Este ataque, que abalou toda a cidade devido à intensidade da explosão, teve lugar durante a noite de quinta-feira para hoje, sexta-feira, 04, e, perto das 09:30, hora de Luanda, mais duas no Líbano, ainda não se sabia se Hashen Safieddine está vivo ou morto.

A revelar-se positivo o resultado para Israel, se Safieddine foi efectivaente abatido neste novo ataque da Força Aérea israelita, ao Hezbollah não restará alternativa senão regressar, como no início da sua existência, na década de 1980, à clandestinidade.

Sem anunciar o nome dos seus líderes e sem presença pública ou mediática, Israel fica sem o trunfo de poder alimentar a sua máquina de propaganda anunciando as sucessivas mortes dos líderes do Hezbolah.

Como avançava esta manhã um analista ouvido pela Al Jazeera, se o Hezbollah for obrigado a sobrepor avertente militar de resistência a Israel à de partido político, todas as suas acções só serão conhecidas a partir das operações militares no terreno.

Provável sucessor de Nasrallah pode estar morto

Como o Novo Jornal também avançava aqui, além de Hashen Safieddine, na calha para substituir Hassan Nasrallah, está ainda Naim Qassem, de 71 anos, e um dos vices do Hezbollah, que tem um longo currículo de participação em batalhas contra os israelitas.

A sua vasta experiência colhe ainda o facto de ter sido eleito vice-secretário-geral do Hezbollah em 1991, ainda no tempo da liderança de Abbas al-Musawi, igualmente abatido por Israel sendo a seguir substituído por Nasrallah, e ser uma figura religiosa muito respeitada entre os xiitas de todo o Médio Oriente.

É igualmente membro do Conselho Shuria (órgão de consulta tradicional e religioso) e é autor de um livro importante, que é lido tanto pelos correligionários como pelos seus inimigos, traduzido em várias línguas, denominado "Hezbollah, a história a partir de dentro".

Todavia, enquanto subsiste a dúvida sobre o seu destino, Hashen Safieddine, com 60 anos, libanês, mas com a sua formação a passar pelo Irão e pelo Iraque, em teologia, é o actual chefe do Conselho Executivo, e um dos vices do movimento, sendo ainda primo direito do falecido Hassan Nasrallah, é claramente o favorito à sucessão.

Ao ter sido falado como potencial nomeado para o cargo, Safieddine passou a ser, automaticamente, um dos alvos a abater por Israel, indo claramente para o topo da lista, não apenas por ser o líder do Hezbollah, mas também porque tem, até agora, assumido a liderança do importante Conselho Shura, órgão de consulta das lideranças.

E por ser evidente que tanto Safieddine como Qassem passaram a ser alvos de Israel, está ainda por explicar como é que Hashen se deixou encontrar pelas unidades especiais de Israel num local de Beirute, mesmo depois de Nasrallah ter sido abatido, apesar das gigantescas medidas de segurança.

Hezbollah à caminho da invisibilidade

Até ser claro se Safieddine está vivo ou morto, dentro do Hazbollah, ao que se pode perceber das notícias dos últimos dias disseminadas pelos media e redes sociais, a organização do grupo xiita que domina totalmente o sul do Líbano, está a preparar uma gigantesca mudança de estratégia no que diz respeito à sua exposição pública.

Isto é reforçado ainda pelas recentes evidências divulgadas pelo ministro dos Negócios Estrangeiros do Líbano, Abdallah Bou Habib, em declarações à CNN International, entrevistado por Christiane Amanpour, de que, horas antes de ter sido morto, Hassan Nasrallah tinha aceitado um cessar-fogo com Israel.

Ora, estes dados mostram claramente que quaisquer regras, seja no que respeita às Leis da Guerra plasmadas nos acordos internacionais, sejam as subjacentes à confiança que merecem quaisquer acordos bilaterais, em que Israel esteja presente, deixaram de ter qualquer validade, como notam vários analistas após se ter tido conhecimento destes factos.

E também que, a partir daqui, nenhum processo negocial para a paz, ou até para um mero cessar-fogo, deixam de ter vaidade, abrindo caminho para uma situação de conflito permanente entre todas as partes envolvidas neste conflito, que "une" Israel ao Hamas em Gaza, ao Hezbollah, no Líbano, e o Irão...

Segundo a CNN International, o cessar-fogo a que Nasrallah tinha dado a sua bênção antes de ter sido morto, tinha sido proposto pelos Estados Unidos e pela França, e, segundo o Presidente Joe Biden, deveria ter a duração de 21 dias.

O que deixa em evidência que Israel não apenas terraplanou a confiança dos inimigos para futuras negociações, como abalou profundamente a confiança entre os seus aliados, a não ser, como também tem sido admitido, tudo não tenha sido mais que uma encenação envolvendo igualmente os EUA.

A justificação para estas dúvidas é que Israel sem o apoio em armas e financeiro de Washington não teria qualquer possibilidade de manter o gigantesco esforço que compreende estar em três frentes distintas, em Gaza, no sul do Líbano e com o Irão...

Isto, durante tanto tempo sem que tenha, para já, além dos sucessos circunstanciais de ter abatido as lideranças do Hezbollah, na semana passada, e do Hamas, ao matar Ismail Haniyeh, em Julho, na capital iraniana, conseguido qualquer vitória definitiva ou próximo disso.

O papel dos EUA

Todavia, além destes factos no terreno, a notícia de que Israel assassinou Nasrallah depois de com ele ter negociado, mesmo que indirectamente, um cessar-fogo é ainda tão recente que dificilmente as suas consequências podem ainda ser medidas com precisão razoável.

Isto, porque, como o ministro dos Negócios Estrangeiros libanês disse à CNN International, "o que foi conseguido foi um acordo totalmente claro", explicando que "o Líbano, em consulta permanente com o Hezbollah, aceitou um cessar-fogo, que foi claramente transmitido aos Estados Unidos e a França".

"E eles (americanos e franceses) disseram-nos que o primeiro-ministro israelita, o senhor Benjamin Netanyhau, também concordava com as condições do cessar-fogo propostas pelos Presidentes Joe Biden e Emmanuel Macron", enfatizou Habdallah Bou Habib.

Nas entrelinhas, Bou Habib deixou claro que este acontecimento permite perceber de que forma Israel lida com os seus principais aliados ocidentais, sendo evidente que os EUA também não ficam bem neste processo, até porque a traição israelita também abrange Washington, que não mostra sinais de poder vir a reduzir o apoio a Telavive... apesar disto.

Isto, quando, se aproxima a simbólica passagem do primeiro ano de guerra em Gaza, onde Israel, após o 07 de Outubro de 2023, em que o Hamas deixou um rasto de 1200 mortos no sul do Líbano, já matou mais de 41 mil palestinianos civis, entre estes 70% mulheres e crianças, sem que o Hamas tenha sido, como prometido por Netanyhau, totalmente aniquilado, pelo contrário, mostrando ainda uma capacidade evidente de combate contra as tropas israelitas.

Ao mesmo tempo, depois de se virar para o sul do Líbano, onde entrou por terra na semana passada, após intensos bombardeamentos às posições do Hezbollah e a localidades civis, onde fez mais de 4 mil mortos - quase 500 apenas no ataque contra Hassan Nasrallah.

Sendo claramente pouco provável que, apesar de ter assassinado o seu líder, o Hezbollah, muito mais robusto militarmente que o Hamas, possa vir a ser aniquilado como prometido igualmente por Benjamin Netanyhau.

Irão volta a desafiar Telavive

Entretanto, já nesta sexta-feira, 04, o ministro dos Negócios Estrangeiros do Irão, Abbas Araghchi, desafiando Israel, que tinha avisado que abateria qualquer avião iraniano que voasse para Beirute, aterrou na capital libanesa, para conversações com o Governo libanês.

Esta visita acontece dias após o poderoso ataque iraniano contra Israel, com mais de duas centenas de misseis, entre estes dezenas de projecteis hipersónicos, que revelaram, surpreendentemente, múltiplas fragilidades do mítico sistema de defesa antiaéreo israelita.

Ao destruir parcialmente duas bases aéreas israelitas, uma infra-estrutura energética e provocado danos volumosos na sede da Mossad, em Telavive, o Irão deixou um aviso a Telavive de que a sua inexpugnabilidade deixou de existir e está claramente vulnerável.

Essa pode ter sido a razão pela qual o chefe da diplomacia iraniana se sentiu à-vontade para voar para o Líbano, desafiando as ameaças israelitas.

O que foi o ministro dos Negócios Estrangeiros do Irão fazer ao Líbano, além da agenda de encontros, nada se sabe, mas em caso de uma guerra aberta entre o Irão e Israel, o Líbano, onde está enraizado o Hezbollah, o mais poderoso braço armado de Teerão na região, terá um papel de extrema relevância.