Naturalmente, e em primeiro lugar, é importante compreender que as greves surgem como uma forma de luta dos trabalhadores por melhores condições laborais, salários justos, falta, ou quebra de direitos garantidos, ou precarização do trabalho. Quando essas reivindicações não são atendidas ou negligenciadas pelos Governos e empregadores, a sociedade, como um todo, sofre. A paralisação de sectores essenciais, como transporte, saúde e educação, impacta directamente a rotina da população, gerando prejuízos económicos e sociais. Além disso, a crise financeira pode agravar o clima de insatisfação, levando a uma escalada de protestos e, por vezes, ao vandalismo, que muitas vezes são manifestações extremadas de frustração, que podem estar relacionadas ao desemprego, à crise económica ou à sensação de injustiça social. Em ambos os casos, os impactos para a sociedade civil são profundos: a interrupção de serviços essenciais, prejuízos económicos, desestabilização de comunidades e, muitas vezes, o aumento do clima de insegurança.
A repressão policial, por sua vez, é uma ferramenta frequentemente utilizada para conter esses movimentos. Entretanto, sua aplicação deve ser feita com extremo cuidado, pois o uso excessivo ou arbitrário da força pode agravar ainda mais o conflito, alimentando um ciclo de violência e desconfiança entre o Estado (Governo) e a sociedade. Uma abordagem autoritária pode suprimir manifestações legítimas, criando um ambiente de repressão que fragiliza as instituições democráticas. É imprescindível que as forças de segurança actuem de forma proporcional, buscando diálogos e soluções pacíficas, promovendo a mediação entre os interesses dos manifestantes e os objectivos do Governo, sob pena destas duas instituições poderem cair no descrédito.
Para prevenir esses conflitos sociais, os Governos precisam adoptar estratégias que vão além da repressão. Investir em diálogo aberto, programas de inclusão social e políticas económicas que promovam o crescimento sustentável são passos essenciais. A transparência na gestão pública, o combate à corrupção e a garantia de direitos básicos contribuem para reduzir as causas que levam às manifestações extremadas. Além disso, é crucial que as autoridades estejam atentas às demandas sociais, procurando soluções que atendam às necessidades da população de forma equilibrada e justa, investindo em políticas de inclusão social, melhoria das condições de trabalho, equilíbrio nas relações Governo-população e redução das desigualdades económicas, o que, certamente, contribuirá para diminuir as raízes do conflito.
Outro aspecto importante e que, não poucas vezes, há quem a olvide, prende-se com a educação e a conscientização da sociedade civil. Quanto mais informada e engajada a população estiver, menor será a propensão a acções extremadas e destrutivas. Uma promoção efectiva em debates públicos, no fortalecer de instituições democráticas e no incentivo à participação cidadã torna-se forma de construir uma sociedade mais resiliente e capaz de lidar com as crises de forma pacífica e mais cordata.
Em suma, as greves e vandalismos são manifestações de uma sociedade que clama por mudanças e por justiça. Os Governos têm o papel de ouvir esses clamores, agir com responsabilidade e implementar políticas que previnam a explosão de conflitos sociais. Reprimir sem diálogo e sem buscar soluções de fundo apenas aprofundam a crise, enquanto a prevenção, o diálogo e a inclusão criam as condições para uma sociedade mais justa, estável e democrática. É preciso, assim, que as acções governamentais sejam pautadas pelo equilíbrio entre força e compreensão, sempre visando o fortalecimento do tecido social e a promoção do bem comum.
O problema é que muitos Governos e dirigentes políticos e administrativos andam cegos, surdos, mudos e, ou, passeiam-se...
*Pós-Doutorado; Investigador do Centro de Estudos Internacionais do ISCTE-IUL (CEI-IUL), Investigador-Sénior Associado do Centro de Estudos para o Desenvolvimento Económico e Social de África (CEDESA/Angola Research Network) e Investigador-Associado do CINAMIL (Academia Militar de Lisboa)**
** Todos os textos por mim escritos só me responsabilizam a mim e não às entidades a que estou agregado.