Justiça atrasada não é justiça, senão injustiça qualificada e manifesta. Ruy Barbosa, em oração aos moços.
Tem se dito que a justiça tarda, mas não falha. Ou que a justiça é lenta, mas que é sempre feita! Essas dicas causam alergia aos lesados do caso jefran, por causa de tanto baile, tanta morosidade, começam a perder a crença nos órgãos que deviam defender o correcto e fazer valer a legislação em vigor em Angola para que a justiça exista!
Boa parte das mais de 500 famílias envolvidas na trama do sonho da casa própria que se transformou em pesadelo completam agora, em 2025, 10 anos de sofrimento, numa espera por solução legal, cada vez mais tortuosa e com sabor a fel intragável.
Há quem esteja a mais tempo, e que já nem saiba o que fazer, nem que portas bater para que tenha a sua situação resolvida.
O desespero faz parte da vida destes pacatos cidadãos, que anos após a abertura dos processos cível e crime não conseguem ver sequer o túnel, quanto mais luz... O processo crime congelou de forma estranha, sem qualquer justificativa aceitável, mesmo após alguns lesados terem sido ouvidos, apresentarem provas de tudo o que alegaram aos oficiais do SIC e aos Representantes da PGR, mas de repente tudo parou!
Ficou o Cível, que atende pelo número 1544/20-E, 3.ª Secção da Sala do Cível e Administrativo do Tribunal de Comarca de Luanda, que tem sido arrastado em passo de lesma bebé que está a aprender a engonhar. Durante esse tempo, assistiu-se a muita coisa, como o incumprimento de acordos extras judiciais por parte da parte acusada, mesmo dando garantias de resolução, fugiu. Houve troca de Juiz, Procurador, Advogado da parte acusada e de mais outros intervenientes-chave. Assistiu-se ainda ao agravar do estado de saúde de muitos dos cidadãos queixosos. Doenças psico-emocionais, cardíacas e outras têm feito muito mal, chegando ao ponto de causar a morte a alguns e algumas, por desgosto, depressão e desespero por causa de tamanha dor.
Lares desfeitos, famílias separadas, banca rota, dívidas que crescem mensalmente. São parte do pacote que acompanha as vítimas que acreditaram em jovens angolanos que enriqueceram com promessas de seriedade, honestidade e escrúpulos para realizar os sonhos básicos do direito a uma habitação condigna, a quem tinha e tem idade para ser mãe, pai ou avô em alguns casos. Mas, meses depois, quando a máscara caiu, descobriu-se quem eram realmente Francisco Silva, Gerson Silva, João Silva e comparsas, que exibem, até hoje, o sorriso do salalé faminto que não se sacia com facilidade e que cresce com a desgraça alheia, enquanto desfilam a gastar as centenas de milhões de Kwanzas de quem nada tem, nem já lágrimas de tanto chorar, rogar e suplicar por justiça humana ou divina!
As bocas cheias, lambuzadas de egoísmo desmedido e requintes de malvadez, desfilam com todo o luxo possível, enquanto continuam a pisar em milhares de vidas que definham. Será que eles dormem? Será que as suas famílias sabem que o pão que comem está manchado e temperado por sangue e lágrimas de muita gente boa que pouco ou nada tem? Será que é só mesmo a quentura das costas que os torna intocáveis? Já alguém perguntou em que líquido foram lavados para se alimentarem do que é alheio sem nada acontecer? Será que no fim o mal vence? Será que a ilegalidade e o errado compensam?
Questiona-se igualmente: O que esse grupo dá em troca de protecção? E a quem dá?
O maior receio dos lesados é que amanhã os seus netos, que já sabem ler e fazer contas, olhem para o País que os viu nascer e pensem, como escreveu Olavo Príncipe, que a justiça não só tarda, mas também falha, e decidam fazer justiça por mãos próprias.
Já se cogita que os madiés da jefran, xicoblss tenham cangado a deusa da justiça distraída, a tenham amordaçado com a venda, ngombelado a moça, desarmado a espada com a qual chinaram os clientes, inclinaram a balança a seu gosto, e, como se não bastasse, drogaram-na para que não se apercebesse de nada, ao som de "estamos sempre a subir".
Os lesados do caso jefran, apesar de cabisbaixos, prometem continuar a luta, e questionam: Será que a justiça tardia falhará? Será que nesse País que devia ser de todos há quem seja intocável, tenha costas tão largas e quentes, tanto peso e kumbu, que se sinta acima de todas as leis e de todos os outros cidadãos ao ponto de ter a petulância de ousar enfrentar PGR, SIC, Tribunal, Juiz e ainda de esquebra, gaba-se de atropelar a famosa frase do Sr. Presidente da República, que ninguém é tão rico ou poderoso que não possa ser punido, ninguém é pobre demais que não possa ser protegido?
Katé+