O cenário mais perigoso é os soldados da Coreia do Norte enviados para a Rússia, ao abrigo de um acordo de segurança assinado entre Moscovo e Pyongyang, serem colocados na frente de batalha na Ucrânia, porque isso seria avançar um patamar na internacionalização do conflito.
O segundo cenário mais perigoso é os militares de Kim Jong-un, o Presidente norte-coreano, seguirem para a Rússia e acabarem a combater as forças ucranianas que entraram em Agosto na região de Kursk, o que afastaria, para já, e se ficarem por aí, o risco de internacionalização.
O terceiro cenário mais arriscado é as tropas norte-coreanas serem diluídas nas forças russas como contingente oriundo do extremo oriente russo, da região fronteiriça com a Coreia do Norte, que dificilmente seria provado tratar-se de tropa estrangeira devido à mesma origem genética podendo mesmo, embora mais difícil, partilhar a língua.
Há ainda a possibilidade de os soldados das forças coreanas serem colocados na retaguarda para garantir as linhas de logística ou como operadores dos sistemas de armas que a Coreia do Norte, provadamente, está a enviar para o seu aliado russo há longos meses, incluindo misseis balísticos de médio alcance.
Mas, seja qual for o cenário, o que realmente vai contar é a forma como em Kiev o Presidente Volodymyr Zelensky e a sua máquina de propaganda vão aproveitar esta demonstração de fragilidade que é a Federação Russa precisar dos soldados coreanos para alimentar o seu esforço de guerra.
Para já, em Kiev está a ser feito um esforço para colar esta entrada da Coreia do Norte na guerra como uma nova oportunidade para convencer os aliados ocidentais da Ucrânia a também adensarem a sua participação no conflito.
Zelensky está há cerca de mês e meio a tentar vender o seu "plano de vitória" aos aliados norte-americanos e europeus, que, como se ficou a saber na semana passada, consiste, no fundamental, em forçar a entrada imediata na NATO e receber mais e mais sofisticadas armas ocidentais para atacar alvos na profundidade do território russo.
Uma e outra possibilidade, ou as duas ao mesmo tempo, a concretizarem-se, seria pressionar o botão "on" da III Guerra Mundial e dar um passo em frente no perigoso caminho rumo a um catastrófico conflito nuclear entre os EUA e a Federação Russa.
No entanto, como defende o analista militar e antigo membro da intelligentsia suíça e elemento de ligação de Genebra com a NATO, coronel Jacques Baud, face ao iminente colapso da capacidade militar na frente de combate, o Presidente ucraniano está disponível a arriscar esse caminho suicida que seria envolver as forças ocidentais na guerra.
E a notícia, para já negada por Moscovo e por Pyongyang, do envio de militares norte-coreanos para a Rússia, está a ser claramente cavalgada por Zelensky como derradeira oportunidade para convencer Washington, Londres ou Paris a saltarem com ele para o abismo da III Guerra Mundial.
Jacques Baud crê mesmo que esta inflamada nota sobre a entrada da Coreia do Norte na guerra está a ser usada pelos ucranianos para manipular os media e os políticos ocidentais numa pressão sobre os governos da NATO para darem o passo mais perigoso.
No entanto, fora dos media, esta notícia está a ser recebida com cuidados evidentes, não sendo confirmada oficialmente por países da NATO, ou a própria NATO, e até o secretário da Defesa dos EUA, Lloyd Austin, veio a público dizer que não tinha essa confirmação, deixando perceber uma consciência clara do que está em risco e de que as informações sul-coreanas podem ser falsas.
A informação sobre o envio de forças norte-coreanas para a Rússia saiu da Coreia do Sul, através de um vídeo que, segundo Seul, mostra militares de Pyongyang a vestir fardas russas, embora sem uma confirmação independente desta afirmação sul-coreana.
A motivação da Coreia do Sul era criar embaraços aos vizinhos do Norte, com que estão a erguer uma situação muito séria de pré-guerra, o que levou Kim Jong-un a declarar oficialmente a Coreia do Sul como país hostil.
Isto, depois de terem sido, com forte impacto, destruídas as estradas que ligam a Coreia do Norte à Coreia do Sul, em mais um passo para o risco de retoma da guerra na Península Coreana.
Os dois países permanecem em modo de guerra em suspensão desde 1953, quando as hostilidades foram congeladas através de um armistício sem que tenha sido seguido da assinatura de um acordo de paz.
Assim que Seul divulgou o vídeo, Zelensky, em claro sufoco depois do insucesso que foi a apresentação do "plano de vitória aos aliados", rapidamente cavalgou o assunto, usando-o para tentar convencer norte-americanos e europeus a fazerem o mesmo, entrando directamente na guerra com a Rússia. Também nisso parece não estar a ser bem-sucedido.
"Cuidado, eu sou totalmente doido", avisa Trump
O antigo Presidente dos Estados Unidos e de novo na corrida para regressar à Casa Branca, deu uma entrevista a The Wall Street Journal, onde, surpreendentemente, garante que se fosse Presidente em 2022 a Rússia não teria invadido a Ucrânia porque ameaçou Vladimir Putin com "um ataque directo sobre Moscovo".
Isto, mesma entrevista onde explica que a China, com ele na Casa Branca, nunca invadirá Taiwan porque o Presidente Xi Jinping sabe que ele é "totalmente doido" e que, por isso, tem o respeito do seu homólogo chinês.
Mudando a agulha para a Ucrânia, Donald Trump disse que se aplica a mesma regra, demonstrando-o ao afirmar que antes de sair da Presidência, em 2020, avisou Putin que "atacaria Moscovo com tanta forma e de forma tão surpreendente" que ele não iria acreditar no que estava a acontecer se invadisse a Ucrânia.
Voltou a sublinhar que tem boas relações com o chefe do Kremlin, de quem se diz "muito amigo", mas que é através da demonstração de força que vai acabar com a guerra em 24 horas, como tem afirmado.
Porém, no relato recente, em livro, do jornalista Bob Woodward, Prémio Pulitzer, é dito que Trump e Putin têm falado de forma recorrente ao telefone, pelo menos sete vezes desde que saiu da Casa Branca em Janeiro de 2021, cerca de um ano antes da invasão russa.
Nessa altura já tinha passado um longo período de guerra no Donbass, onde as forças de Kiev mataram mais de 14 mil pessoas porque em Lugansk e Donetsk não alinharam no golpe de Estado de 2014, organizado por norte-americanos e europeus, que destronou o Presidente pro-russo Viktor Yanukovych.
E já se adivinhava que a Rússia acabasse por avançar sobreva fronteira ucraniana para defender as populações russófilas e russófonas do leste ucraniano.
Com estas declarações, Donald Trump volta a dar um sinal de que os EUA não vão, sob seu comando, manter o apoio a Kiev, especialmente depois de ter voltado a enxovalhar Zelensky ao chamá-lo de "melhor vendedor de sempre" porque, de cada vez que vai a Washington, sai de lá com milhares de milhões de dólares no bolso.
Pouco ou nada se sabe sobre o plano de Trump para acabar com a guerra em 24 horas, mas, face ao empate técnico nas sondagens nos EUA, e com as eleições a 05 de Novembro, pouco mais de duas semanas, o Presidente Zelensky sabe que já lhe resta pouco para conseguir o perigoso envolvimento da NATO na guerra, que é a única forma de poder ganhá-la.
E nem uma vitória da candidata democrata, Kamala Harris, a actual vice-Presidente, garante a Zelensky um alento especial, porque esta se mostra claramente menos adepta de um apoio prolongado a Kiev por parte de Washington que o actual Presidente Joe Biden, em fim de mandato.
Sabe-se apenas que uma Administração Biden vai optar por falar com ambos os lados, Moscovo e Kiev, forçando um pacto para congelar as hostilidades e, depois, passar a batata quente para a União Europeia, sendo que a entrada da Ucrânia na NATO é carta fora do baralho.