Segundo relatos da imprensa congolesa e de correspondentes das agências de notícias internacionais, uma manifestação de católicos activistas convocada para depois da missa de hoje, foi reprimida de forma violenta, com recurso a gás lacrimogéneo e canhões de água, pelas forças de segurança, deixando pelo menos dois mortos nas ruas da capital congolesa.
O acesso à internet foi fortemente restringido, especialmente o acesso às redes sociais, como forma de impedir a convocação de novas manifestações.
Como pano de fundo para mais esta manifestação em Kinshasa está, como tem sido o mote dos últimos dois anos, o sucessivo adiamento das eleições gerais que a Constituição impunha que fossem realizadas em Dezembro do ano passado, permitindo a manutenção no poder do Presidente Kabila, o alvo central dos manifestantes que hoje exigiram novamente a sua saída.
Alguns manifestantes ouvidos pelos media nacionais e internacionais sublinham que o medo de Kabila estar a preparar um expediente para remover da Constituição o impedimento de se recandidatar a um terceiro mandato, regressou em força.
Estes dizem ainda não acreditar, tal como os dirigentes da oposição no país, que a nova data, Dezembro de 2018, venha a ser respeitada apesar de a comunidade internacional, com destaque para os EUA, a França e o Reino Unido, bem como a ONU, já terem afirmado que não vão tolerar novo adiamento nem que Kabila encontre forma de se perpetuar no poder.
Os dois homens mortos na manifestação de hoje foram baleados pela polícia nas imediações da igreja de Santo Afonso, na área urbana de Matete, em Kinshasa, disse à Reuters Africa uma fonte da Human Rights Watch , sendo, no entanto, negado ela polícia a informação de que foi utilizado fogo real pelos agentes de segurança.
Mais de meia centena de pessoas foram detidas na capital congolesa e, para além dos dois mortos, pelo menos uma dezena foi ferida por armas de fogo, ainda segundo as agências de notícias.
O número de manifestantes diverge de fonte para fonte, mas as imagens transmitidas pela Al Jazeera, televisão do Catar, permitem ver várias dezenas de pessoas a fugirem das investidas policiais.
Mais de 40 por cento dos congoleses são católicos e foram estes que estiveram em maior presença nas manifestações, o que permite especular que o descontentamento com a estratégia de Kabila para manter o poder também desagrada a este importante sector da sociedade da RDC.
Recorde-se que o último acordo que permitiu alguma relativa estabilidade em 2017 foi assinado com a mediação dos bispos católicos e previa a realização de eleições até finais de 2017, o que não se veio a confirmar. A Igreja católica não assumiu a convocação dos protestos de hoje.
Entretanto, as autoridades congolesas restringiram hoje fortemente o acesso à internet, nomeadamente nas redes de mensagens, como forma de evitar maiores ajuntamentos.