuro...

Mas, no presente, esses mesmos povos mantém flamejantes protestos contra o apoio dos seus governos a Telavive, como é disso prova os milhares de pessoas que esperam Netanyhau quando este se dirigir para o Capitólio, para discursar perante as duas Câmaras do Congresso, a dos Representantes e o Senado.

A Reuters antecipa que Netanyhau procure convencer o Congresso dos EUA a manter firme o apoio a Israel, alegando que isso é fundamental numa altura e que o risco de alastramento do conflito de Gaza para a vasta região do Médio Oriente, o barril de petróleo do mundo, é mais evidente que nunca.

Vai ainda procurar convencer os amigos americanos a aumentarem a pressão sobre o Irão, pelo apoio que este país dá ao Hamas, e, essencialmente, ao Hezbollah, o movimento xiita que controla o sul do Líbano e mantem sob pressão as forças israelitas na sua fronteira norte. Em apoio aos palestinianos de Gaza.

Ao que parece, esta viragem das atenções para Teerão foi alinhavada com o chefe da diplomacia dos EUA, Antony Blinken, que, já esta semana, veio, de forma inesperada, falar de uma ameaça iraniana que este diz estar a apenas duas semanas de produzir a sua bomba nuclear.

Ora, somando as inquietações de Netanyhau e as certezas de Blinken, alguns analistas adivinham que os falcões americanos e israelitas possam querer aproveitar a situação caótica na Casa Branca, depois da renúncia do Presidente Biden à corrida a um segundo mandato, e a sua vincada demência, para levar os Estados Unidos a uma guerra com o Irão.

Só que a crescente oposição popular ao apoio a Israel, especialmente agora que se aproximam as eleições Presidenciais de 05 de Novembro, pode fazer com que os democratas do Congresso se oponham a essa opção.

Que surge menos problemática quando Blinken e os outros falcões na actual Administração estão, muito provavelmente, de saída, quer ganhe o republicano Donald Trump, quer a vitória seja de Kamala Harris, a actual vice-Presidente e candidata quase certa ao cargo pelo Partido Democrata na Convenção de Agosto.

Mas não é apenas nos EUA que os protestos contra Israel crescem.

Esta semana, quando faltam escassos dias para a abertura dos Jogos Olímpicos de Paris, na sexta-feira, 26, um grupo alargado de deputados franceses apelou a que sejam organizados protestos contra a presença de atletas israelitas nas competições.

E em Londres, centenas de lideres sindicais e trabalhadores pró-palestinianos bloquearam os acessos ao departamento dos Negócios Estrangeiros ligado ao desenvolvimento na Commonwealth, exigindo ao novo Governo trabalhista que trave de imediato o apoio a Israel e anule as vendas de armas a Israel e retire a acção legal junto do Tribunal Penal Internacional para anular os mandados de captura por genocídio contra Netanyhau e o seu ministro da Defesa, Yoav Gallant.