A força da água permitiu o surgimento de imponentes obras como as hidroeléctricas de Capanda (520 MW), Laúca (2070 MW) e Cambambe (960 MW), com grande impacto socioeconómico e enorme potencial turístico. As barragens, como também são chamadas, produzem a electricidade que abastece 10 províncias por via da interligação dos sistemas norte e centro.
O rio continua a jusante levando na água turbinada cacussos, jinjinjes, bagres, mussolos, lagostins e outras espécies da rica biodiversidade que se maguelam deliciando os sorridentes banhistas que controlam o dentuço e fobado ngandu. A corrente leva à marginal do Dondo, onde as kotas alimentam os visitantes com os sabores e aromas que o rio oferece e que as brasas crepitantes temperam com o cahombo que faz tossir de alegria e com gana de bisar o mufete, menha ndungo, maxanana, jiassa, kizaca, cabidela, muamba de dendém das margens ou de ginguba, carne seca de pacaça ou de javali, enquanto provam quissangua ou maruvo fresquinho, ou birra a estalar, para os mais sedentos, a tal noiva que em tempos foi feita na zona e era a loira tropical. Hoje é história, tal qual Satec, Vinelo e outras fábricas que deram à localidade uma outra cor, esperança e permitiram algum crescimento socioeconómico. Hoje é história, fechou quase tudo!
O Dondo já foi um grande ponto de comércio, onde várias culturas se batiam encontro numa boa, antes da chegada dos tugas e mesmo depois da chegada destes. Existem vários pontos históricos de interesse, como os edifícios coloniais um pouco por toda a cidade, sendo a arborizada rua Kapacala, que vai dar ao largo onde está o coreto, a Igreja Católica e o tribunal, um exemplo, bem como o antigo mercado no centro, o cemitério velho à entrada da cidade, onde foi sepultada a poetisa Alda Lara. A descer do Alto Dondo (Alto Fina ou Eka), há uma espécie de miradouro no topo do Morro que permite ver parte da cidade, sendo o rio e as margens de Kandanji pano de fundo entre montanhas sorridentes. Ainda no morro do S está um bairro que pode ser dos mais bonitos do País se as casas forem bem feitas. Na marginal é ainda possível dar um passeio pelo rio, há uma barcaça que vai até Cambambe e a Massangano.
A nível do município de Cambambe, podemos acrescentar mais alguns locais, como a vila da Barragem de Cambambe (inaugurada há 60 anos pelo então Presidente português), a beleza arquitectónica de centena e meia de edifícios de habitação e sociais (pousada, clube, hospital, escola, etc.) que albergam mais de 800 pessoas e a famosa casa presidencial, a rica paisagem, a barragem e as centrais eléctricas, as ruínas do antigo forte e igrejas coloniais. Há sempre o quintal da tia Lebina, onde se pode pitar pratos deliciosos. Mais para frente há em Massangano vários edifícios históricos ligados à forte presença tuga, principalmente no período em que se tornou a capital do então território dominado pelos tugas quando foram corridos da costa de Luanda pelos holandeses, tendo, inclusive, encontrado muita resistência dos povos locais liderados pelos reis do Ndongo como Ngola Kiluanji e pela rainha Njinga Mbandi, que tinham nas ilhas próximas os seus locais de refúgio. Mas acabaram derrotados pelos tugas, que, mesmo perdendo Paulo Dias de Novais, morto e enterrado na zona, abriram um corredor ao tráfico de escravos além-mar que fez verter sangue e lágrimas de quem partiu, como de quem ficou a ver os seus a serem levados à força. Para repousar e recuperar energias há o sítio do Cardona que dar algo que faltava, alojamento e restauração.
Em direcção a Luanda pelo rio, é possível ver muito mais e inebriar-se nos encantos que o Kwanza permite degustar, com paisagens, cheiros e construções que se transformam.
Ainda no tal corredor, é possível ver e sentir o peso da fé que vem de outros tempos e que perdura até hoje ao ponto de existirem grandes peregrinações de fiéis católicos que aos milhares vão pelo menos uma vez ao ano à Muxima, Massangano e ao Calumbo em busca de paz, ajuda e perdão. A foz cria ecossistemas fabulásticos, como os mangais que estão a ser recuperados e protegidos.
O rio que outrora levou muitas pessoas e bens de várias bandas continua a fazer das suas como se não quisesse saber de nada, bem achado, mas que se falasse daria um ralhete aos que podem fazer dele um mambo bem melhor aproveitado em prol das comunidades ribeirinhas e pelo país, mas que preferem piscar e assobiar para o Tejo.
Será que o Kwanza não pode ser o interruptor para o turismo no corredor que concorre para ser património histórico da humanidade?
O que falta para ser feito?
Soube a pouco, umou rápido, antes do previsto e de uma forma peculiar, mas tudo o que se viveu, serviu de lição, foram muito boas aulas, algumas com lágrimas, outras com sorrisos, mas quase sempre encerrávamos a sorrir, cansados, mas satisfeitos por cumprirmos mais uma missão cumprida, era motivo de alegria, dava-nos força para brindar e dar graças por tudo. Valeu. É possível fazer turismo nas barragens e explorar o potencial existente.
Mambos da Nguimbi: Kwanza - O Corredor para o Turismo
O rio Kwanza é majestoso por tudo quanto oferece ao longo do seu percurso das terras altas e frescas do Bié às praias quentes de Luanda. Como a beleza das suas atrevidas águas que rasgam planícies, serpenteiam montes, furam rochas, enquanto descem a jingar para beijar o mar, formando belas cascatas, atraentes rápidos e outros encantos naturais. Permitem ainda que haja navegação, pesca, caça e agricultura.
