A troco de 150 milhões de dólares em cinco anos e entre 20 e 30 mil dólares por pessoa, o regime ruandês aceitou passar a acolher em centros de acolhimento em Kigali todos aqueles que Londres queira ver longe das suas fronteiras, o que gerou uma tempestade de críticas no Reino Unido feitas por organizações de defesa dos Direitos Humanos a entidades conhecidas do cinema à literatura.
Com este acordo, o Governo britânico, alegando incapacidade financeira para acolher tantas pessoas, na sua maioria idas de países africanos e da Ásia pobre, embora tenha recentemente aberto extraordinariamente vagas para milhares de refugiados da guerra da Ucrânia, consegue que o regime de Paul Kagame passe a gerir os processos de asilo no Ruanda, sendo este o país que os passa a integrar se passarem no processo burocrático inerente.
O documento foi assinado há cerca de um mês e os efeitos já estão a ser devastadores, com, segundo a Cruz Vermelha, muitos dos requerentes de asilo no Reino Unido a ameaçarem preferir o suicídio a uma deportação para o Ruanda, enquanto outros, alojados pelo Estado em hotéis, estão a deixar esses alojamentos e a preferir viver em condições extremamente precárias para não serem encontrados pelas autoridades no momento de serem "despachados" para Kigali.
Segundo aquele acordo, todos os que entrem ilegalmente no Reino Unido e iniciem o pedido de asilo político, são, exceptuando casos concretos, como o de risco iminente de vida, enviados à força para o Ruanda onde o seu processo burocrático prossegue.
Os media britânicos estão a noticiar que uma grande parte destas pessoas estão mesmo a recusar cuidados médicos e alojamento com medo de serem apanhados e enviados para Kigali, para onde já seguiu um primeiro grupo de pessoas nestas condições, sendo esse o teste definitivo da validade de tão polémico programa., considerado desumano pelas associações de defesa dos migrantes e dos Direitos Humanos.
O Reino Unido é um dos países mais procurado por jovens africanos e asiáticos, especialmente das antigas colónias britânicas, para procurarem condições legais de permanência na Europa, o que levou as autoridades a encontrar este mecanismo, não só polémico, mas que também fere a lei internacional que rege as obrigações dos países de acolhimento para pessoas que fogem de situações delicadas, para aliviar as suas estruturas sociais criadas para os apoiar.
Porém, numa coincidência temporal curiosa, ao livrar-se destas pessoas, o Reino Unido gera espaço para os milhares de ucranianos que procuram refúgio da guerra nas ilhas britânicas, depois de Londres ter, primeiro, criado obstáculos, mas, depois, enquanto um dos mais destacados apoiantes de Kiev, perceber que teria de abrir a porta a estas pessoas.