Os manifestantes estavam a violar um recolher obrigatório anunciado pelo Governo como forma de diluir as sucessivas manifestações contra a violência policial, apesar de o Presidente Muhammadu Buhari ter vindo a público na semana passada garantir o desmantelamento da famigerada Unidade Especial Anti-Roubo da Força Policial Nigeriana (NPF, na sigla em inglês).
A SARS foi desmantelada depois de semanas de protestos populares contra a brutalidade policial desta unidade, mas nem isso arrefeceu os ânimos de milhares de jovens que se mantiveram nas ruas de Lagos e Abuja para terem garantias de que "nem mais uma pessoa inocente morre" às mãos das forças policiais.
Agora, mesmo sob a pressão de um recolher obrigatório, como revelam as agências e a imprensa local, centenas de pessoas, na sua maioria jovens, quase todos estudantes, fizeram questão de estar na rua para obterem garantias reais de que os efectivos da SARS não vão continuar a sua acção violenta noutras unidades da NPF.
Os manifestantes querem ainda garantias do Presidente Muhammadu Buhari sobre o julgamento e punição exemplar dos agentes da SARS que excederam a sua missão enquanto autoridades policiais.
Recorde-se que, para além das mortes, esta unidade está ainda sob suspeita em centenas de casos de extorsão, rapto e outros crimes, tudo feito a coberto da farda e de uma impunidade que lhe era conferida pela especificidade do seu estatuto de força especial de polícia.
Mas, apesar da sua dissolução, segundo os manifestantes que continuam a protestar nas ruas do mais populoso pais do continente africano, não há garantia de que os problemas tenham chegado ao fim porque o Presidente não definiu em concreto o que vai suceder aos elementos suspeitos de terem cometidos os crimes e o que vai acontecer com a sua recolocação noutras unidades da NPF.
A par das dúvidas sobre o futuro dos elementos desta unidade especial da NPF, os manifestantes exigem ainda que as suas vítimas vejam ser feita justiça e os que foram detidos no âmbito da sua acção sejam libertados de imediato.
Dois mil escapam das cadeias
Entretanto, segundo relata a imprensa local, mais de dois mil detidos fugiram na terça-feira de duas cadeias nigerianas na sequência de invasões pela multidão que está em contínuos protestos nas principais cidades do país, Lagos e Abuja.
Os manifestantes assaltaram as cadeias para libertar centenas de detidos que ali foram colocados ilegalmente pela nefasta unidade policial SARS, que acabou por ser dissolvido por ordem presidencial.
A libertação dos presos pela agora ex-SARS é uma das exigências mais salientes dos milhares de manifestantes que não deixam as ruas de Lagos, apesar do rígido recolher obrigatório decretado pelo Governador provincial, Babajide Sanwo-Olu, para tentar conter a fúrias que não cessa de emergir nas ruas do maior produtor de petróleo africano, e um dos países com maior índice de corrupção do mundo.
Entretanto, o comandante-geral da NPF já garantiu que as forças policiais não se vão poupar a esforços, usando toda a sua capacidade legal, para colocar um ponto final nestes dias a fio de protestos de rua.
As autoridades locais, pela voz de Babajide Sanwo-Olu, já vieram admitir que estes protestos contra a antiga SARS estão a transformar-se num "monstro difícil de controlar", especialmente em Lagos, uma megacidade com quase 15 milhões de pessoas, onde estão localizados alguns dos maiores e mais pobres bairros de lata do mundo, com milhões de pessoas a viverem na mais absoluta indigência social, apesar das riquezas naturais existentes no país.