Não é a primeira vez que destacados dirigentes são atacados com recurso a drones, como aconteceu, por exemplo, com Qassem Soleimani, o mítico general iraniano e comandante da Guarda Revolucionária do Irão que, no início de Janeiro de 2020, foi assassinado por um míssil disparado de um aparelho telecomandado por norte-americanos quando este deixava o aeroporto da capital iraquiana.
Mas um ataque directo a um primeiro-ministro de um país com a dimensão do Iraque é um passo que não pode ser ignorado na forma como, por exemplo, movimentos independentistas ou grupos guerrilheiros podem desferir ataques de grande impacto em Governos legítimos de qualquer país no mundo.
A facilidade com que este tipo de grupos, embora ainda não tenha sido reivindicado o ataque à casa de Mustafa al-Kadhimi, podem aceder a aparelhos deste tipo, não tripulados e com capacidade de carregarem explosivos de todo o tipo e em grande quantidade, é, segundo diversos especialistas que hoje estão a ser citados por diversos media em todo o mundo, possivelmente uma nova dor de cabeça para os serviços de segurança responsáveis pela vida de muitos governantes em todo o mundo, especialmente aqueles que dirigem países com conflitos internos intensos.
A casa do primeiro-ministro iraquiano está situada na denominada "Zona Verde" de Bagdade, o local mais seguro do país e com capacidade de reacção a todo o tipo de ataques e onde estão os principais edifícios do Governo e as embaixadas da maior parte dos países com representação diplomática no Iraque.
Porém, o que os especialistas sublinham é que, sendo possível, mesmo para os sistemas de reacção rápida é muito difícil neutralizar um objecto deste tipo a voar a alta velocidade para o alvo, embora, por exemplo, Israel há muito que, com o seu "cúpula de ferro", composto por milhares de misseis de grande aceleração, consiga neutralizar a esmagadora maioria dos roquetes lançados pelos grupos armados a partir da Palestina em resposta à ocupação dos seus territórios.
Após o ataque, o líder iraquiano, via Twitter, foi célere a lançar um apelo à calma, pedindo à população da capital iraquiano para se manter em casa, informando que se encontrava bem, pedindo o apoio de todos para garantir a paz, numa altura em que as ruas de Bagdade estão transformadas em palco de violência extrema entre manifestantes e as forças de segurança num período de grande agitação social devido à crise económica e por causa da insatisfação com os resultados "oficiais" das eleições legislativas de 10 de Outubro.
Os manifestantes são da maioria xiita no país que consideram ter havido uma fraude massiva para esvaziar o seu poder, através dos partido de raiz xiita e alguns pró-Irão, beneficiando o primeiro-ministro Mustafa al-Kadhimi, com dupla nacionalidade, iraquiana e britânica, sendo considerado um político pró-ocidente.
As reacções a este ataque inaudito a um líder com a importância do primeiro-ministro do Iraque chegaram de imediato de todo o mundo, condenando-o, tendo os EUA, país que esteve por duas décadas a ocupar militarmente o país após a invasão do início do século, considerando que se tratou de um "aparente ataque terrorista" que tinha por objectivo desestabilizar o centro do poder iraquiano.
Washington declarou mesmo estar disponível para apoiar nas investigações que conduzam à autoria deste ataque, deixando essa manifestação de disponibilidade a provável "intuição" norte-americana de que este ataque tenha por detrás o dedo iraniano, o seu "inimigo" declarado no Médio Oriente.