Até ao momento, porque as autoridades quenianas admitem que não foram ainda encontrados os corpos de todas as vítimas, foram encontradas 420 pessoas enterradas em valas comuns numa floresta do sul do Quénia entre 2020 e 2023.
Como o Novo Jornal também relatou em 2023 (ver links em baixo), durante o período em que diariamente foram encontrados dezenas de corpos de seguidores da Igreja Internacional do Deus das Boas Novas na floresta de Shakahola, próxima de Malindi, cidade costeira do sul do país, o pastor homicida foi denunciado por um crente que não aceitou morrer à fome e sede.
Segundo contaram os media quenianos na ocasião, Paul Mackenzie convenceu centenas de seguidores que as portas do Paraíso lhes seriam abertas se morressem à fome e à sede, sendo esse sacrifício a "chave" de acesso ao círculo mais próximo de Cristo.
Este culto bizarro tinha o epicentro numa densa floresta no sudeste do Quénia onde, à medida que morriam, os auxiliares do Pastor-assassino enterravam os seus corpos aparentemente de forma aleatória, tendo as autoridades, depois, encontrado valas comuns e sepulturas ao longo de centenas de quilómetros quadrados.
Agora, Paul Mackenzie enfrenta o tribunal, acusado que está de homicídios em larga escala, tortura de crianças, crueldade fútil e terrorismo como o demonstram as evidências encontradas nos corpos desenterrados às centenas entre Abril e Maio do ano passado na floresta de Shakahola e arredores.
Na altura, depois de iniciadas as buscas, os bombeiros e a polícia queniana ainda conseguiram salvar pessoas que estavam à beira da morte em alguns locais desta floresta.
Nas tramitações para o julgamento o pastor recusou dar-se como culpado mas as evidências suportadas em centenas de testemunhos devem ser mais que suficientes para uma condenação à pena máxima no Quénia, bem como cerca de uma centena de cúmplices que o acompanham.
Este caso levou, na altura, a uma densa discussão no Quénia, e nalguns países africanos, onde a presença de centenas de igrejas e seitas estão a sufocar as sociedades, aproveitando-se da ignorância e do atavismo de populações pouco escolarizadas e mergulhadas culturalmente no misticismo, onde, além de seitas e cultos, pululam pastores e curandeiros sem escrúpulos.
Pelo menos no Quénia foram criados mecanismos legais para vigiar todas as seitas e igrejas, obrigadas que estão agora a um processo de legalização complexo e exigente, tendo o actual Presidente, William Ruto, criado uma comissão para analisar a situação no país e rever a regulamentação existente sobre as organizações religiosas.
Com Paul Mackenzie, recorda a Al Jazeera, estão, na condição de cúmplices, 55 homens e 40 mulheres, num julgamento que começou já há algumas semanas e deve ainda prolongar-se por outras tantas até que todas as testemunhas, centenas, sejam ouvidas.
O início deste julgamento coincidiu com a libertação dos primeiros corpos para serem entregues às famílias após os complexos esforços para identificar as vítimas através de testes legais, incluindo ao ADN, para que possam agora ter um funeral condigno.