É, portanto, preocupante que, nestes casos, a culpa geralmente morra solteira, sem que se conheçam os rostos dos autores morais e materiais. As denúncias são feitas, mas raramente resultam em consequências concretas, e a vida segue como se nada tivesse acontecido. É imperativo que se tomem medidas mais eficazes para combater esse fenómeno e proteger o nosso património natural.

O apelo mais recente para desencorajar a prática da caça furtiva veio do governador do Cuando, Lúcio Amaral. Nomeado na terceira semana de Dezembro do ano passado, o governante manteve, em Janeiro, uma reunião de concertação social com as autoridades tradicionais e entidades religiosas da sede de Mavinga, capital da província. Durante o acto, recordou que a caça furtiva é proibida em Angola e que a sua prática constitui um crime ambiental.

Lúcio Amaral instou os membros da sociedade civil do Cuando a disseminar esta mensagem, destacando os notáveis prejuízos causados pela caça furtiva, com especial ênfase para o desaparecimento do rinoceronte. A fauna desta região inclui animais como elefantes, girafas, cabras-do-mato, palanca-real, leões, búfalos e avestruzes, entre outros.

É imperativo que a sociedade civil se mobilize para proteger a rica biodiversidade do Cuando. A colaboração entre autoridades, entidades religiosas e a comunidade é essencial para combater este crime ambiental e preservar o património natural da região.

É alarmante que a prática da caça furtiva não se limite apenas a cidadãos nacionais. As autoridades relatam que estrangeiros (principalmente da Zâmbia, Namíbia e Botsuwana) também se envolvem nessa actividade ilícita. "Podemos diferenciar a caça furtiva em três modelos. O primeiro inclui grandes caçadores provenientes de outros países, cujo objectivo é obter marfim ou cornos de rinoceronte. Estes casos ocorrem com maior frequência no Bico de Angola, onde há uma elevada incidência de mortes de elefantes.

O segundo modelo é a caça furtiva destinada à venda de carne nos mercados informais, um fenómeno que se verifica em todo o País. O terceiro modelo é a caça furtiva praticada pelas comunidades locais por motivos de sobrevivência. Este último é o mais preocupante, pois, em muitas localidades, a caça constitui um meio de subsistência para as famílias", explicou um especialista sobre o assunto à comunicação social.

É essencial que se tomem medidas eficazes para combater todos os modelos de caça furtiva (com devida ponderação para os casos de subsistência das famílias), para garantir a sustentabilidade das comunidades locais. Como já referido, a colaboração entre autoridades, organizações não-governamentais e a sociedade civil é crucial para enfrentar o desafio.

No entanto, não podemos ignorar que a pobreza seja um dos factores determinantes do fomento à caça furtiva, pelo que qualquer medida de combate deve ter em conta este fenómeno sociológico. Em muitas comunidades rurais, a caça furtiva é vista como uma forma de subsistência. As famílias que vivem em extrema pobreza recorrem à caça de animais selvagens para obter carne e outros recursos que podem ser vendidos nos mercados locais. Esta prática é, muitas vezes, a única fonte de renda e alimentação para essas comunidades.

A ausência de oportunidades de emprego e de desenvolvimento económico em áreas rurais leva muitas pessoas a recorrer à caça furtiva como meio de sobrevivência. Em muitas comunidades, a falta de alternativas viáveis faz que a caça de animais selvagens seja vista como uma das poucas formas de obter renda e sustentar as famílias.

Sem alternativas viáveis, a caça furtiva torna-se uma opção atraente para ganhar dinheiro rapidamente. Esta prática, embora ilegal, oferece uma solução imediata para as necessidades financeiras urgentes, perpetuando um ciclo de dependência e exploração dos recursos naturais.

No mês passado, Janeiro, no encerramento do 3.º Encontro Nacional de Engenharia Ambiental, o secretário de Estado para o Ambiente, Iury Santos, admitiu a questão, sublinhando que o País enfrenta muitos desafios, dentre os quais, a perda da biodiversidade. "Angola enfrenta, neste momento, desafios sem precedentes, relacionados com a crise climática, perda da biodiversidade, poluição e degradação dos ecossistemas", enfatizou o governante.

Em Fevereiro de 2022, o Novo Jornal trouxe à estampa uma peça sob o título "Verba para o combate à caça furtiva reduz de 20 milhões para 7 milhões Kz". Esta notícia destacou a preocupante redução de verbas destinadas ao combate à caça furtiva, um problema sensível que afecta gravemente a biodiversidade e o equilíbrio ecológico.

Seguramente, é crítico reduzir os fundos para enfrentar um problema tão grave como a caça furtiva. Os números são alarmantes, com "cerca de 700 espécies abatidas e dissecadas para o comércio nos principais mercados", além do "abate de 925 animais de grande e pequeno porte". Cuando, Cabinda e Moxico lideram a lista de caça furtiva. Esta situação exige uma resposta urgente e eficaz para proteger a fauna e preservar o património natural do País. n

*Mestre em Linguística pela Universidade Agostinho Neto