Os comandantes militares russos foram claramente apanhados de surpresa com o avanço ousado de forças especiais ucranianas no território da Federação na zona de Kursk, sudoeste do país, tendo ocupado uma faixa de território com mais de 10 kms, fazendo centenas de prisioneiros.

Esta foi a iniciativa militar ucraniana mais impactante, pelo menos mediaticamente, em largos meses, marcados essencialmente pelos avanços contínuos da Rússia, especialmente nas regiões de Donetsk e Zaporizhia.

Que apanhou de tal modo os russos com as calças nas mãos que em Moscovo tocaram as campainhas de alarme e Vladimir Putin reuniu todos os seus conselheiros para a segurança de forma a desenhar uma resposta.

Embora ainda não seja conhecida a decisão desta reunião, que teve lugar na quarta-feira, na capital russa, Putin já fez saber que a operação ucraniana em Kursk foi "uma provocação de larga escala" à qual o Kremlin dará a resposta adequada.

Entretanto, em Kursk, o governador regional, depois de os ucranianos terem surpreendentemente furado a linha defensiva russa e capturado uma fortificação central, além de terem capturado perto de uma centena de militares, ordenou o estado de emergência.

Por outro lado, o CEMGFA russo, general Valeri Gerasimov, segundo analistas próximos de Moscovo deve substituir em breve os comandantes locais, especialmente da cidade de Sudhza, um estratégico entroncamento rodoviário e de distribuição dos oleodutos e gasodutos russos para a Europa Ocidental que foi tomado pelos ucranianos.

Gerasimov afirmou ainda, citado pelos media russos, que mais de mil soldados tomaram parte da operação lançada por Kiev, além de dezenas de carros de combate e de transporte de tropas, embora fontes próximas dos ucranianos refiram que apenas 300 militares estiveram envolvidos nesta operação que foi arquitectada pela secreta militar de Kyrylo Budanov.

Por detrás desta operação, que terá sido ainda melhor sucedida do que era esperado pelos comandantes ucranianos, está claramente a necessidade de Kiev retomar uma presença mediática nos principais media ocidentais, de onde, nos últimos meses, simplesmente desapareceu enublada pelas sucessivas conquistas e supremacia russas.

Este inesperado avanço ucraniano sobre o território russo foi arquitectado em clara sintonia com a chegada ao país dos primeiros aviões de guerra F-16, fornecidos pelos aliados europeus, embora ainda em pequeno número, apenas 10 aparelhos, sendo que Kiev tem apenas seis pilotos devidamente capacitados para os pilotar.

Sobre este problema, depois de largos meses de treino para centenas de pilotos em vários países europeus, segundo vários analistas, começam a surgir com estrondo relatos de pilotos ucranianos que fugiram dos locais onde foram treinados para não serem enviados para a guerra.

A esta melindrosa situação, junta-se a já evidente dificuldade sentida pelas unidades de mobilização forçada criadas pelas forças ucranianas de forma a fazerem cumprir a lei de arregimentação obrigatória, com ataques sucessivos às suas viaturas, como o demonstram centenas de vídeos divulgados nas redes sociais.

Ao mesmo tempo, nas fronteiras da Hungria e Roménia, há cada vez mais jovens que deixam ilegalmente a Ucrânia de forma a fugir às trincheiras, sendo que muito são detidos antes de chegarem aos países vizinhos.

Em Kiev, não apenas sobre esta fuga de pilotos e de jovens para evitarem ir parar à linha da frente, mas também sobre a bem sucedida incursão em Kursk, reina o silêncio, embora o aliado principal da Ucrânias, os EUA, já tenham vindo confirmar a sua execução, embora a Casa Branca tenha sublinhado que não teve dela conhecimento prévio.

A porta-voz da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, disse, no entanto, que estão a decorrer esforços para perceber quais os objectivos de Kiev com esta operação em profundidade no solo russo.

Segundo o CEMGFA russo, esta operação estará já controlada pelas forças russas locais e pelos reforços enviados para a região, além do emprego de aviação de ataque ao solo, os SY-25, fogo de artilharia de proximidade e de longo alcance, e ainda de um conjunto de misseis que atingiram as concentrações de veículos e de pessoal das forças ucranianas que entraram na Federação pela fronteira da região de Kursk.

Kiev, entretanto, parece estar a rever a sua disponibilidade para negociar a paz com a Rússia, como tem sido manifestado publicamente (ver links em baixo), até com algum empenho, pelo seu Presidente, Volodymyr Zelensky, e pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Dmitri Kuleba.

Isto fica claro depois de a embaixada de Kiev no México ter pedido ao Governo mexicano para prender Vladimir Putin aquando da eventual visita à Cidade do México do Presidente russo para a tomada de posse da Presidente Claudia Sheinbaum.

Putin foi oficialmente convidado para estar na cerimónia de posse de Sheinbaum, que será realizada a 01 de Outubro, naquilo que é um evidente sinal de que o México não alinha no isolamento ocidental de Moscovo.

O pedido ucraniano para a detenção de Putin resulta do mandato de captura internacional emitido pelo Tribunal Penal Internacional.

"Confiamos que o Governo mexicano respeitará o mandado de captura internacional" contra Putin e "entregá-lo-á ao órgão judicial das Nações Unidas em Haia", o Tribunal Penal Internacional (TPI), disse a embaixada em comunicado citado pela Lusa.