João Lourenço co-preside com o primeiro-ministro Shigeru Ishiba, à Conferência Internacional de Tóquio sobre o Desenvolvimento de África (TICAD9) que começou esta quarta-feira, 20, em Yokoshima, na qual estarão dezenas de elementos da ONU, Banco Mundial e da União Africana (UA) e Chefes de Estado e de Governo africanos, e que anualmente desperta forte curiosidade sobre a mudança desejada na direcção dos investimentos nipónicos no continente das mera extracção para a transformação in loco.

E foi na sua primeira intervenção que João Lourenço aproveitou para verbalizar aquilo que é o tema mais comum em todas as capitais africanas quando se trata de discutir o desenvolvimento em África, continente que, com poucas excepções, é e foi sujeito ao longo de décadas à condição de fornecedor de matérias-primas para o mundo industrializado do Hemisfério Norte.

O também actual líder da UA pediu ao Governo japonês que olhe para África com renovado olhar, iniciando a transição do investimento na exploração de recursos naturais para uma firme aposta na industrialização do continente africano "no quadro de uma cooperação mais sólida em áreas estratégicas".

A partir de Yokoshima, onde decorre esta TICAD9, o Presidente angolano recordou, como se pode recuperar no discurso integral divulgado na página da Presidência angolana, que há um ano, em Tunes, na Tunísia, o Japão comprometeu-se, nesta mesma iniciativa anual, a investir 30 mil milhões USD em financiamentos público-privados em diversas áreas, mas nem tudo é um mar de rosas na forma como África surge entre as prioridades nipónicas globais.

E isso fica claro quando Lourenço lembrou que o Japão é responsável por apenas 0,5% do aumento do investimento externo global em África num total que abrange 75% apenas em 2024, estando, todavia, o Presidente da UA convicto de que esse valor está muito aquém do potencial.

"Este valor não reflete a real capacidade do Japão neste domínio, nem as potencialidades africanas para absorver capitais e transformá-los em resultados lucrativos", lembrou João Lourenço, acrescentando que 60% das empresas japonesas com presença em África "registaram sucesso e expansão das suas operações".

O que demonstra que o continente africano deve "intensificar o diálogo" com Tóquio para procurar fazer crescer o investimento nipónico em África até aquilo que é o limiar do seu potencial, utilizando para isso "as experiências positivas das empresas nipónicas já presentes em África".

"Por isso, considero imperativo que se intensifique o diálogo, aproveitando a história de sucesso das empresas japonesas já presentes em África, como testemunhos poderosos para encorajar mais empresas nipónicas a passarem da hesitação à acção empreendedora no continente africano, onde existem várias áreas promissoras", sublinhou.

E, indo directamente ao assunto que o levou a Tóquio a representar o continente na qualidade de Presidente da UA, João Lourenço disse: "Estamos aqui numa actividade que tem a ver com negócios e é disso que temos e devemos falar".

E foi a isso que se dedicou a partir deste momento do seu discurso inicial, defendendo que as partes devem ter em perspetiva "procurar gerar dinâmicas que impulsionem as trocas comerciais, os investimentos do Japão em África e dos países africanos no Japão".

Retomando o sucesso das empresas desta potência económica asiática, Lourenço sublinhou que esse "serve como uma prova convincente da viabilidade de África como um mercado em crescimento".

"A disparidade entre o aumento geral do Investimento Directo Estrangeiro em África e a quota do Japão, em contraste com o sucesso e os planos de expansão das empresas japonesas já presentes no continente, sugere uma lacuna entre a percepção e a realidade", advertiu.

Isto, no mesmo ensejo com que convidou as empresas japonesas a "passarem da hesitação à acção empreendedora no continente africano", garantindo que nele existem existem várias áreas promissoras para a co-criação e o crescimento mútuo entre o Japão e África, destacando os sectores dos recursos minerais, da energia, da indústria naval e automobilística, o dos comboios e veículos eléctricos...

E aproveitou para deixar mais um recado de natureza claramente política: "É verdade que o vosso país tem um historial muito grande de importação de minérios importantes de África para a vossa indústria e, neste domínio, gostaríamos de vos encorajar a passar de uma visão meramente extractivista da relação com a África, para outra que previsse o processamento destas matérias-primas, pelo menos algumas das suas fases, lá mesmo, contribuindo desta forma para a industrialização do continente".

Para garantir segurança nessa nova vaga de investimentos dirigidos para a industrialização de África, João Lourenço recordou aos presentes que o continente tem em curso a sua própria visão sobre o desenvolvimento que pretende.

Visão essa que "está reflectida na Agenda 2063 da União Africana, e que implicará um esforço a ser concretizado em algumas décadas", ao longo das quais se pretende caminhar lado a lado, num quadro de interesses mútuos, com os grandes parceiros internacionais, particularmente o Japão.

"Temos perante nós um vasto campo de oportunidades que podem ser concretizadas com iniciativas relevantes no âmbito da Zona de Comércio Livre Continental Africana, onde se abrem ilimitadas perspectivas de negócios, em que gostaríamos de ver o Japão directamente envolvido, no sentido de ajudar a melhorar os resultados e os impactos sobre a melhoria das condições de vida das populações africanas", notou.