Perante dezenas de mortos e centenas de feridos, cujo número exacto ninguém sabe, milhares de manifestantes nas ruas de Maputo não acreditam nem aceitam que o partido no poder tenha conseguido eleger o seu candidato à Presidência com mais de 70% dos votos.
Nem acreditam que este partido tenha conquistado todas as províncias do país com margens impensáveis, e ainda o Parlamento com uma esmagadora maioria absoluta, quando, à excepção de uma elite próxima do poder, a maioria esmagadora da população vive numa pobreza tremenda.
É este o relato que mais se ouve nos muitos manifestantes ouvidos pelos media locais e internacionais entre os largos milhares que na quinta-feira, 07, responderam ao pedido de Venâncio Mondlane, candidato derrotado que mais tem expressado a sua indignação, para saírem às ruas de Maputo.
Isto, no decurso de uma paralisação geral que já leva mais de uma semana, também convocada por Venâncio Mondlane contra os resultados eleitorais divulgados oficialmente pela comissão eleitoral moçambicana (CNE) a 24 de Outubro.
Mas toda a pressão que Mondlane está a exercer nas ruas de Maputo tem um objectivo evidente: levar o Conselho Constitucional, órgão de recurso máximo, a reflectir bem sobre o seu veredicto, que, em definitivo, encerrará o processo eleitoral no país.
O veredicto do Conselho Constitucional não tem prazo definido para ser divulgado.
Mas a sucessão de protestos, a violência nas ruas, as dezenas de mortos e centenas de feridos, podem, segundo alguns analistas, levar a que este órgão procure remendar aquilo que a generalidade dos analistas independentes consideram ser um enorme buraco na lisura eleitoral em Moçambique.
Uma das alegadas provas da extensa fraude eleitoral que se observou nas eleições de 09 de Outubro é, segundo alguns analistas, o facto de os resultados apurados e publicados em acta nos locais de voto por todo o país darem vitórias claras a Mondlane mas, no fim, a CNE atribuiu a vitória ao candidato da FRELIMO, Daniel Chapo, com 70 % dos votos enquanto o candidato do Podemos se ficou pelos 20%.
E é com a convicção de que o seu candidato está a ser impedido de assumir o poder que o povo lhe deu nas urnas que largas dezenas de milhares de pessoas "marcharam" na quinta-feira para o centro de Maputo.
Um forte dispositivo de segurança, com polícia e militares a defender pontos estratégicos na capital moçambicana, disparando fogo real nalguns locais, impediu os manifestantes de chegarem ao destino traçado pelo seu líder, Venâncio Mondlane, que tinha prometido estar presente para os liderar mas não o fez.
Mondlane está algures no estrangeiro, segundo os media moçambicanos, e corre perigo de vida se voltar nas actuais condições ao seu país.
O protesto de quinta-feira foi travado pelas forças de segurança, com custos elevados em vidas humanas e bens materiais destruídos na cidade de Maputo, mas Venâncio Mondlane, num vídeo divulgado nas redes sociais, que foram bloqueadas pelo Governo, prometeu já que os protestos vão continuar até que a justiça eleitoral seja reposta.
"O povo vai tomar o poder. A hora chegou e o povo vai tomar o poder", disse Mondlane num vídeo divulgado no Facebook.