Maputo, a capital de Moçambique, é o olho do furacão desta nova fase de protestos que o candidato apoiado pelo Podemos anunciou já há alguns dias, mas com rajadas de vento de indignação projectadas para as fronteiras do país e todas as capitais provinciais.
Como nos protestos anteriores, onde morreram, em pouco mais de uma semana de paralisação nacional, dezenas de pessoas e centenas ficaram feridas, também o centro nevrálgico do poder moçambicano, no coração de Maputo, deverá estar protegido por um poderoso cordão montado pelas forças de segurança.
Como em todos os furacões, o seu olho pode ser um lugar de acalmia mas em seu redor os ventos dos protestos acolhidos por milhões de moçambicanos indignados com o "saque à verdade eleitoral", far-se-ão ouvir no Palácio Presidencial e nos ministérios controlados pela FRELIMO desde 1975.
A grande questão que emerge desta sucessão de tempestades de protestos nas ruas moçambicanas é como é que um país onde a maioria absoluta da sua população vive há meio século numa pobreza excruciante, voltou a dar não apenas a "super vitória" ao candidato presidencial da FRELIMO, Daniel Chapo, como também uma maioria absoluta no Parlamento e a vitória em todas as províncias do país.
E se esse facto é estranho, como sublinham a esmagadora maioria dos analistas, ao que se está a agarrar o Conselho Constitucional, o ultimo capitulo de recurso antes de fechar oficialmente o processo eleitoral, é à até agora inexplicável diferença entre votantes para as três eleições de conjunto nestas eleições gerais de Moçambique.
Ou seja, em Moçambique os eleitores recebem três boletins de voto para escolher o Presidente, os deputados no Parlamento e para o poder local nas províncias, mas ocorreu uma muito expressiva diferença no número de votantes nas três escolhas eleitorais de 09 de Outubro quando, a 24 desse mês, a CNE anunciou os resultados "oficiais".
E é esse elemento que está, ao que tudo indica, a levar o Conselho Constitucional a fazer horas extra depois de ter pedido à CNE que explicasse esta discrepância.
A mesma ausência de explicação lógica que está a alimentar a fúria popular como se constata no grande número de pessoas que responde aos apelos de Venâncio Mondlane.
"O povo está cansado", dizia Mondlane no vídeo, a partir do exterior, onde se refugiou depois de, segundo o próprio, ter sofrido duas tentativas de assassinato, anunciando ainda uma nova paralisação nacional de forma a que o poder "perceba que a mentira acabou".
"Vamos nos manifestar nas fronteiras, nos portos e nas capitais provinciais. Todas as 11 capitais provinciais", disse o líder destes protestos e candidato à Presidência, acrescentando que esta é a "quarta etapa" dos protestos "e não será a última" até que a verdade seja reposta.
Numa transmissão feita nas redes sociais, Mondlane disse que este novo protesto de 72 horas culminará uma fase da demonstração da indignação popular, a que se seguirá uma pausa, para ver o que o Conselho Constitucional decide, e depois será tomada uma decisão.
Perante este cenário, adivinha-se que até sexta-feira, 15, Moçambique voltará a estar a ferro e fogo, repetindo, porém, que um golpe de Estado não está nos seus planos, querendo sim que as instituições do Estado trabalhem para o povo e não para a FRELIMO.
"Se quiséssemos fazer um golpe de Estado, teríamos feito. Mas não vamos desistir, não vamos recuar, porque Já mataram muita gente", frisou, reafirmando que a sua intenção é "pressionar as instituições de forma a que se reponha a justiça eleitoral".
Mondlane que que se "abra uma nova página" em Moçambique", mesmo que sejam necessários "muitos sacrifícios", apelando aos seus seguidores para que não gerem destruição de bens públicos ou privados, porque o poder está à espera que isso aconteça para justificar o uso da violência.
A esta posição de Venâncio Mondlane, o comando policial moçambicano veio a público apelar ao fim dos protestos, de manifestações e de terrorismo urbano.
"Urge dizer basta às manifestações violentas com tendência de sabotagem de grandes empreendimentos que o país conquistou durante a independência e que são a esperança da geração vindoura", disse o comandante da Polícia da República de Moçambique (PRM), Bernardino Rafael, em conferência de imprensa, em Maputo, citado pela imprensa local.
A polícia acrescenta ainda que os protestos estão a prejudicar gravemente a economia nacional, a afastar turistas do país, a lançar uma má imagem de Moçambique no mundo, porque em lado nenhum do mundo "se permite que um cidadão diga que quer dar um golpe".
Bernardino Rafael acusou Venâncio Mondlane de ter a "intenção clara de alterar a ordem constitucional e democrática em Moçambique".
"Esta tendência de querer alterar a ordem e segurança pública para afectar a Constituição constitui uma violação flagrante da lei", avisou o chefe da polícia moçambicana, avisando ainda que "estas manifestações passaram a ser subversivas, com tendências claras de terrorismo urbano".