Devido às sanções ocidentais por causa da invasão da Ucrânia a 24 de Fevereiro de 2022, que incidiram fortemente nas exportações de crude e gás e no seu sistema financeiro, provocando severos danos, a Rússia foi obrigada a encontrar alternativas.
Se uma das mais eficazes alternativas foi o desvio do fluxo de petróleo e gás natural do ocidente europeu para oriente, com oleodutos e gasodutos para a China, para a Índia, o outro grande cliente, o negócio começou a derrapar com as sanções a abrangerem os "traders".
Apesar de a China e a Índia terem sido o "tubo" por onde a economia russa continuou a respirar, isso era escasso para um país envolvido numa guerra directa com a Ucrânia e indirecta com a NATO, liderada pelos Estados Unidos.
E a solução foi criar uma gigantesca frota fantasma de petroleiros e cargueiros, estes mais virados para a exportação, igualmente relevante, de produtos agrícolas e industriais, quase tudo navios em fim de vida, baratos e abundantes, de forma a contornar as sanções.
Uma das linhas de acção da Ucrânia nestes quase três anos de guerra, foi procurar desvitalizar a parte da economia russa que foi conseguindo contornar as sanções ocidentais, sendo o melhor exemplo o ataque às suas refinarias e infra-estruturas energéticas e portuárias.
Porém, havia uma frente de guerra até aqui incólume para os russos, que eram as suas frotas de petroleiros e cargueiros, que continuavam, e de certa maneira continuam, a galgar os mares com carregamentos vitais para a agora, e cada vez mais, economia de guerra da Federação Russa.
Só que, como tudo indicava, e agora as autoridades russas conformaram, os problemas que foram surgindo nestas embarcações não se tratava apenas de avarias ou colateralidades de tempestades no mar: eram, afinal, resultado de operações das secretas ucranianas.
E a prova chegou agora, no Mediterrâneo, quando o cargueiro Ursa Major, ao serviço da empresa russa Oboronloguistika, que integra o universo de empresas ligadas ao Ministério da Defesa da Federação, afundou depois de uma sucessão de explosões na casa das máquinas.
E foi a própria empresa que veio a público limpar quaisquer dúvidas: foi um acto de sabotagem que levou o Ursa Major para o fundo do Mediterrâneo a poucas milhas da costa espanhola mas em águas internacionais.
O que acabou por trazer para a tona da água novas abordagens aos problemas que ocorreram com dois petroleiros russos no Mar Negro, que afundaram quase ao mesmo tempo, pensando-se, inicialmente, que fossem consequências do mau estado dos navios que não resistiram, por isso, ao mau tempo no canal de Kersh, onde está a famosa Ponte da Crimeia.
A hipótese de sabotagem das secretas ucranianas ganhou lastro logo após os incidentes, na semana anterior ao Natal, nas redes sociais russas e nalguns bloggers de guerra pró-Moscovo, e, agora, com o caso no Mediterrâneo, o caso dos petroleiros voltou a incendiar as redes.
Isto, porque, quase ao mesmo tempo, em grande número de media ocidentais, o assunto da frota fantasma de petroleiros russos é tema em destaque, devido à importância que esta tem na eficácia com que Moscovo contorna as sanções ocidentais sobre as suas exportações de crude.
Estas embarcações são, na generalidade, compradas pela Rússia a preços baixos por se tratarem de unidades em fim de vida, mas permitindo, apesar dos riscos, o escoamento de milhões de barris da matéria-prima vital para a economia russa, escapando assim aos "castigos" ocidentais.
O outro caso agora sob suspeita ocorreu no início do mês, no Mar Báltico, com um navio de transporte russo, que ficou inoperacional devido a avaria que ficou igualmente pendurada em dúvidas.
Com estes "ataques" à linha vital marítima para os russos, o contra-ataque de Moscovo também já estava a ser investigado, e focou-se na sequência estranha e suspeita de cortes em cabos submarinos de serviço de comunicações no Mar Báltico, entre a Finlândia e a Estónia e a Finlândia e a Alemanha.
Há largos meses que os países da NATO têm emitido alertas para a passagem de navios russos que, alegadamente, sob a capa de investigação oceânica e de transporte regular escondem unidades das secretas russas de recolha de informações sobre a localização de cabos submarinos para posteriores acções de sabotagem.
E as suspeitas são agora ainda mais robustas porque, horas depois do afundamento do Ursula Major no Mediterrâneo ocidental, mais um cabo submarino entre a Finlândia e a Estónia, este de transporte de electricidade, foi cortado no fundo do Mar Báltico.
Apesar de não haver provas sobre a actuação das secretas ucranianas ou ocidentais nos "ataques" aos navios russos, ou sequer da actuação russa nos danos provocados nos cabos submarinos no Báltico, alguns analistas admitem que um e outro lado estão a dar sinais do que pode vir a ser uma verdadeira guerra na sombra se as situações de parada e resposta deste tipo continuarem.
Isto, porque os navios russos em alto mar são, claramente, vulneráveis a eventuais acções de sabotagem e os milhares de cabos submarinos que mantém todo o ocidente conectado, são igualmente aquilo a que se chama patos sentados à espera do caçador...
Nos media ocidentais, ao longo de 2024, surgirem, repetidamente, notícias sobre a navegação de navios russos não listados nas sanções norte-americanas e europeias, como, por exemplo, os de investigação ou de transporte de matérias não sancionadas, incluindo para portos europeus alegadamente com a dupla missão de mapear os fundos do mar em busca de cabos submarinos.
E alguns destes cabos são de uma importância única porque deles depende o modo de vida e mundo tal como o conhecemos... isto é, se forem destruídos, ou seriamente danificados, daí surgiria seguramente um gigantesco apagão planetário nas comunicações de todo o tipo.
Onde estão os norte-coreanos?
Outra crescente dúvida é na muito noticiada presença em solo russo de milhares de soldados norte-coreanos a combater lado a lado com os russos na região de Kursk, que foi invadida pela Ucrânia em Agosto deste ano.
As notícias das presença de militares da Coreia do Norte em Kursk surgiram inicialmente em Outubro deste ano, através da intelligentsia sul-coreana, com a mediação das secretas ucranianas, mas, até hoje, 26 de Dezembro, nem um vídeo ou fotografia de norte-coreanos na Rússia foi divulgada por esses mesmos media.
O Presidente Volodymyr Zelensky tem usado a questão da presença militar norte-coreana na guerra para reforçar os pedidos veementes do envio de forças da NATO para a linha da frente, e para a entrada da Ucrânia na NATO.
Mas, como tem questionado o major-general Agostinho Costa, nos media portugueses, está toda a gente à espera que os ucranianos e os media ocidentais mostrem "um único que seja soldado da Coreia do Norte", morto em combate, detido, filmado nas trincheiras...
Porque, até agora, o melhor que Kiev conseguiu foi um vídeo feito a uma distância que não permite sequer descortinar onde foi feito e muito menos perceber que soldados são, sendo apenas suportado pelas palavras dos ucranianos.
Mas, agora, quando começam a surgir indícios, para já apenas sugeridos pelos media pró-russos e igualmente sem provas concretas, de que se tratou de uma manobra sul-coreana para justificar o eventual envio de material e unidades militares para a Ucrânia, eis que a CNN Internacional avança com uma tese macabra que procura justificar a falta das evidências dos norte-coreanos a combater com os russos.
Segundo a CNN Internacional, os russos estão a queimar a cara dos militares norte-coreanos que morrem a combater em Kursk de forma a que estes não possam ser relacionados com a Coreia do Norte e encobrir a sua presença no contexto do conflito no leste europeu.
Além disso, os soldados norte-coreanos, ainda segundo o canal norte-americano, que é um dos, a par do New York Times, Wall Street Journal e Financial Times, mais acerrimamente pró-Kiev, receberam documentos falsos da Federação Russa para, caso fossem capturados, ou encontrados mortos pelos ucranianos, serem ligados a Moscovo e não a Pyongyang.
Segundo a CNN Internacional, citada pela sua congénere portuguesa, a CNN Portugal, as forças de operações especiais da Ucrânia dizem ter matado três soldados norte-coreanos na região de Kursk, no oeste da Rússia, e apreenderam os seus documentos.
Em comunicado, ainda segundo a CNN portuguesa, o exército ucraniano refere que os documentos "não têm todos os carimbos e fotos, os nomes patronímicos são dados à maneira russa e o local de nascimento é assinado como República de Tuva", uma região russa no sul da Sibéria, na fronteira com a Mongólia, mas as assinaturas nos documentos estão em coreano, o que "indica a verdadeira origem desses soldados", acrescenta-se no comunicado.
No entanto, esta notícia tem fragilidades que dificilmente passariam à margem da inteligência russa se o objectivo fosse esse, como apontam alguns analistas.
Bastaria que os soldados norte-coreanos recebessem documentos dos territórios russos na fronteira com a Coreia do Norte, na área de Khasan, porque a etnia é a mesma, bastando acrescentar assinaturas feitas por russos e não pelos norte-coreanos.
Todavia, segundo a CNN Internacional, citada pela sua extensão portuguesa, a partir de um comunicado ucraniano, "este caso confirma mais uma vez que a Rússia está a recorrer a todos os meios para esconder as suas perdas no campo de batalha e ocultar a presença estrangeira".
Recorde-se que, segundo as diversas fontes, a Coreia do Norte, por troca com alimentos e tecnologia espacial e nuclear, estará a enviar, além das milhões de munições e misseis balísticos, entre 3 mil e 12 mil soldados para combater ao lado dos russos.
Porém, ainda segundo o major-general Agostinho Costa, a presença de militares norte-coreanos na Rússia, sendo possível, é muito duvidosa, porque não faria sentido o envio de tão poucos militares quando a Rússia não precisa deles.
Basta, para perceber isso, ter em conta que são os próprios ucranianos que confirmam que a Rússia não tem falta de voluntariado para assinar contratos com as forças armadas e só na região de Kherson, Moscovo tem, ainda segundo Kiev, mais de 120 mil soldados prontos para uma ofensiva de grande envergadura.
Apesar deste cenário, de difícil justificação para a presença de tropa de Pyongyang na Rússia, além de não haver ainda quaisquer provas, a CNN avança, citando um alto funcionário norte-americano, que a Coreia do Norte registou "várias centenas" de vítimas, entre mortos e feridos, em Kursk, desde Outubro.
E o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, veio acrescentar que a Rússia está a esconder as perdas de tropas norte-coreanas no campo de batalha, recorrendo a tácticas extremas para disfarçar a identidade dos soldados norte-coreanos mortos.
"Os russos estão a tentar literalmente queimar os rostos dos soldados norte-coreanos mortos em combate", acusou Zelensky, numa publicação na rede social X a 17 de Dezembro, ainda citado pela CNN.
Sondagem em sete países europeus mostra apoio a Kiev a desmoronar
Uma sondagem do gigante britânico das sondagens, a YouGov, com sede em Londres, divulgada esta quinta-feira, 26, por The Guardian, mostra que nos sete países europeus mais relevantes no apoio militar e financeiro à Ucrânia, o apoio popular à ideia de manter esse apoio até à vitória de Kiev está a desaparecer.
Segundo este estudo da britânica YouGov, que tem sido um dos pilares da estratégia de continuação do suporte europeu à Ucrânia, no Reino Unido, na Alemanha, em Espanha, na Suécia, na Dinamarca, em Itália e na França, o apoio popular está a decrescer de forma nítida.
Este apoio está a diluir num momento, segundo The Guardian, crucial para Kiev visto que se aproxima o dia em que Donald Trump, a 20 de Janeiro, vai regressar à Casa Branca, o que tratará uma mudança relevante no empenho norte-americano para ajudar Kiev.
O apoio das populações destes sete países para manter o suporte a Kiev "até à vitória final" está a cair há 12 meses e, pelo contrário, cresce notoriamente o apoio a uma solução negociada, mesmo que isso permita à Rússia ficar em definitivo com parte dos territórios ucranianos, está a ganhar peso.
Essa solução negociada para o fim do conflito é mesmo maioritário em quatro destes países e mostra um forte declínio nos restantes três.
Segundo o estudo da YouGov, que, devido ao seu envolvimento notório na linha de apoio a Kiev, permite criar a ideia de que os números possam mesmo ser ainda mais severos para os ucranianos.
Mas, de acordo com os números agora divulgados, a Suécia é o país com mais apoio para manter o fluxo até à derrota dos russos, 50%, seguindo-se a Dinamarca (40%), o Reino Unido (36%), contrastando, ainda assim, com 57%, 51% e 50%, respectivamente, há apenas 12 meses.
Em sentido contrário, o apoio a uma solução negociada, tem agora o apoio de 55% dos italianos, mais 10% que há um ano, quando era de apenas 45%, é de 46% em Espanha, quando era 38%, passou de 35% para 43% em França no mesmo período e de 38% para 45 por cento na Alemanha.
O estudo da YouGov, que é uma péssima notícia para Volodymyr Zelensky e o seu regime quando, na frente de batalha, as suas forças estão em pré-colapso, e onde os avanços russos são mais vigorosos dia após dia, mas não aponta uma justificação nítida.
O que pode ser uma lufada de ar fresco para Zelensky, visto que se se tratar de um cansaço da guerra, um acontecimento inesperado poderá virar esse sentimento, mas se se tratar de uma reacção à constatação das fragilidades ucranianas, esse volte-face para este cenário pessimista, poderá ser menos evidente.
O relatório desta mega sondagem coloca ainda, no que é um dado que pode servir para uma hipotética mudança no perfil europeu da forma como se olha para esta guerra, a chegada de Trump e a ameaça de abandono de Washington de Kiev, como justificação para este sentimento negativo entre os maiores aliados da Ucrânia da Europa ocidental.
Ou seja: se Donald Trump chegar ao poder e não confirmar esse abandono do apoio norte-americano imediato a Kiev, como uma Fénix, essa mudança de atitude pode emergir das cinzas...
Mas, para já, os números são estes: 62% dos alemães acreditam que Trump vai abandonar Kiev, 60% dos espanhóis, 56% dos britânicos, 52% dos franceses e em Itália essa expectativa é de 48 por cento.
Mas há um dado que emerge deste estudo: é que se os dados económicos das grandes potências europeias, como a Alemanha, a Itália e a França continuarem a encolher, e com uma crescente consciência de que esse encolhimento resulta das sanções à Rússia e do corte do acesso ao gás e crude baratos de Moscovo, então este sentimento contra Kiev pode crescer exponencialmente.
Isto, com a Alemanha e a França a atravessarem um dos seus piores momentos económicos, pior até que nas crises de 2008 e da Covid, esse efeito bola de neve chegará aos restantes países, e facilmente poderá crescer uma reacção não apenas popular contra o apoio à Ucrânia mas também, como já se nota, naos resultados eleitorais dos partidos que se opõem a esse mesmo apoio, especialmente os da extrema-direita xenófoba e racista...