Por detrás deste cenário de caos e destruição, especialmente nas regiões Centro e Norte deste país europeu com quem Angola tem históricas relações, e onde está a maior comunidade da diáspora angolana na Europa, está um período climatérico especialmente adverso.

Com a prolongada falta de chuva nos últimos anos, e com um vento seco, persistente e violento oriundo de Leste, da Espanha, país com quem Portugal partilha a Península Ibérica, que começou no final da semana passada, como estava, de resto previsto, nem o reforço gigantesco de meios no terreno, foi suficiente para travar o ímpeto das chamas.

A par deste contexto climático adverso, adverso mas não tão raro quanto isso, porque Portugal é, há décadas, um dos países do Sul da Europa que mais sente as alterações climáticas e o aquecimento das temperaturas globais, está a alimentar os fogos uma política florestal duramente criticada pelos especialistas.

E que é a aposta, em largas parcelas do território, onde actualmente decorrem as situações mais dramáticas com os mais de 200 fogos em curso nesta manhã de terça-feira, 17, nas monoculturas de eucalipto para alimentar a indústria do papel e das celuloses, fazendo destas áreas densamente arborizadas pasto fértil para as chamas e ventos de Leste.

É nos distritos de Aveiro, Viseu e Coimbra, na região Centro de Portugal, que estão em curso os incêndios mais graves, e onde foram registadas as quatro mortes, nos concelhos de Albergaria-a-Velha e Sever do Vouga e em Mangualde e Nelas, no distrito de Viseu.

Durante estes dois dias de maior intensidade no mapa dos fogos em Portugal, três auto-estradas que ligam o Sul e o Norte do país, a A1, e cortam o país a meio, as A25 e A24, além de mais de uma dezena de vias secundárias, estão, estiveram ou deverão ser cortadas nas próximas horas.

Face à gravidade da situação, e devido à nefasta memória dos incêndios em Portugal em 2017 e 2019, alturas em que morreram mais de 100 pessoas, Lisboa accionou o mecanismo da União Europeia que permite o envio de meios dos países-membros para ocorrer às situações mais dramáticas.

E é através desse mecanismo solidário europeu que já nesta terça-feira e na quarta-feira, pelo menos oito aviões de grande porte de combate a incêndios, denominadas Canadair, oriundos de Espanha, França, Grécia e Itália, estão ou vão estar a ajudar os bombeiros portugueses.

Segundo a RTP, a televisão pública portuguesa, é no distrito de Aveiro, centro do país, que estão concentrados mais meios de combate às chamas.

Esta madrugada, o presidente da Câmara de Sever do Vouga, Pedro Amadeu Lobo, descrevia um cenário muito complicado, com o fogo a aproximar-se das zonas industriais do concelho, mas com o despontar da manhã e o aumento da humidade no ar, os especialistas admitiam a ocorrência de uma janela de oportunidade para combater as chamas, especialmente com a redução esperada da intensidade do vento.

Estado de alerta

Esta terça-feira, oito distritos de Portugal continental estão sob aviso amarelo devido ao calor.

De acordo com o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), os distritos de Porto, Setúbal, Viana do Castelo, Lisboa, Leiria, Aveiro, Coimbra e Braga estão sob alerta devido à "persistência de valores elevados da temperatura máxima".

No total, mais de uma centena de concelhos sobretudo das regiões Norte e Centro mantêm-se hoje em perigo máximo de incêndio.

Uma situação de alerta que se vai manter até, pelo menos, à próxima quinta-feira.

Ao início desta manhã de terça-feira, 17, eram 25 os fogos que concentravam maiores preocupações das autoridades portuguesas.

Mais de 100 concelhos mantêm-se hoje em perigo máximo de incêndio rural

Mais de uma centena de concelhos sobretudo das regiões Norte e Centro mantêm-se hoje em perigo máximo de incêndio devido ao tempo quente, segundo o IPMA, que colocou oito distritos do continente sob aviso amarelo.

Em perigo máximo de incêndio estão mais de 100 concelhos dos distritos de Faro, Portalegre, Castelo Branco, Santarém, Leiria, Coimbra, Guarda, Aveiro, Viseu, Porto, Bragança, Vila Real, Viana do Castelo e Braga.

Vários concelhos de todos os distritos de Portugal continental apresentam um perigo muito elevado e elevado de incêndio, de acordo com o IPMA.

Este risco, determinado pelo IPMA, tem cinco níveis, que vão de reduzido a máximo. Os cálculos são obtidos a partir da temperatura do ar, humidade relativa, velocidade do vento e quantidade de precipitação nas últimas 24 horas.

A temperatura máxima mais elevada prevista para hoje será alcançada em Santarém com 35 graus, seguida de Évora, Beja, Setúbal, Lisboa com 34, Leiria com 33 e 31 em Coimbra e Braga.

Por causa do calor, o IPMA emitiu aviso amarelo para os distritos do Porto, Setúbal, Viana do Castelo, Lisboa, Leiria, Aveiro, Coimbra e Braga, pelo menos até às 18:00 de hoje.

O aviso amarelo é emitido quando há uma situação de risco para determinadas actividades dependentes da situação meteorológica.

Segundo o IPMA, a severidade meteorológica irá manter-se extremamente elevada" hoje e quarta-feira, em grande parte do território, em especial nas regiões do Norte e Centro, onde o PIR [perigo de incêndio rural] continuará a situar-se nas classes mais elevadas de perigo: elevado, muito elevado ou máximo".

O território do continente tem estado, desde sábado, "sob a influência de um fluxo de leste, que se intensificou" na segunda-feira e que se "manterá intenso" hoje, "nas regiões do Norte e Centro".

Devido à previsão de risco elevado de incêndio na generalidade do território continental, a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) aumentou o estado de alerta e prontidão dos meios de socorro para o nível mais elevado, para hoje.

Numa conferência de imprensa na segunda-feira, o comandante nacional de Emergência e Proteção Civil, André Fernandes, anunciou que, por causa da situação meteorológica adversa, vai ser prolongada a Declaração da Situação de Alerta em todo o território do continente.

A situação de alerta implica várias medidas excepcionais, como a proibição do acesso e circulação em vários espaços florestais ou a proibição da realização de queimadas e de trabalhos em florestas com recurso a maquinaria (com excepção para as situações de combate a incêndios rurais).

O Governo alargou até quinta-feira a situação de alerta devido ao risco de incêndios, face às previsões meteorológicas, e anunciou a criação de uma equipa multidisciplinar para lidar com as consequências dos incêndios dos últimos dias, com sede em Aveiro e coordenada pelo ministro Adjunto e da Coesão Territorial, Manuel Castro Almeida.