Numa analogia com os filmes de guerra, o mundo vive aquele momento em que o ecrã se enche de alertas sonoros e luminosos a informar que se trata de uma situação de verdadeira emergência: Atenção, atenção, isto não é um exercício, todos aos seus postos, atenção, atenção, isto não é...

... um exercício, é mesmo um momento único e historicamente perigoso, que foi criado com a autorização dos EUA, na semana passada, para que os ucranianos pudessem usar os seus misseis balísticos de alcance intermédio, ATACMS, para atacar a Rússia em profundidade...

... e a Rússia respondeu, menos de 48 horas depois, com o lançamento de uma arma que o mundo não conhecia, um míssil criado a partir de uma tecnologia inovadora que transforma os projecteis nucleares intercontinentais em armas convencionais para uso no campo de batalha.

O efeito do disparo do Oreshnik, nome do míssil novo, sobre uma zona industrial na cidade de Dnipro, não apenas surpreendeu os ucranianos, gerou um debate global sobre o, como nunca sucedeu, risco de escalada inimaginável nas suas consequências devastadoras.

Depois do disparo deste míssil, cujas características são inovadoras quando se fala do seu uso com ogivas convencionais no campo de batalha, levou a que os misseis norte-americanos e britânicos deixassem, para já, de ser lançados sobre a Rússia fora da linha da frente.

O efeito surpresa conseguido assim obrigou, porque as imagens das seis ogivas distintas saídas do Oreshnik, que, por sua vez, se dividiram em cinco foguetes menores, vistas em todo o mundo, puseram em cima da mesa global a pergunta: e se fossem ogivas nucleares??

Face à estupefacção gerada por esta nova arma "maravilha" russa nos países da NATO, e aliados da Ucrânia, a organização militar ocidental convocou uma reunião de urgência para esta terça-feira, 26, em Bruxelas, cuja agenda é apenas uma: o que fazer agora!!

E a pergunta não é a parte menor da discussão, porque subjacente a "o que fazer agora?" está o aviso solene feito pelo Presidente russo logo após o Oreshnik ter iluminado os céus nocturnos da Ucrânia, de que "as elites dirigentes ocidentais devem pensar muito bem nas suas acções!".

O uso do Oreshnik chegou ainda com outra nuance. Às explosões dos misseis norte-americanos, ATACMS, e britânicos, Storm Shadow, sobre alvos na Rússia profunda, este novo míssil foi disparado com as suas 30 sub-ogivas independentes inertes, sem explosivos.

Foi uma mera demonstração do poder que a Federação Russa transportará para a guerra se os aliados ocidentais de Kiev não se contiverem na escalada efectivada na passada semana, quando, a menos de dois meses de sair de cena, o Presidente dos EUA, Joe Biden, pode ter aberto as portas do impensável Armagedão nuclear...

E sim, "atenção, atenção, isto não é um exercício!", devem estar já a ouvir as delegações dos mais de 30 países da NATO que se prepararam para esta terça-feira, 26, se reunirem em Bruxelas, com a delegação da Ucrânia, para analisar a entrada em cena do Oreshnik.

Apesar de terem sido as sucessivas introduções de novas armas ocidentais no campo de batalha que os media europeus e norte-americanos foram anunciando, nestes quase três anos de guerra, que iam mudar o curso do conflito, foi, afinal, a Rússia que mostrou a tal arma...

Oreshnik, em português significa "avelã", no sentido da cor deste fruto seco, não havendo informação sobre o porquê de assim ter sido baptizado, mas esta "avelã" caiu, literalmente que nem uma bomba, na narrativa da guerra, que já estava a inclinar fortemente para uma iminente vitória de Moscovo.

O que vão decidir os países da NATO amanhã, em Bruxelas, não há certezas, mas em Moscovo, Vladimir Putin, quando falava da sua "avelã", deixou sinais claros de que a sua escalada em cima da escalada anterior de Joe Biden servia apenas como proposta de redução do... vapor.

O chefe do Kremlin, depois do mundo ter visto nos ecrãs globais o efeito "pirotécnico" do seu novo missil nos céus nocturnos da Ucrânia, reafirmou a sua disponibilidade para negociar uma solução pacífica para o conflito que fará três anos a 24 de Fevereiro próximo.

A bola está agora do lado ocidental, e em Bruxelas, a NATO vai decidir se vai dizer ao Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, para voltar a arrumar os ATACMS e Storm Shadow ou se vai prometer-lhe um... "quebra-avelãs"!

Até ver, lendo os media ocidentais e russos, tal objecto, um "quebra-avelãs" que seja aplicado com sucesso ao Oreshnik, simplesmente não existe, pelo menos ainda... porque este míssil, que é constituído por um veículo-mãe que se desloca a mais de 25 mil kms/h, 25 vezes a velocidade do som, não pode ser travado na sua trajectória balística.

E quando essa trajectória balística, acima da atmosfera terrestre, que é de entre os 5 mil e os 6 mil kms, depois, quando reentra na atmosfera, fá-lo acima de Mach 10, entre 10 e 12 vezes a velocidade do som, mais de 3 kms por segundo, acima de 11 mil kms/h, também não tem antidoto entre os mais sofisticados sistemas antiaéreos ocidentais conhecidos.

Apesar de não haver indícios do que pode a NATO decidir na terça-feira, 26, já amanhã, os analistas militares admitem que pode haver um recuo estratégico, de forma a evitar uma escalada irreversível neste conflito, encontrado uma saída airosa para Kiev e para o ocidente.

Mas se a decisão for a tal promessa de um "quebra-avelãs" para lidar com a "avelã", então o próximo passo de Vladimir Putin e dos seus comandantes militares será, numa primeira fase, equipar as 30 sub-ogivas do míssil com explosivos reais convencionais e mostrar o seu poder destrutivo sobre um alvo relevante na capital ucraniana.

E se tal não surtir o efeito desejado, o Kremlin poderá, no pior dos pesadelos comuns da Humanidade, aplicar as novas disposições da retocada doutrina nuclear russa (ver links em baixo) e equipar a "avelã" com munições nucleares tácticas e...

Os próximos dias dirão o que vai acontecer, mas é comummente aceite entre todos os analistas, mais pró-russos ou mais pró-ocidentais, que nunca como hoje, provavelmente ainda mais que na famosa crise dos misseis de Cuba, em 1962/63, foi necessária tanta sensatez de Washington a Moscovo...