Nos últimos anos, a província de Cabo Delgado saltou para as capas dos jornais moçambicanos e internacionais por duas razões que, ao que tudo indica, estão ligadas: a descoberta de enormes jazidas de gás natural e a sucessão de ataques terroristas às aldeias localizadas na área próxima à prospecção e produção.

O ataque, realizado à aldeia de Xitaxi, na zona administrativa de Muindumbe, segundo a imprensa local e as agências, que citam o comandante da polícia na região, teve lugar a 07 de Abril e incidiu "de forma brutal e cruel" sobre os mais jovens por se recusarem a integrar o grupo filiado do estado islâmico que actua há largos meses no norte do país.

Muitos dos mortos foram mesmo decapitados e, segundo relatos recolhidos na aldeia pelos jornalistas, foi deixado um aviso claro para que em toda a região se tenha ficado a saber o que sucede a quem se recusar a alinhar com este grupo terrorista a que as Forças de Segurança moçambicanas parecem não ter capacidade para enfrentar.

Ao mesmo tempo, a União Europeia e os EUA já manifestaram disponibilidade para apoiar o Governo de Maputo a lidar com este problema, que se agudiza com o passar do tempo, incluindo apoio militar, e à medida que empresas como a ENI, a Galp ou a ExxonMobil, entre outras, intensificam a sua presença na região.

Por detrás deste crescente terror que se intensifica em Cabo Delgado, próximo da Bacia do Rio Rovuma, segundo vários analistas, está uma estratégia do estado islâmico, através de grupos criados pelas suas células na Tanzânia no norte de Moçambique, criarem uma linha de apoio para operações de extorsão e raptos com o objectivo de obter avultadas quantias das empresas petrolíferas que precisam de segurança para laborar.

Há mesmo evidências de que Cabo Delgado pode estar a ser preparada para ser palco de operações tiradas a papel químico do que sucede no Delta do Níger, na Nigéria, onde diversos grupos armados, sendo o mais conhecido o "Vingadores do Delta", obtém somas avultadas através das ameaças de destruição de infra-estruturas petrolíferas ou mesmo raptos de trabalhadores estrangeiros ligados ao sector.

Este último massacre, um dos mais violentos de sempre, entre centenas nos últimos anos, segundo a polícia, resultou da vingança pela recusa de os jovens integrarem o grupo jihadista, e também como forma de deixar um recado às populações.

Face a esta crescente violência, centenas de milhares de pessoas já deixaram as suas aldeias na região, na sua maioria, procuraram refúgio em Pemba, a capital provincial de Cabo Delgado, e o Governo do Presidente Filipe Nyusi tem feito sucessivas promessas de aumentar a capacidade de resposta militar a estes grupos, mas tudo o que tem sido feito, mostrou-se insuficiente.

O denominado "estado islâmico da província da África Central - EIPAC" já deixou claro que quer criar um califado nesta extensa região, o que pressupõe de forma clara que toda a actividade económica passa a estar no radar das suas exigências, incluindo o pagamento de taxas, como sucedeu com os seus homólogos no Médio Oriente ou no Norte de África.