Volodymyr Zelensky já esteve quase, quase, por diversas vezes, a sair a terreiro e acusar publicamente os países da NATO de traição, especialmente os europeus liderados pela sua mais abrasiva aliada, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.

Nunca o fez porque, à última da hora, chegavam novas remessas de armas e dinheiro de Washington, Londres e Paris, ou da própria União Europeia, através de empréstimos milionários.

Como foi o caso da promessa de Ursula von der Leyen de entregar 35 mil milhões de euros a Kiev, via empréstimo garantido por Bruxelas através dos juros dos fundos russos congelados nos bancos europeus...

Mas, meses depois dessa promessa, os dinheiros vitais para Kiev não apenas tardam a chegar como, ao que tudo indica, ficaram tão congelados como os próprios fundos russos que o permitiriam, levando a alemã que governa a Europa a sair de cena pela porta dos fundos.

Agora, numa demonstração clara de descontentamento, o Presidente Zelensky veio acusar a Polónia, que é, nem mais nem menos, que o grande aliado europeu de Kiev, de não estar a fazer o que devia, que era usar os seus sistemas de defesa antiaérea para abater os misseis russos sobre a Ucrânia.

E a razão é simples: no dia em que a Polónia, ou outro país usar o seu território para derrubar misseis russos, os locais de lançamento desses misses passam a ser alvos legítimos dos russos, como, de resto, o Presidente Vladimir Putin já avisou.

Mas Zelensky sabe disso, e sabe ainda que a única possibilidade que tem de evitar uma catastrófica derrota nesta guerra com a Rússia é provocar a entrada imediata dos países da NATO na guerra contra a Rússia.

Como, de resto, era o objectivo estratégico do seu famoso "Plano de Vitória" (ver links em baixo), que alimentou, recentemente, as páginas dos grandes jornais internacionais durante semanas, como o grande e decisivo momento.

Acabou por ser recusado por todos os seus aliados, desde logo em Washington, pela mesma razão que os polacos não lhe podem fazer a vontade de atacar os misseis e drones russos sobre a Ucrânia, que levaria a uma guerra directa com Moscovo e, no degrau seguinte, à III Guerra Mundial, a antecâmara de uma catástrofe nuclear global.

Mas isso não deixa de evidenciar que em Kiev se começa a preparar o terreno para acusar os aliados ocidentais pela iminente derrota na frente de combate, onde os russos não apenas avançam dezenas de quilómetros todos os dias, como se aproximam perigosamente de locais estratégicos e que significam o colapso da capacidade de resistência ucraniana.

É esse o caso da estratégica cidade de Kupiansk, na região de Kahrkiv, para onde as forças russas se dirigem quase sem oposição, como até The Guardian, o jornal britânico que apostou todas as suas fichas no apoio a Kiev, já vem admitir com um impressivo título: "`Aqui dentro estamos a gritar" - Kupiansk abana com a aproximação das forças russas às suas portas".

E isto é importante porque, ao atravessarem o Rio Oskil, as forças russas ficam praticamente sem barreiras ou defesas efectivas ucranianas para avançarem até onde quiserem, como, de resto, está a acontecer na região de Donetsk, após a queda de Vuledar...

Kupiansk é ainda mais importante que algum dos bastiões caídos nas mãos russas nos últimos meses, como Vuledar, Robotine, Avdiivka... porque é a mais importante localidade a cair, como os analistas admitem que acontecerá em brevê, para o lado russo entre as que chegou a tomar no início da guerra, em 2022, e que os ucranianos reocuparam pouco depois.

E as forças russas, como The Guardian nota, numa sofrida reportagem do seu correspondente na Ucrânia, Luke Harding, que escreve mesmo a partir de Kupiansk, estão já a cerca de dois quilómetros da cidade, que o jornalista diz estarem a preparar-se para "arrasar e reocupar".

Isto, ao esmo tempo que a RT, televisão russa, no seu site, detalha que as unidades de Moscovo estão já posicionadas nas imediações da cidade, a sul, tendo mesmo chegado ao Rio Oskil, conseguindo dividir as forças ucranianas em duas áreas, fragilizando-as de forma irreversível.

A dor de cabeça de Zelensly

Mas não é só com Kupiansk que Zelensky e a sua equipa mais próxima se preocupa neste momento, porque são cada vez mais evidentes os sinais de que, com alguma surpresa. Note-se, as forças russas lançaram a mais poderosa ofensiva desde o início da invasão, em 24 de Fevereiro de 2022, ao longo de toda a linha de combate, sendo Kharkiv apenas uma das áreas abrangidas.

Isto, quando, numa evolução dramática do cenário na Ucrânia, os próprios bloggers de guerra próximos de Kiev começam a divulgar vídeos, uns atrás dos outros, de drones e misseis russos a voarem sobre a capital ucraniana sem qualquer oposição dos seus sistemas antiaéreos.

E as aldeias e vilas do leste, em regiões como, especialmente, Donetsk e Zaporizhia, cedem umas atrás das outras, a um ritmo que não era visto desde o início da guerra, naquilo que alguns analistas admitem ser já o preâmbulo do colapso da capacidade de resistência ucraniana.

Tal sucede numa altura em que a Ucrânia faz saber que tem falta de tudo, de todo o tipo de armamento, que os seus aliados ocidentais, contra o que tinham prometido, deixaram de fornecer em quantidade suficiente.

Isso mesmo sublinha o CEMGFA ucraniano, General Aleksandr Syrsky, que citado pelos media do país após um encontro com uma delegação das Chéquia, admite que as suas forças estão numa posição de grande fragilidade face a uma ofensiva russa de grande envergadura.

"Actualmente, as nossas forças estão a aguentar uma grande ofensiva russa desde Fevereiro de 2022, e é urgente o reforço de meios dos aliados ocidentais", escreveu Sirksy nas redes sociais, a partir de onde é citado pelos media locais e russos.

A referida grande ofensiva russa ocorre quando os media ocidentais, e, provavelmente, as chancelarias ocidentais, estão afogadas com a questão da chegada das tropas da Coreia do Norte à frente de guerra em Kursk, criando uma diversão para afastar as atenções do que estava a ser preparado no leste ucraniano.

Este cenário, de alegada iminente derrota ucranian,a está, no entanto, a ser visto em alguns fóruns de análise mais fina da situação como fruto de uma possível cedência estratégica de Kiev para expor as fragilidades, não suas, mas imputáveis aos seus aliados, que se comprometeram e falharam no apoio ilimitado até à derrota final da Rússia no campo de batalha, como a isso aludiram Ursula von der Leyen ou o Presidente dos EUA, Joe Biden, entre outros.

Ou seja, quando os bloggers de guerra aliados de Kiev mostram a sua capital sem defesa antiaérea, não estão a noticiar a ausência de defesas, estão a evidenciar a falha dos aliados em fornecer defesas antiaéreas à Ucrânia, como prometerem insistentemente.

Alias, é de todos conhecido e lembrado o momento decisivo para isso, quando, em Março/Abril de 2022, o então primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, telecomandando por Washington, irrompeu por Kiev para obrigar Zelensky a sair das negociações de Istambul, mediadas pelo Presidente Turco Recep Erdogan, prometendo todo o apoio em armas e dinheiro dos países da NATO para a guerra que derrotaria os russos sem dó nem piedade.

A questão que se põe é... e depois de uma eventual derrota de Kiev?

Depois de uma eventual derrota de Kiev, os analistas mais próximos dos interesses ocidentais começam a admitir que é chegado o momento de em Washingtion, Londres e Paris se tomarem decisões radicais.

Isto, porque a NATO, que é a grande derrotada nesse cenário, não subsistirá a uma humilhação perante a vitória de Moscovo, numa guerra que não apenas incentivaram como quiseram que tivesse lugar usando a Ucrânia como "proxy", que é o mesmo que dizer, os ucranianos a combater em nome de norte-americanos, britânicos, franceses...

E o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, pensa que a seguir a uma derrota ucraniana, o ocidente já prepara um confronto directo com a Federação Russa.

Para ao chefe da diplomacia russa, são os "anglo-saxões", norte-americanos e britânicos, que estão a preparar o leste europeu para assumirem o lugar da Ucrânia numa guerra com a Rússia, ou na continuação da guerra com a Rússia.

Neste mapa de novas "ucrânias", estão, em primeira linha, a Polónia, a Roménia, a Bulgária, a Chéquia e os bálticos Estónia, Letónia e Lituânia, sendo que isso implica indubitavelmente a entrada em cena igualmente de toda a geografia do oeste europeu até ao Atlântico.

"Os anglo-saxões (EUA e Reino Unido) esperavam derrotar a Rússia através dos ucranianos", disse Lavrov, acrescentando, que, por tal cenário não está a mostrar-se viável, "têm um plano B, que é, no caso de o regime de Zelensky cair, estão a preparar a Europa continental para uma aventura suicida de entrar em confronto directo com a Federação Russa".

Sergei Lavrov fez estas declarações em Moscovo, alegando ainda que Moscovo lamenta que os europeus ocidentais não tenham em cima da mesa a possibilidade de tentarem perceber as vantagens de um mundo multipolar, preferindo apostar tudo na subjugação aos interesses anglo-saxões.

No entanto, estas palavras de Lavrov, têm pelo menos uma falha de perspectiva, que é o facto de estarem a crescer as opiniões de lideres europeus, como o alemão Olaf Scholz, que defendeu ainda há alguma semanas, a necessidade de reatar o diálogo com Vladimir Putin, tendo o francês Emmanuel Macron feito o mesmo.

Deu, porém, um exemplo na defesa da sua tese, que foi a forma ligeira como Scholz disse aceitar que os norte-americanos coloquem armas nucleares em território alemão.

E o tema nuclear é central nesta questão, porque no Kremlin, Putin já deixou bem claro que se a Rússia vir a sua existência ameaçada pelo poderia convencional da NATO, fará recurso imediato ao seu arsenal nuclear...