Seis anos pela frente que dificilmente mudarão as terríveis condições sociais e económicas em que este país vive há mais de uma década, com uma profunda crise que resulta da sua quase total dependência do petróleo e minado pela corrupção que domina todo o aparelho do Estado.

Com pouco mais de 80% dos votos contados, e depois de largas horas de atraso na divulgação dos resultados da ida às urnas que teve lugar este Domingo, 28, finalmente a comissão eleitoral, dominada pelo regime, que tem à cabeça o Partido Socialista da Venezuela de Nicolás Maduro, anunciou o resultado: 51,3 % contra 44,2%.

Com milhões de pobres e quase 10 milhões de pessoas, dos pouco mais de 30 milhões que o habitam, que deixaram o país nos últimos anos devido à crise, segundo alguns analistas, esta vitória é resultado do domínio do Estado de toda a sociedade Venezuela, o medo de uma guerra civil, mas também uma reacção popular às sucessivas intromissões externas de europeus e norte-americanos para tentarem mudar a cara do regime na última década (ver links em baixo nesta página).

Com as maiores reservas de crude do mundo, calculadas em 300 mil milhões de barris, mas com a infra-estrutura deste sector em colapso, devido às sanções ocidentais, o país ficou sem recursos para fazer face às despesas colossais devido à quase total dependência do petróleo ao longo de décadas.

Com a pobreza internamente a crescer de forma evidente, e com os milhões de venezuelanos no exterior a formar uma gigantesca frente anti-Maduro, ao que se junta uma clara preferência do ocidente pela oposição, dificilmente se perceberá na Europa e nos EUA como pode Maduro ter ganho estas eleições sem recurso à fraude.

Mas o regime iniciado por Hugo Chaves em 1999 está profundamente, para o bem e para o mal, impregnado no tecido social venezuelano e, através de uma rede de controlo social robusta, seja pelo medo, seja pela solidariedade assente numa ideologia marxista, que permite apontar o dedo aos inimigos ocidentais para a pobreza que o país vive, muito semelhante à retórica usada em Cuba, a desconfiança popular é igualmente forte para com a oposição e os interesses que esta representa.

A oposição, e vários governos da região, e, pelo meio, com as esperadas suspeitas levantadas na imprensa ocidental sobre a legalidade do acto eleitoral, denunciaram a lisura da contagem de votos que determinaram, oficialmente, a derrota de Gonzales Urrutia.

O líder da oposição refutou os resultados, acusou o regime de fraude eleitoral e exigiu que as actas da votação sejam tornadas públicas.

A esta posição, NIcolás Maduro reagiu já, nas primeiras declarações após a oficialização da sua vitória, esperada entre os seus apoiantes, fora e dentro do país, que vai defender a democracia venezuelana custe o que custar.

"Eu sou NIcolás Maduro Moros, o Presidente reeleito, e vou defender a nossa democracia, a lei e o povo custe o que custar", enfatizou, antes de dedicar a vitória a Hugo Chaves, o revolucionário bolivariano que iniciou o actual regime em 1999 e morreu em 2013, aos 58 anos.

Ao mesmo tempo que na Europa Ocidental e na América do Norte a reacção foi negativa a esta renovada vitória de Maduro, colocando dúvidas sobre a lisura do processo eleitoral, com o líder da diplomacia da União Europeia, Joseph Borrell a pedir que sejam divulgadas as actas eleitorais.

Enquanto isso, nalguns países da região, como Cuba ou na Bolívia, ou fora dela, como em Pequim, a reeleição do líder Venezuelano foi recebida com naturalidade, tendo mesmo o cubano Miguel Diaz-Canel afirmado que foi uma "demonstração da coragem do povo venezuelano".