O actual Presidente senegalês, Macky Sall, chegou ao poder em 2012, depois de ter passado largos anos em postos proeminentes do Estado senegalês, desde Presidente da Assembleia Nacional a primeiro-ministro, mas foi agora, a meio do seu segundo mandato como Chefe de Estado, que esta bomba lhe explode nas mãos, gerada, em grande medida, por causa de uma grave crise económica, elevado desemprego e suspeitas abrangentes de corrupção no aparelho de Estado que se arrastam praticamente desde que assumiu o cargo.

Com a detenção de Sonko - libertado, entretanto, mas sujeito a medidas restritivas - que os seus apoiantes, e muita da imprensa local confirma, que é suspeita de ter outras intenções, como, por exemplo, impedir o seu percurso político que o levará, se não for travado, a uma forte candidatura Presidencial em 2024, Sall tem agora em mãos uma séria crise social que se junta à já severa crise económica.

Estes são já, de longe, os piores tumultos no Senegal deste século, com muitos milhares de jovens a irromper pelas ruas de Dacar, espalhando depois a sua contestação à outras cidades do país, reagindo à veemente negação das acusações a que Sonko está sujeito, tendo já afirmado que a empregada de cabeleireiro que o acusa de abuso sexual está a mentir.

Os seus apoiantes não têm dúvidas de que se trata de mais uma tentativa de o afastar da linha da frente do combate eleitoral ao Governo de Macky Sall, talbém ele um jovem, o primeiro Chefe de Estado já nascido depois da independência.

Nos confrontos que ocorreram entre os milhares de apoiantes de Sonko e a polícia, pelo menos oito pessoas morreram, tendo os analistas apontado como razões principais para esta fúria popular o elevado desemprego e as fortes suspeitas de corrupção que têm marcado a governação de Sall, num país conhecido pela sua estabilidade política e uma das mais consolidadas democracias do continente.

Recorde-se que este episódio pode afastar, de forma irremediável, Ousmane Sonko de uma candidatura em 2024 - os mandatos são de sete anos -, tal como sucedeu no passado com outros dois fortes candidatos eleitorais, afastados com expedientes semelhantes das eleições de 2019.

Sonko é conhecido no Senegal pela sua forte crítica ao sistema "corrupto" criado por Sall, tendo, em 2015, saltado para a ribalta ao apresentar publicamente documentos comprometedores para e sobre o partido do actual Presidente, a Aliança para a República.

Depois de dias de protestos, as principais ruas de Dacar foram fechadas com tanques de guerra, naquilo que os analistas apontam como um demonstração de força de Macky Sall para travar a força da contestação popular de que está a ser alvo.

Para já, organismos internacionais denunciam detenções arbitrárias e uso excessivo de força por parte das forças de segurança senegalesas.

Peante as imagens que estão a correr o mundo, semelhantes a cenários de guerrilha urbana, com barricadas montadas e pilhas de objectos urbanos a arder nas ruas da capital, o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, também se pronunciou sobre a violência no Senegal, dizendo-se "muito preocupado" e lançando um forte apelo para que se evite uma escalada da violência no Senegal, o que pode coloca em causa um dos mais estáveis países da África Ocidental.