Na altura, Putin avisou que os interesses do Reino Unido, o primeiro país a autorizar a Ucrânia a usar os seus misseis "storm shadow" dentro das fronteiras da "velha" Rússia, além dos territórios ocupados no contexto da guerra, não estariam a salvo em parte nenhuma do mundo.
Depois, quando em Washington o Presidente Joe Biden disse a Kiev que podia usar os seus misseis ATACMS para atacar alvos além da frente de batalha e das regiões anexadas por Moscovo, o chefe do Kremlim reagiu asseverando: "A partir de agora nada nos impede de fornecer o mesmo tipo de misseis aos adversários dos Estados Unidos em todo o mundo".
Provavelmente a Rússia já está a ajudar, com transferência de tecnologia, o Irão a produzir os seus próprios misseis hipersónicos, praticamente, pela velocidade a que se deslocam, imbatíveis pelos actuais sistemas de defesa antiaérea ocidentais, e já usados em pequeno número no ataque a Israel em Abril (ver links em baixo nesta página).
Mas, agora, perante o actual cenário, até porque o Irão, possuindo alguns misseis hipersónicos, segundo vários analistas, estes são em pequena quantidade, de Moscovo podem já ter seguido cargas dos famosos projecteis hipersónicos Kinzhal ou o ainda mais eficiente Zircon, para Teerão.
Esta carga, se estiver, como vários analistas acreditam estar, a caminho, ou já em Teerão, Moscovo pode resguardar-se de qualquer acusação dos EUA na fórmula quid pro quo, que, em terminologia vulgar significa "olho por olho...".
E ainda porque Vladimir Putin já tinha avisado que o faria, além de que tal estará consubstanciado nos recentes tratados de cooperação de defesa estratégica assinados entre Teerão e Moscovo, mas também entre Teerão e Pequim.
Ora, no actual cenário do Médio Oriente, depois de na quarta-feira da semana passada, 31 de Julho, Israel ter assassinado, na capital iraniana, reforçando o lado de humilhação para a honra iraniana, o líder do Hamas, Ismail Haniyeh, quando este ali estava para assistir à tomada de posse do novo Presidente do Irão, Masoud Pezeshkian, a questão em cima da mesa foi apenas saber quando terá lugar a retaliação.
Até porque o líder supremo do Irão, aiatola Ali Khamenei - o Presidente do país tem uma função secundária na política externa iraniana - avisou de imediato que Israel será atacado com especial severidade, afastando a possibilidade de uma encenação como a que teve lugar em Abril, onde os EUA e os aliados de Israel na região foram avisados com relevante antecedência.
E se, noutras ocasiões, os Presidentes do Irão moderados, como sucedeu no tempo de Hassan Rouhani, podem tentar dissuadir o aiatola de decisões mais radicais, desta feita o novo Presidente Masoud Pezeshkian, que também é um moderado, não divulgou qualquer esforço nesse sentido.
O ataque poderá chegar em simultâneo do Irão, com recurso a misseis de longo alcance e drones, do Hezbollah, poderoso movimento xiita que domina o sul do Líbano, dos Houthis, no Iémen, e das milícias xiitas do Iraque e da Síria.
OS EUA estão "dentro"
E para ajudar Israel a defender-se, os Estados Unidos mantém há meses uma esquadra naval liderada por um porta-aviões, incluindo submarinos nucleares e navios de guerra de superfície, e um segundo porta-aviões está a caminho, e o Reino Unido tem igualmente meios navais no tereno, nomeadamente um importante porta-helicópteros e várias fragatas.
Ora, se Israel dificilmente poderá encaixar na definição de quid pro quo embalada por Vladimir Putin, os meios militares que Washington e Londres têm no Médio Oriente são eventuais alvos enquadrados pelos acordos de defesa assinados entre Moscovo e Teerão.
Tal contexto está a ser visto como a antecâmara, se nada acontecer para reduzir as tensões, que, sendo difícil de antever, não é impossível, podendo a solução passar por uma mudança radical na política israelita, com o afastamento do primeiro-ministro Benjamin Netanyhau, de um conflito sem precedentes históricos, com elementos de potencial guerra mundial.
E não estará muito longe de suceder, até porque o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, veio nas últimas horas afirmar que o ataque do Irão vai ter lugar nas próximas horas, ainda nesta segunda-feira, mais tardar na terça-feira.
Essa informação foi passada pelo chefe da diplomacia norte-americana aos seus homólogos do G7, o grupo das sete maiores potências económicas ocidentais, segundo a Axios, uma agência/portal de notícias norte-americana, numa conferência telefónica para coordenar esforços conjuntos sobre o Irão no sentido de reduzir o atrito e a dimensão da resposta a Israel.
Os interesses de Netanyhau e as subtilezas políticas em Washington
Seja, porém, qual for a dimensão da resposta iraniana, os EUA e os seus aliados europeus estarão ao lado de Israel, sem limites e sem condições, até porque todo o esforço ocidental para reduzir as tensões estão a ser direccionadas para Teerão e não para Israel.
Isto, depois de Israel ter, quando decorriam negociações para um cessar-fogo em Gaza entre o Hamas e Israel, mediadas pelos EUA, pelo Egipto e pelo Catar, feito colapsar esse mesmo processo matando em Teerão Ismail Haniyeh, o líder do Hamas que liderava as negociações.
Haniyeh foi abatido na capital iraniana escassas horas depois de Israel ter igualmente abatido o nº 2 do Hezbollah, general Fuad Shukr, em Beirute, capital libanesa, o que por si só seria suficiente para intensificar a frente de guerra na fronteira israelo-libanesa.
Vários analistas defendem que esta aposta do primeiro-ministro israelita na destruição do processo negocial resulta do seu interesse antigo de querer arrastar os EUA para uma guerra com o Irão porque isso lhe daria um lastro suplementar para fazer face às dificuldades internas, onde está entre a espada das ruas em protesto pelo fim do conflito em Gaza e a parede dos tribunais onde tem muito que explicar sobre as falhas oportunas no 07 de Outubro e as acusações de corrupção agravada.
Como é possível que os EUA, onde o Presidente Joe Biden se tem empenhado em defender um cessar-fogo, aceitem ser arrastados para um conflito, se as palavras da Casa Branca traduzirem a verdade, através de uma armadilha claramente montada pelo Governo israelita?
Uma resposta possível é que, sendo verdade que Joe Biden pugna por um cessar-fogo, entre a sua Administração, aproveitando a sua conhecida debilidade física e mental, estão a perseverar noutro sentido, alimentando as chamas com garantias de apoio incondicional a Telavive.
Um exemplo do que pode estar a acontecer nesse contexto foi a estranha declaração de Antony Blinken, um dos mais férreos falcões de guerra em Washington, há cerca de duas semanas, sobre a iminência de o Irão ter a sua arma nuclear operacional.
E uma das ideias mais sólidas que os EUA alimentam há décadas é que o Irão não pode aceder à bomba atómica e para isso estão dispostos a, com Israel, proceder a ataques estratégicos para destruir o seu complexo nuclear.
Provavelmente o actual cenário de pré-guerra é resultado de um plano alargado e antigo que o primeiro-ministro israelita Benjamim Netanyhau foi dar por concluído aquando da sua mais recente visita aos EUA, onde foi ovacionado como nunca pelo Congresso.
Em Washington falou com o actual Presidente, que está de saída, e depois com os candidatos em disputa, o republicano Donald Trump, ainda mais defensor de Israel que Blinken, na sua casa em Mar-a-Lago, Florida, e depois, de volta a Washington, com a democrata Kamala Harris, ligeiramente pelo efusiva no apoio incondicional a Telavive.
Dias depois de Netanyhau voltar a Israel, o Hezbollah foi alvo de um "convite" irrecusável para a guerra após a morte do general Fuad Shuker, em Beirute, com um míssil teleguiado, e as negociações de cessar-fogo em Gaza foram destruídas com o assassinato de Haniyeh, em Teerão, que acumula com um igualmente irrecusável "convite" ao Irão para a guerra...
Só algo de totalmente inesperado, um "cisne negro", pode desviar o mundo de uma guerra de proporções inimagináveis, que todos estão a ver como está a começar, em diecto e a cores, mas ninguém pode dizer, nem aproximadamente, como vai terminar... mas será, seguramente, a preto e branco e dificilmente em directo...