A queda de Vuhledar ainda não foi confirmada pelo Ministério da Defesa russo, mas os bloggers de guerra russos, e também ucranianos, estão já a dar essa retirada das forças ucranianas como confirmada, o que acrescenta mais uma pesada quebra nas linhas defensivas de Kiev.
Além disso, esta cidade, situada, e daí a sua importância estratégica, no topo de uma colina, de onde permite um controlo de uma vasta região plana para leste e para oeste, em direcção ao Rio Dniepre e limite natural da região de Donetsk, estava a ser defendida por uma das mais fortes brigadas ucranianas, a 72ª Mecanizada.
E, ainda por cima, num Exército onde são já claras as falhas de capacidade de preencher as perdas em combate, com destaque para as tropas de elite, como é o caso, dos cerca de 2500 homens que integram esta unidade, segundo fontes miliares citadas pelos media e canais pró-russos, perdeu centenas de homens nos últimos dias, quando tentavam retirar para território ucraniano seguro, enquanto perto de 700 foram feitos prisioneiros.
Os bloggers de guerra ucranianos também confirmam as tentativas de retirada e já esta quarta-feira, elementos da 72ª Mecanizada fizeram saber, via Telegram, que, finalmente, Kiev autorizou a sua retirada de Vuhledar, apesar de o pedido para o efeito já existir há dias.
Alegadamente, a pressão para resistir ao cerco russo a este estratégico "forte" estava assente na visita do Presidente Zelensky aos EUA, onde foi apresentar o seu "Plano de Vitória" ao Presidente Joe Biden, com um claro insucesso, mas não podia coincidir com a perda de Vuhledar.
A questão, agora, com a tomada iminente, ou já realizada, desta cidade pelos russos, que tinha, antes da guerra, perto de 15 mil habitantes, e é hoje um amontoado de ruínas, deserto de habitantes civis, é como vai a Ucrânia conseguir travar o avanço das colunas russas para oeste.
Isto, porque o objectivo maior do Kremlin é assumir rapidamente os territórios das regiões anexadas em 2022, que ainda estão sob controlo ucraniano, com destaque para Donetsk, que compõe, junto com Lugansk, a região estratégica e russófila do Donbass, mas ainda Kherson e Zaporizhia, sendo Lugansk a única totalmente dominada já.
É que, como notam os analistas militares, como o major-general Agostinho Costa, ao tomar Vuhledar, a Rússia fica quase sem oposição ao longo das planícies para oeste até ao Io Dniepre, bem como controla, dali, à distância do seu fogo de artilharia, todas as principais estradas que permitiam a logística de guerra de Kiev.
Isto, quando, igualmente, como nota o analista britânico Alexander Mercouris, era a partir de Vuhledar que as forças ucranianas conseguiam impedir, através da sua artilharia, o uso da linha de caminhos-de-ferro que atravessa a região pela logística russa, que passa agora a estar facilitada sem esses entraves.
A necessidade de poder usar esta via férrea foi, segundo vários analistas, uma das principais razões pelas quais as chefias russas investiram muitos recursos miliares na sua tomada, procurando há semanas completar o seu cerco, o que só agora foi conseguido, embora com pesadas baixas humanas e elevadas perdas em equipamento militar.
A perda de Vuhledar, que compara em importância estratégica com poucos feitos pelos russos nestes quase três anos de guerra, não é o fim deste conflito militar alargado que começou com a invasão russa em Fevereiro de 2022, mas os analistas militares notam que é um passo relevante para os objectivos russos no terreno militar.